Drácula de Bram Ratoker, Editora Panini

De Bruno Enna, Fábio Celoni e Mirka Andolfo

Drácula de Bram Ratoker é uma adaptação acertada, divertida e fabulosa de um dos maiores clássicos do horror. Sendo um grande fã do livro escrito por Bram Stoker em 1897 e especialmente do filme realizado por Francis Ford Coppola em 1992 (que foi o que me apresentou a esse personagem tão magnífico e me levou depois às suas centenas de versões), posso afirmar com tranquilidade que essa HQ é uma das melhores adaptações do clássico do horror de todos os tempos.

Sabendo dosar diversão com inventividade, Bruno Enna consegue utilizar tanto os elementos da publicação original quanto do longa com Gary Oldman, equilibrando atributos de ambos, à medida que entrega um material com a cara dos quadrinhos Disney, que qualquer moleque pode ler sem medo (talvez só um pouquinho!).

Drácula de Bram Ratoker

Substituindo o agressivo e impassível (para uma obra infanto-juvenil) sangue por um conceito brilhante envolvendo beterrabas (que o autor explica divertidamente no posfácio) e os insetos por lixas (que parecem aleatórias a princípio, mas depois mostram suas funções), e brincando com nomes de lugares e personagens, Enna cria um quadrinho que respeita completamente o material-base, se apropria certeiramente dos figurinos e visuais cinematográficos, para realizar uma publicação marcante dentre os gibis do orelhudo.

Aliado ao fantástico Fabio Celoni, que tem um traço sem igual, ágil e cinético, vivaz e mórbido, com hachuras de encher os olhos e um acabamento de primeira, como visto nos melhores materiais europeus. O artista ainda compõe painéis belíssimos de paisagens ou com enquadramentos góticos, à medida que elabora uma narrativa repleta de energia, que ora emula pontualmente as passagens do livro (como nas pausadas escritas de cartas) ora reproduz a atmosfera do longa de 1992 com o mesmo impacto.

Drácula de Bram Ratoker

Mais da equipe e os personagens

Mirka Andolfo embala tudo em cores maravilhosas, que compreendem cada cena como uma unidade, alternando tão bem entre o ambiente escuro de terror num canto e o solar doutro, sem incoerências na paleta de cores, puxando sempre para o roxo ou o vermelho.

Vale destacar ainda o “elenco” da HQ, onde todos os personagens se encaixam como uma luva nos papéis a eles designados. Pateta de Van Helsing foi a melhor escolha, aqui talvez em sua melhor interpretação, como um estrangeiro indelicado que fala o que quer, apesar da dificuldade com a língua; o equilíbrio entre suas trapalhadas de sempre com a sagacidade do caçador funcionam tão bem, que dá vontade de ver mais aventuras somente desse figurão.

A ideia de usar o Mancha Negra, grande vilão da família rato, como o Conde Drácula, não poderia ser melhor; sua figuração com a característica peruca branca é terrivelmente linda. Dessa maneira, ainda vemos Mickey como Jonathan Ratker; Minnie, como Minnina Murray (não gostei do “Minnina”, teria funciona muito melhor “Minnie Murray” e ainda se aproximaria mais do “Minna Murray”, mas paciência); Bafo-de-Onça como João Bafofield, em outra escolha inevitavelmente certeira; e até do velho e bom Horácio, como Horácio Sorchwood, que divide o amor da vaca louca Clarabela com o Coronel Cintra (Buz Cintra) e Rock (Rocky P. Stone).

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Aliás, a vaca Clarabela, como Clara-Lucilla Westerna, uma donzela delicada que ronca como um urso e ri como uma hiena, é extremamente divertida e eficiente se comparada a luxuriosa versão original. As adaptações de Enna funcionam do começo ao fim.

Apesar de já ter sido publicada em outros formatos pela Editora Abril ao longo das décadas, é a primeira vez que essa obra (lançada na Itália em 1992, mesmo ano do filme de Coppola) ganha uma versão de luxo no Brasil, dessa vez pela Panini, que mantém aquele super formatão de 32x20cm, que valoriza completamente a arte estupenda de Celoni e as cores de Andolfo, trazendo extras valorosos, incluindo bastidores de criação da história por Enna e rascunhos do artista, e tudo isso por um preço honestamente acessível, para um material de tanta, tanta qualidade. Drácula, Stoker e seus fãs, agradecem.

Drácula De Bram Ratoker

Nome Original: Drácula de Bram Ratoker
Autor: Bruno Enna
Editora: Editora Panini
Gênero: Quadrinho
Ano: 2020
Número de Páginas: 80

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