As Trapaceiras – Comédia que não faz rir
Penny (Rebel Wilson) é uma trapaceira desleixada que realiza pequenos golpes. Um dia ela conhece Josephine (Anne Hathaway), uma mulher elegante, que também aplica golpes, mas dessa vez, bilionários.
Josephine concorda em ensinar algumas técnicas a Penny, mas logo as duas percebem que elas são competição uma para a outra e que só uma pode ficar na Riviera Francesa.
Penny e Josephine fazem uma aposta: a primeira que conseguir tirar US$ 500 mil de Thomas Westerburg (Alex Sharp), um jovem prodígio da tecnologia, ganha e a outra tem que deixar a cidade.
As Trapaceiras – Inovação
O filme tem uma trama relativamente comum e que já vimos diversas vezes no cinema hollywoodiano. É um típico filme de trapaceiros, a única diferença é que traz duas mulheres como protagonistas. O longa apresenta duas personagens: Penny, que não é nada refinada, aplica pequenos golpes em homens que ela conhece em aplicativos de relacionamento, e que é extremamente atrapalhada; e Josephine, elegante, fina, metódica e que aplica golpes bem mais complexos, e que, consequentemente, rendem bem mais dinheiro.
A dinâmica entre as duas funciona mais ou menos como a dinâmica de outras duplas, geralmente masculinas, que aparecem em outros filmes sobre trapaças ou golpes, como Os Vigaristas e Golpe de Mestre. Penny é divertida e faz tudo errado, como uma bufona, já Josephine faz tudo de maneira comedida e parece ser uma mestra no seu serviço.
Nesse aspecto, As Trapaceiras traz, pelo menos, um conceito inovador, que é colocar duas mulheres para fazerem os golpes e é um aspecto que faz muito sentido nos dias de hoje, quando se pede cada vez mais filmes protagonizados por mulheres, mas o filme peca em muitos aspectos.
Comédia
As Trapaceiras é um filme de comédia e certamente tem aspectos do gênero, mas não é um filme engraçado por si só. A ideia por trás do longa é muito boa, mas o roteiro não funciona bem. A dinâmica entre Penny e Josephine é interessante e funciona como uma forma de apresentar as duas e seus trabalhos para o público, uma vez que Josephine ensina Penny como ser golpista ao mesmo tempo em que explica ao telespectador sobre o oficio.
No entanto, as personalidades das duas são caricatas demais. Tudo bem que o filme é uma comédia, e que muitas comédias trabalham no estereótipo, mas nesse caso parece que as coisas não funcionam muito bem. Penny é atrapalhada demais, ainda mais se pensarmos que ela já vivia de golpes antes de conhecer Josephine, por mais que eles fossem pequenos. Durante as aulas de Josephine, Penny faz uma série de coisas erradas e em momentos parece até meio estúpida.
Já Josephine, embora tenha seus momentos divertidos, se mantém quase sempre como a mulher chique e extremamente inteligente, que consegue passar boa parte das pessoas para trás, o que fica meio perdido em um filme de comédia. Também é interessante se questionar se um filme que tem como princípio fazer uma versão feminina de um filme de golpe, e que, portanto, pela lógica, tem um ponto de vista feminista, deveria retratar suas personagens como estúpidas, frias ou estereotipadas de qualquer maneira.
Aspectos técnicos de As Trapaceiras
Esta é uma boa produção, um filme grande, com bastante recursos e nesse sentido, é muito bem feito. Os figurinos são claramente muito bem pensados. Penny, que é mais inexperiente, usa roupas mais simples, mais do dia a dia, como calça jeans e camiseta. Já Josephine, que é retratada como uma mulher extremamente refinada e que, na teoria, não levanta nenhuma suspeita, usa roupas muito mais chiques, mais refinadas, que parecem alta costura e que são, em sua maioria sempre claras.
É interessante que o filme coloque uma criminosa sempre vestida de branco, cor que geralmente está associada à pureza, mas que aqui funciona como uma forma de fazer a plateia perceber que ninguém nota quem Josephine de fato é.
O elenco conta com bons atores, Anne Hathaway e Rebel Wilson são atrizes que normalmente se saem muito bem na comédia, mas aqui parecem um pouco desperdiçadas. A questão não é nem o talento e a qualidade da interpretação, elas estão fazendo os seus papeis. É o roteiro que não funciona bem. Pelo menos Alex Sharp interpreta um personagem divertido e carismático, de quem a plateia acaba gostando.
A questão é…
O grande problema de As Trapaceiras é que ele se vende como uma comédia, mas tem poucas cenas que são de fato engraçadas. Tudo parece muito clichê e muito bufônico. Uma vez que o filme tem como ideia trazer os filmes de golpe para o universo feminino, o que é válido, seria interessante que levasse suas protagonistas mais a sério, como a versão mais recente de As Panteras, que também é uma comédia, mas fala de maneira mais autêntica sobre mulheres espiãs.
Entretanto, já que escolhe não fazer isso e prefere tomar o rumo da comédia quase pastelão, o longa deveria ser um pouco mais engraçado.
As Trapaceiras parte de uma boa ideia e sem dúvida é um avanço em termos de filmes protagonizados e voltados para o público feminino, mas comete o maior pecado que uma comédia pode cometer: não tem muita graça.