Ophelia

Shakespeare da perspectiva feminina

Ophelia (Daisy Ridley) é a dama de companhia favorita da Rainha Gertrude (Naomi Watts), que acaba chamando a atenção de Hamlet (George MacKay), o filho da Rainha, e os dois iniciam um romance proibido.

Quando o Rei (Nathaniel Parker) morre em circunstâncias misteriosas e a Rainha se casa com Claudius (Clive Owen), seu cunhado, Hamlet começa a desconfiar que o pai foi assassinado. Ophelia então, se vê dividida entre Hamlet e sua lealdade à Rainha.

Um novo ponto de vista

Ophelia é, na realidade, uma versão de Hamlet, peça de William Shakespeare, narrada do ponto de vista de Ophelia, uma das personagens femininas mais famosas do autor.

Daisy Ridley como Ophelia
Daisy Ridley como Ophelia

Aqui a história se passa quase que unicamente no universo dela, e Hamlet, o protagonista da obra original, aparece eventualmente. Ophelia é uma dama de companhia da Rainha Gerturde, que funciona quase como uma confidente para a monarca, embora ela seja motivo de piadas entre as outras damas de companhia, porque não tem origem nobre.

Justamente por ser uma confidente da Rainha, a moça tem um papel importante na corte, além disso, ela é muito atenta e nota praticamente tudo que acontece ali, o que claro, acaba a colocando em um lugar perigoso.

A ideia por trás do filme é bem interessante, uma vez que Hamlet, como boa parte das obras mais antigas, não dá muito espaço para suas personagens femininas, mesmo que elas sejam bem construídas. A trama conversa com os dias de hoje, onde o público busca cada vez mais não só uma narrativa com ideais feministas, como também protagonistas femininas que sejam, pelo menos em alguma medida, responsáveis por suas histórias.

Ophelia dá bastante destaque na relação da protagonista e da Rainha Gertrude
Ophelia dá bastante destaque na relação da protagonista e da Rainha Gertrude

A trama

Acompanhamos Ophelia, que vive uma vida pacata na corte da Rainha Gertrude, e que está sempre por dentro de tudo que acontece por lá, inclusive as armações e conspirações, mas que se mantém fiel à Rainha.

As mudanças na corte, no entanto, trazem problemas para ela: primeiro o Príncipe Hamlet retorna e se apaixona por ela. Ele é correspondido, mas a relação parece impossível, já que ele é um príncipe e ela uma dama de companhia que nem tem origem nobre. Depois o Rei morre e Hamlet começa a desconfiar que a morte de seu pai foi um plano de seu tio, que agora se casou com a Rainha e ocupa o trono do Rei.

Ophelia tem algumas informações privilegiadas, mas se vê dividida entre Hamlet e a Rainha, por quem ela nutre carinho e admiração. É interessante que ela, mesmo apaixonada por Hamlet, ainda consiga guardar vários segredos da Rainha, o que fortalece a narrativa do filme para os dias de hoje e fala com o público atual.

O filme não é completamente fiel à obra de Shakespeare
O filme não é completamente fiel à obra de Shakespeare

Aspectos técnicos de Ophelia

O filme se predispõe a fazer uma releitura de Hamlet através do ponto de vista de Ophelia, mas para que isso aconteça uma série de adaptações se fazem necessárias. Outros cenários e situações são imaginados para além da peça, que cobrem o período em que Hamlet está fora e a obra original não especifica o que Ophelia estava fazendo. Por isso, embora a trama fale dos assuntos que Hamlet traz à tona, como a vingança e a traição, este filme parece ser mais focado no romance entre ela e Hamlet.

É verdade que Ophelia não é resumida a uma mulher que está apenas interessada em se casar – Hamlet demonstra mais interesse nela do ela nele -, ou que pauta a sua vida na vida de Hamlet, o longa de fato se esforça para mostrar a relação de Ophelia com outras pessoas além de Hamlet, como seu pai (Dominic Mafham), seu irmão (Tom Felton), Horatio (Devon Terrell), o melhor amigo de Hamlet e com a Rainha Gertrude, para retratar os interesses dela para além de Hamlet, mas o romance entre os dois ainda ganha bastante destaque e são as cenas que mais chamam atenção. Também porque o filme precisa preencher tempo e aumentar a importância de Ophelia na trama, ele acaba deixando de ser tão fiel à trama de Shakespeare, o que por si só não é um problema, afinal, a obra se declara como uma versão de Hamlet e não como uma adaptação fiel.

Ophelia e Hamlet
Ophelia e Hamlet

A estética do filme é um de seus pontos altos, tudo é muito bonito. Os figurinos, em sua maioria em tons terrosos, como verde, marrom e vinho, são lindos e combinam com a época em que o filme se passa. Também existe um trabalho para diferenciar os personagens por suas posições sociais, Ophelia usa vestidos bem mais simples, sem estampas ou bordados, enquanto a Rainha usa roupas suntuosas, cheias de detalhes.

O mesmo acontece com os personagens masculinos, Laertes, o irmão de Ophelia, usa roupas simples, enquanto Hamlet, o príncipe, usa muitas sobreposições com detalhes, tecidos mais bonitos e mais finos. A fotografia aproveita dessas cores mais escuras, deixando todo aquele clima da corte ainda mais opressor. O longa também faz um ótimo trabalho com a maquiagem, que está presente em momentos mais dramáticos, inclusive nos personagens masculinos, como nas cenas de baile, onde alguns segredos são revelados, e nas cenas de luta.

Ophelia tem uma série de atuações competentes, que ajudam o desempenho do filme, mas Daisy Ridley, a protagonista, que representa uma Ophelia diferente e mais moderna e Naomi Watts, que interpreta duas personagens bem diferentes, chamam mais atenção.

Ophelia traz à tona várias questões que o aproximam da peça de Shakespeare, mas parece se sair melhor no romance e embora não seja uma adaptação fiel, é um filme interessante que pelo menos se propõe a fazer algo novo.

Ophelia

Nome Original: Ophelia
Direção: Claire McCarthy
Elenco: Daisy Ridley, Naomi Watts, Clive Owen, George MacKay, Tom Felton
Gênero: Drama, Romance
Produtora: Bobker/Kruger, Forthcoming Productions
Distribuidora: IFC Films
Ano de Lançamento: 2018
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