Aranha – coprodução Brasil e Argentina

O filme Aranha foca no surgimento do movimento Patria Y Libertad (“Pátria e Liberdade”), nos anos 1970, em meio ao governo de Salvador Allende no Chile. O grupo é definido como ultranacionalista, anticomunista/antimarxista e se organizava como uma milícia armada que praticava atos terroristas contra o governo de esquerda nos primeiros anos da década de 70 (1970-1973).

Inés (interpretada quando jovem por María Valverde e depois por Mercedes Morán) e Justo (Gabriel Urzúa e Felipe Armas) são dois jovens de classe média alta que se aventuram em reuniões de um grupo ainda não formado de extrema direita que tenta se agrupar para derrubar o governo de Salvador Allende e lutar contra toda influência ‘comunista’ na América Latina e no Chile.

Certo dia, o casal encontra Gerardo (Pedro Fontaine e depois Marcelo Alonso), em meio a uma briga de rua, onde o mesmo se destacava com violência e agressividade, o que chama a atenção de Justo, que o convida para fazer parte de uma futura organização paramilitar.

Aranha
Inés e Justo

Gerardo não é um cara intelectual e aparenta ter fortes problemas psicológicos que justificam sua agressividade, assim ele é usado pelo casal classe média como o feitor de atos criminosos terroristas, calculados contra movimentos sindicais, defensores do governo e militares alinhados à Allende.

Neste caos de antagonismo político, surge um relacionamento entre os três personagens, onde o ‘trisal’ se conecta com a visão neofascista dos ‘Aranhas’, como eram chamados os integrantes do grupo Patria Y Liberdad.

Um triângulo amoroso

EUA financiam mais um Golpe na América Latina

O filme mostra como os EUA financiaram e treinaram o grupo de extrema direita, para agir e sabotar o governo eleito democraticamente de Allende, usando de formas obscuras e baixas para desarticular os movimentos de esquerda e assassinar figuras importantes desses grupos políticos.

O movimento se desarticula com a morte de Allende, em 11 de Setembro de 1973, e boa parte dos envolvidos com o grupo farão parte da ditadura de Augusto Pinochet.

Aranha
Mercedes Morán como Inés

A Classe Média Chilena e sua Relação Incestuosa com a Ditadura

O filme Aranha faz um movimento do presente e passado, comparando a vida de alto padrão aquisitivo do casal Inés e Justo nos dias atuais, e a vida maltrapilha que Gerardo acabou tendo no decorrer dos anos.

A ideia central do diretor é mostrar de forma figurada (com a relação do ‘trisal’) que a classe média chilena tenta maquiar sua relação com a ditadura de Pinochet, nos dias atuais. Que o histórico golpista das classes mais abastadas, em 1970, ainda surte efeitos horríveis no cotidiano recente dos chilenos.

Na trama, Inés, que hoje é dona de uma revista/jornal de grande circulação, se esforça para se desvincular do passado obscuro com Gerardo e seus atos terroristas, mas a ideologia extremista os persegue até o final do filme, com uma cena impactante que mostra uma única saída para ideologias fascistas contemporâneas.

Gerardo anos depois

Aranha

Este drama político me fez lembrar de filmes como Edukators (2003) e Os Sonhadores (2003), que mostram relações amorosas de três jovens revolucionários de esquerda (em ambos os filmes) com inteligentes reflexões sobre o mundo contemporâneo e seus limites. Mas aqui o foco é no neofascismo e na visão de mundo da extrema-direita, e está muito bem representado neste intricado drama.

Um grande filme para se ver no momento perverso que estamos passando no Brasil, e lembrarmos:
ditadura nunca mais!

Aranha

Nome Original: Araña
Direção: Andrés Wood
Elenco: Mercedes Morán, María Valverde, Marcelo Alonso, Pedro Fontaine, Gabriel Urzúa, Felipe Armas
Gênero: Crime, Drama, Thriller
Produtora: Bossa Nova Films
Distribuidora: Pandora Filmes
Ano de Lançamento: 2019
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