Fuga de Pretória – Impressionante e baseada em fatos
Aqui temos a adaptação do livro “Inside Out: Escape from Pretoria Central Prision” de Tim Jenkin. O filme mostra a emocionante fuga de dois homens comuns, ativistas antiApartheid, Tim Jenkin e Stephen Lee, da prisão de segurança máxima de Pretória, no período marcado como a época de maior tensão e injustiça racial vivida na África do Sul.
Mas é importante ressaltar que o foco do diretor Francis Annan está na fuga e não na política. Assim, temos Jenkin pensando as estratégias e confeccionando, testando ou escondendo as chaves de madeira de uma maneira extremamente engenhosa.
A política aqui recebe apenas um tratamento burocrático. O suficiente para o público médio compreender o contexto do cenário e o que levou a dupla à situação. Além disso, para criar empatia por seus protagonistas, homens brancos que lutam pelos direitos dos negros. Ele usa esse recorte histórico como meio de lembrar algo que jamais deve ser esquecido (para que não se repita). Além de conscientizar o espectador sobre figuras claramente fascistas. Isso que torna a obra ainda mais relevante nos dias de hoje.
Fuga de Pretória
E, certamente, sem abrir mão de seu valor de entretenimento, pois Annan brilha na tecnicidade de sua produção. Ele investe em planos-detalhe valorosos, fecha os ângulos sobre seus prisioneiros e sabe criar intensas e sufocantes sequências de verdadeiro sufoco. Afinal, os ensaios para a fuga são tão tensos quanto a fuga em si.
Entre os momentos marcantes, temos Jenkin e Lee escondidos no armário e apenas seus olhos são iluminados pela luz que invade o espaço escuro através das brechas; ou duas tentativas cruciais de testar uma chave no pequeno espaço que existe quando um guarda não está por perto e nem tudo sai como deveria. Suores escorrendo, olhares estalados. Câmera pousada sobre um chiclete grudado em um pau tentando capturar uma chave no chão. Todos esses pequenos momentos crescem na tela.
Por outro lado…
O diretor não sabe bem como trabalhar seu elenco e o único destaque acaba recaindo somente ao sempre esforçado Daniel Radcliffe mesmo. Daniel Webber e Mark Leonard Winter são bastante amadores e operam no limite. Nathan Page e Grant Piro não conseguem fugir dos estereótipos de policiais malvados. Enquanto isso, a Ian Hart sobra pouco o que fazer, mesmo ele representando uma importante figura histórica.
O longa também parece nunca entregar um perigo real. A todo instante fica evidente que seus personagens vão conseguir sair daquela enrascada no último segundo. Ou então ter uma sorte tremenda no momento e na hora certa. Em produções juvenis isso costuma funcionar, mas em uma proposta mais adulta e baseada em fatos, pode parecer uma facilitação de roteiro. Mesmo que na realidade algo muito próximo disso tenha realmente acontecido.
De qualquer maneira, pelo tanto de tensão que Francis Annan agrega à trama, isso não chega a estragar a sessão. Sendo assim, Fuga de Pretória funciona como um entretenimento com discurso bem intencionado.
https://www.youtube.com/watch?v=spn53HZSMJM&ab_channel=AbaixodoRadar