Espontânea – Surrealismo adolescente
Os adolescentes da escola de Mara Carlyle (Katherine Langford) começam a explodir, sem nenhuma explicação plausível. Enquanto tenta entender o que está acontecendo e se questiona se ela será a próxima, Mara resolve viver a vida intensamente.
O roteiro de Espontânea tem uma pitada do fantástico e do surreal, mas ainda se passa no mundo real. Aqui acompanhamos Mara Carlyle, uma adolescente de dezessete anos que testemunha uma colega de classe simplesmente explodir durante uma aula de matemática. A partir daí, a vida de Mara e de seus colegas de classe muda radicalmente.
Toda a classe de Mara é isolada e passa a ser investigada, afinal, ninguém sabe o que aconteceu e se pode ser alguma coisa contagiosa. Mara então, sugere que a explosão pode acontecer de novo e que qualquer um dos adolescentes pode ser a próxima vítima, o que faz com que todos comecem ver a vida de uma maneira diferente.
Espontânea, em muitos aspectos, é um filme para adolescentes, com alguns dos clichês típicos dos filmes voltados para esse público, mas isso, de alguma maneira, o pauta na realidade, o que ajuda a estabelecer a trama fantástica. A plateia percebe, por exemplo, que esse universo não é completamente fantástico, uma vez que vê elementos comuns da realidade, e automaticamente entende que as explosões são da ordem do fantástico e obviamente não fazem parte do dia a dia desses personagens.
Vivendo cada dia como se fosse o último
A trama fantástica encabeçada pelas explosões, no entanto, é só uma maneira de fazer uma análise sobre como levamos a vida, já que a partir do momento em que Mara e seus colegas de turma percebem que eles podem ser os próximos a explodir, eles começam a viver a vida com mais intensidade e fazer o que sempre quiseram fazer, afinal, não têm mais nada a perder.
Dylan (Charlie Plummer) se declara para Mara e conta que sempre gostou dela, mas nunca teve coragem de falar nada e os dois ingressam em um romance regado a sexo, álcool e drogas, sempre pensando que podem morrer no dia seguinte. Essa premissa contamina todos os adolescentes do local e todo mundo passa a viver um estilo de vida quase hedonista, onde se aproveita tudo o possível sem pensar nas consequências.
Claro que os personagens do filme estão em um contexto dramático e que suas reações exageradas refletem isso, mas a trama não deixa de falar com o mundo real, uma vez que a dúvida se estamos vivendo a vida da maneira que deveríamos são constantes ao ser humano. Também é impossível não relacionar os acontecimentos do filme, onde pessoas morrem da noite para o dia, passam por uma quarentena e começam a repensar tudo que conhecem, com a pandemia de Covid-19.
Aspectos técnicos de Espontânea
A ideia do filme é interessante, mas é preciso mergulhar a fundo para aproveitar completamente. O longa se passa no nosso universo, mas propõe uma trama com elementos fantásticos que podem ser difíceis de comprar para algumas pessoas, ainda mais porque o filme não parece disposto a dar muitas explicações, ele simplesmente joga seus elementos para que o telespectador tire suas próprias conclusões ou esqueça disso e comece apenas a prestar atenção na trama dos adolescentes.
Nesse sentido, o roteiro se preocupa com questões um pouco mais simples e que dizem respeito à vida de praticamente todos os adolescentes: acompanhamos amizades, romances, namoros e primeiras experiências, mesmo que isso se dê em uma intensidade bem maior já que eles se veem literalmente entre a vida e a morte.
Espontânea até começa de uma maneira interessante, mesmo que de forma abrupta, mas vai aos poucos se tornando cansativo, talvez porque com o tempo as questões fantásticas fiquem apagadas perto das questões adolescentes, talvez porque questões como romance e amizade soem um pouco bobas quando jovens estão explodindo. O longa se coloca sempre como uma comédia, mesmo quando coisas terríveis acontecem, a narração de Mara ainda é cheia de ironia e a ideia é essa mesmo, mas não funciona tão bem assim.
Os aspectos técnicos do filme também não ajudam. O casal de protagonistas interpretados por Katherine Langford e Charlie Plummer não atuam mal, mas não tem química nenhuma e o resto do elenco tem pouco tempo de tela para que o telespectador de fato se importe com eles. Langford ainda usa uma peruca loira falsa que torna impossível acreditarmos na personagem.
Espontânea é um filme que não vai agradar quem procura uma programação muito realista, mas também não segura completamente sua trama fantástica e, embora seja interessante no começo, vai se perdendo com o tempo e ficando chato.
https://www.youtube.com/watch?v=ssPxZ9bCy3c