O Lobo de Wall Street, curtindo a vida adoidado
O Lobo de Wall Street é a quinta colaboração entre Martin Scorsese e Leonardo DiCaprio. O renomado diretor adapta a autobiografia do corretor da Bolsa de Nova York, Jordan Belfort, em uma impressionante comédia absurdista, que não elogia os excessos, mas se diverte bastante com a glória do milionário, testando não necessariamente os limites do bom senso, mas acima de tudo, os limites da realidade.
Há várias cenas em que o irreal assume a tela, desde o início quando o carro muda de cor sob o comando do narrador, ou quando o protagonista constata que só ele viu um avião explodir em sua frente, passando por sequências delirantes de orgias, onde Scorsese se permite criar molduras exóticas, colocando o público diante de pinturas de um bacanal renascentista, e momentos impagáveis envolvendo anões, carros e animais, em três horas de drogas, mulheres, bebidas, luxo e todo tipo de fantasia que o dinheiro pode pagar (poderia sim ter meia hora a menos).
A montagem é inspirada e enervante, mantendo o ritmo em alta do começo ao fim, ainda que o início do terceiro ato capengue um pouco, fazendo uso ainda de uma fotografia que enriquece ambientações, algumas delas propositalmente artificiais. Scorsese e o roteirista Terence Winter fazem dessa adaptação um “Se Beber, Não Case!”, trocando a ressaca gratuita pelo comentário sobre a imoralidade da vocação especulativa de Wall Street, enquanto permite ao seu elenco brilhar com luz própria.
O Lobo de Wall Street
DiCaprio, mais à vontade com as experimentações do diretor, está em um de seus melhores papéis na carreira, e sua atuação lembra os estados de transe de seus personagens em “O Aviador” e “Ilha do Medo”, dois outros filmes narrados pelo ponto de vista duvidoso dos seus protagonistas, como fluxos de consciência.
Jonah Hill consegue se encaixar como uma luva com seu humor canalha e deslocado, causando desconforto e risos nervosos a todo instante. Mais linda do que nunca, Margot Robbie vem equilibrar a balança com senso moral e dramaticidade (e curvas que não são poupadas pela lente certeira do diretor). Matthew McConaughey e Kyle Chandler fazem participações pontuais, mas significativas para o enredo, cheio de excessos sim, mas não isento de punição.
O Lobo de Wall Street, assim, me faz pensar que serviu de inspiração para reuniões de coach e, mesmo depois dos créditos, ainda continuo rindo.