Umbrella – curta animado brasileiro qualificado para Oscar
Baseado em eventos reais, Umbrella atrai atenção: ele cumpriu o principal requisito para ser candidato à primeira produção brasileira indicada ao Oscar de curta de animação (a lista oficial dos indicados sai em 15 de março de 2021), que é ser selecionado para exibição em 19 festivais cinematográficos do porte de Tribecca, Chicago e Calgary.
Em seus 7 minutos e 55 segundos, conta a história de Joseph, um garoto órfão que se encanta pelo guarda-chuva amarelo de uma garota e sua mãe, visitantes do orfanato onde o menino vive. O objeto traz à tona memórias afetivas em Joseph, e nos conduz a assistir essas memórias.
Umbrella
O conto é baseado numa história vivenciada pela irmã da diretora, natural de Palmas (TO), Helena Hilário, que comanda a StratoStorm, produtora do curta. Hilário divide a direção aqui com Mario Pece; ambos também elaboraram o roteiro. A assinatura do vínculo afetivo da diretora com o que vemos na tela é vista no nome de uma loja de guarda-chuvas (“J & H”), caracterizando a natureza intimista do trabalho.
Entretanto, contar uma história em tempo tão curto requer habilidade. O que difere uma obra extra-classe de uma comum é a possibilidade de extrairmos dela uma gama de leituras válidas; o estado da arte está em dar essa possibilidade a quem assiste através de poucos minutos de exibição. “A Casa de Pequenos Cubinhos” (Tsumiki no ie, 2008) é um bom exemplo nesse aspecto, em seus belíssimos doze minutos.
Umbrella, por outro lado, não busca essa pretensão, sendo um filme que não consegue nos dar outras opções de assimilação. É um pequeno melodrama, que poderia funcionar melhor se tivesse um comprimento maior. Muito curto (sempre é custoso produzir uma animação nesses moldes), ele não nos dá tempo de criar vínculo com o personagem principal, requisito essencial em trabalhos com esse viés mais “melado”. Assim, ficamos com a sensação de que a trama adocicada é comercial, buscando fisgar corações mais amolecidos, mas que acaba antes de nos apegarmos a ela.
Mais considerações
Tecnicamente falando, o projeto iniciado em 2011 e finalizado em 2019 por um grupo reduzido de profissionais nos entrega um produto de ponta… se estivéssemos há quinze anos atrás. Ocorre um certo ar de anime e a movimentação dos personagens é lenta; não há falas (a presença delas inegavelmente gera um esforço em criar as articulações faciais e sincronizar as vozes), e o argumento de que a ausência de vozes realça os sentimentos das ações não representa novidade. Na comparação com animações modernas, Umbrella perde.
Isso tudo seria de menor importância, claro, e consideraríamos eventuais fragilidades técnicas até simpáticas, valorizando o esforço da equipe brasileira envolvida na proposta, se o filme tivesse algo além de um desejo piegas de ser comercial, já construído para o mercado internacional. Trazer através da trama um pouco mais da história na qual ela se baseia poderia nos ter dado a chance de maior empatia com o todo. Com um pouco mais de experiência, a equipe liderada por Hilário e Pece poderá apresentar trabalhos um pouco mais robustos, acrescentando mais consistência à delicadeza.
Sobra o desejo verdadeiro de quem aqui escreve que, como produção nacional, Umbrella tenha uma carreira produtiva. Tirando o olhar excessivamente crítico, é um filme simpático.