Querido Evan Hansen
Mais um musical de sucesso da Broadway ganha sua adaptação cinematográfica de fracasso. O escolhido da vez é “Querido Evan Hansen“, que foi o grande vencedor do Tony Awards de 2017 (onde ele concorria com o fofíssimo “Come From Away” que está disponível em sua versão teatral no AppleTV e é bem legal, fica a dica).
Nele, um garoto cheio de problemas psicológicos (o tal Evan Hansen) escreve cartas para si mesmo. Ao invés de escrever em um caderno ou guardar em arquivos do Google Docs como qualquer pessoa normal, ele imprime os documentos na impressora da escola. É lógico que dá merda e um outro garoto cheio de problemas psicológicos pega a carta dele e depois se suicida, não deveria ser época do Setembro Amarelo. Nisso inicia-se uma série de altas confusões na vida do Evan.
Estrutura de erros
O roteiro segue a linha de uma comédia de erros, mas sem a parte das piadas. Sobraram só os erros mesmo. É aquela sequência de pequenos infortúnios aparentemente inocentes causados pelo protagonista, mas que vão se acumulando de forma irreversível, virando um problemão. Algo que é delicioso de assistir em filmes de humor inglês, maravilhosamente desconfortável em um episódio de Curb Your Enthusiasm (Segura a Onda em português), mas que não parece funcionar muito bem no drama meloso que o filme tenta entregar.
Assistindo à película fica até difícil imaginar o que fez a peça de teatro um sucesso: as músicas têm letras bem escritas, mas suas melodias são completamente esquecíveis e nenhuma delas é marcante; os diálogos são piegas, e a história me causou aquele tipo ruim de vergonha alheia.
Sex Education
O elenco, que conta com Amy Adams e Julianne Moore, parece muito mal aproveitado. Ben Platt canta bem e tenta se entregar no filme, mas é risível a tentativa de colocar um ator de 28 anos para interpretar um garoto de 17. Eu senti recentemente o mesmo problema durante a terceira temporada de Sex Education, mas é algo muito mais fácil de ignorar quando o negócio é uma comédia, mesmo que o seriado Chaves sempre volte à minha cabeça quando eu vejo adultos interpretando crianças.
A atriz Kaitlyn Dever também manda bem como interesse romântico, mas eu já gostava muito dela por conta do excelente Booksmart, então eu tinha uma opinião enviesada, não sei se ela fez muito por merecer dessa vez, quero acreditar que sim.
Querido Evan Hansen – Uma comédia sem piadas
No final, o filme fracassou muito em tentar forçar um dramalhão. Parece que a ideia era fazer o público se debulhar em lágrimas, mas o formato do filme não ajuda: ele tem estrutura e arco de comédia romântica. Com certeza seria uma excelente obra se colocassem o roteiro nas mãos de um Judd Apatow e o Michael Cera no papel principal.
Mas na sua tentativa de empurrar emoção goela abaixo do espectador, ele não funciona. Claro que ele tem uma mensagem legal, chamando atenção para problemas psicológicos e depressão, mas o preço que se paga para receber essa mensagem é alto demais.
O que não deve impedir o filme de receber algumas indicações ao Globo de Ouro; tenho certeza que vai ter uns figurões de Hollywood adorando essa bobajada melodramática. Bom pra eles, bom pro filme. Pra mim, não colou.