Notre Dame – Uma comédia quase surreal
Maud Crayon (Valérie Donzelli) é uma arquiteta que, por engano, ganha um concurso promovido pela prefeitura de Paris para reformar o pátio diante da catedral de Notre-Dame. Enquanto se dedica ao trabalho, ela descobre que está grávida de seu ex (Thomas Scimeca) e reencontra um antigo amor (Pierre Deladonchamps).
Maud é a protagonista de Notre Dame, por isso, todas as situações que se desenvolvem no filme estão relacionadas a ela. Maud é uma arquiteta talentosa, mas que não consegue conciliar muito bem seu trabalho e sua vida particular. Ela tem dois filhos e um ex (pai das crianças) que sempre que briga com a namorada passa um tempo na casa de Maud, onde eles, eventualmente dormem juntos. A relação dos dois parece complicada, mas aparentemente funciona.
Ao mesmo tempo, ela está ajudando um colega com o concurso para reformar o pátio diante da catedral de Notre-Dame. Entretanto, por um engano, ela acaba sendo a ganhadora do concurso e precisa se dedicar quase que inteiramente a esse trabalho. O projeto, no entanto, não é muito bem recebido pelos parisienses e Maud se vê na linha de fogo diariamente. É nesse período que Maud não só descobre que está grávida de Martial, seu ex, como reencontra Bacchus Renard, um antigo amor. O cenário que o filme Notre Dame pinta então, é o de completa confusão.
Um pouco de fantasia em Notre Dame
Embora tenha uma história relativamente realista, em muitos momentos o longa trabalha no universo da fantasia. A trama se passa em Paris e apresenta personagens que poderiam ser pessoas reais, mas existem muitos aspectos bem surreais e alguns momentos inexplicáveis.
Logo no começo, por exemplo, vemos um homem que anda por toda cidade dando tapas no rosto de transeuntes, sem nenhuma explicação e, aparentemente, sem nenhum motivo. A maneira com que o projeto de Maud chega aos juízes do concurso também é fantástica e certamente não está no campo do realismo, mas a trama principal do filme que envolve o trabalho, a gravidez e a vida romântica de Maud é, embora inusitada, realista.
Notre Dame também tem vários flertes com outros gêneros, como uma cena musical e outra que faz referência ao cinema mudo. A maneira rápida com que as coisas acontecem, o tipo de situação que é apresentada e a mistura de gêneros fazem o filme parecer uma bagunça sem muito sentido, mas o longa tem sua própria lógica que funciona dentro do que se propõe e que faz com que se torne divertido, desde que o telespectador esteja disposto a seguir aquela trama.
Aspectos técnicos
A produção é bem simples, mas tem o seu charme. O filme é pautado em uma trama realista, que se passa no nosso mundo, mas é repleto de acontecimentos surreais e quase fantásticos, que se aproximam muito de um realismo mágico. Sendo assim, o filme é uma mistura, mas que funciona à sua maneira.
Notre Dame também é divertido, especialmente quando a plateia embarca no que o longa está propondo e consegue comprar o que está sendo apresentado. É claro que à primeira vista, tudo parece muito esquisito e sem sentido, mas com o tempo, as questões absurdas do filme começam a ter um certo sentido dentro da proposta.
Os personagens não são exatamente profundos, mas isso também não é um problema, uma vez que, na maioria das vezes, eles representam apenas aspectos bem exagerados de suas personalidades. Bacchus, que é jornalista, por exemplo, é o arquétipo exato do repórter que faz de tudo para conseguir uma reportagem. Ele chega, inclusive, a passar pessoas para trás na busca por um furo. Já a advogada de Maud é exageradamente incompetente. Ela não sabe nada sobre os próprios casos e depende de sua estagiária para tudo. Todas as coisas que ela propõe estão claramente fadadas ao fracasso.
Um filme um tanto diferente
Outro aspecto curioso é que os personagens quase não mudam de roupa. Maud tem apenas um vestido xadrez, que ela usa todos os dias, inclusive quando sua barriga começa a crescer. Os filhos dela e seu ex também usam sempre a mesma roupa xadrez, como se sendo uma família, todos precisassem usar o mesmo estilo de roupa. Esses detalhes dão um aspecto de surrealismo ao filme, que o aproximam de contos atemporais, onde o importante é o que a história passa e não exatamente como isso acontece.
O elenco também é relativamente competente e consegue entregar performances divertidas. Valérie Donzelli se sai bem dentro do realismo proposto pelo longa; Thomas Scimeca, que interpreta seu ex, consegue ser irritante, mas também motivo de compaixão, e seu personagem acaba sendo tolerável, mesmo que ele se meta na vida de Maud o tempo todo; e Pierre Deladonchamps também entrega um personagem que é o mocinho, mas que também tem seus momentos de comédia.
Notre Dame apresenta uma história relativamente simples, mas com tons fantásticos, que funcionam dentro da trama e da lógica do filme, fazendo com que ele se torne, no mínimo, engraçado. O filme chega aos cinemas hoje, dia 11 de fevereiro.