Mudando o Destino
A música como consolo
Depois da morte trágica de seu irmão (Óskar Logi Ágústsson), Hera (Thora Bjorg Helga) absorve a personalidade dele e passa a gostar de heavy metal.
Já mais velha, ela continua seguindo esse estilo de vida, o que choca seus pais (Ingvar Eggert Sigurðsson e Halldóra Geirharðsdóttir) e os outros habitantes da pequena cidade onde vive, até que a chegada do novo padre (Sveinn Ólafur Gunnarsson), vai mudar o pensamento de Hera.
O heavy metal
Um dos elementos mais importantes de Mudando o Destino é o heavy metal e toda a cultura que o segue. Aqui acompanhamos Hera, que testemunha a morte de seu irmão mais velho aos doze anos, e então, passa a gostar de tudo que ele gostava. O heavy metal era o gênero musical favorito dele, por isso, Hera muda seu gosto para música, suas roupas e sua maquiagem. Ela cresce e se torna adulta ainda gostando de heavy metal.
Hera vive em uma pequena cidade na Islândia e seu estilo chama atenção, algumas vezes ela até sofre bullying e, em outras, parece querer agredir seus pais e outros moradores de propósito. Hera é muito fã do gênero e sua vida circula ao redor disso.
O heavy metal aqui – que poderia ser qualquer outro tipo de música – tem vários significados, o primeiro é o mais comum e que de fato acontece no mundo real: adolescentes têm a tendência a gostarem muito de música, seja ela qual for, e usá-la como consolo durante esse período da vida. Hera, que já nem é mais adolescente, se sente assim e se comporta como adolescente por boa parte do filme.
Mas Mudando o Destino também usa o heavy metal como forma de aproximar Hera de seu irmão, que morreu quando ela era jovem e é assim que Hera exprime seu luto, que parece nunca passar. A música e o estilo de roupa e maquiagem que a acompanham também são uma maneira de mostrar que Hera não se encaixa na cidade e que ela sempre se sobressai, mesmo que de maneira negativa.
Luto
O grande motor do filme, no entanto, é o luto por Baldur, o irmão de Hera. Baldur morre de maneira trágica na adolescência, enquanto Hera ainda é uma criança. Ela presencia tudo e sua vida muda a partir daí. Hera absorve a personalidade do irmão, e o heavy metal que ele gostava, se torna uma forma dela se aproximar dele, ao mesmo tempo que lida com seu luto.
Já Karl e Droplaug, os pais de Hera e Baldur, parecem ter seguido com suas vidas e tentam a todo custo demonstrar isso para os outros habitantes da cidade. Embora eles não pareçam ser pessoas tristes, fica claro que eles também não conseguiram superar a morte do filho. Aliás, ninguém na família conseguiu fazê-lo, Hera é a única que tem, pelo menos, uma válvula de escape.
O filme se desenvolve a partir dessa ideia, ao mesmo tempo que fala sobre a questão familiar e como fica a situação de três pessoas que perderam alguém que amavam de maneira tão bruta e tão cedo. A rebeldia de Hera irrita seus pais, que não conseguem compreender o que aconteceu com a filha que eles antes conheciam, e Hera não consegue compreender seus pais, tanto por questões geracionais, como pela maneira com que eles (não) lidam com a morte de Baldur e a falta de comunicação entre os três leva a problemas e brigas cada vez maiores.
Mudando o Destino é, portanto, muito mais um filme sobre o luto e sobre as maneiras com que as pessoas o enfrentam, ou não.
Aspectos técnicos de Mudando o Destino
Mudando o Destino é um filme com um roteiro bem diferente e criativo. Ele acompanha uma personagem que raramente aparece retratada no cinema e soa como um aceno interessante aos fãs de heavy metal, ao mesmo tempo que fala sobre questões ainda mais profundas. A maneira com que o longa usa o gosto musical de Hera como forma de demonstrar uma série de elementos é muito bem pensada e muito bem-feita.
Hera é uma personagem que nem sempre é agradável, principalmente porque ela é uma mulher adulta que se comporta como uma adolescente, mas a plateia consegue compreender de onde vem a raiva da personagem, já que ela vive um luto constante sobre o qual a família nunca comenta.
Também fica claro que existe um conhecimento, ou pelo menos uma pesquisa sobre o heavy metal, já que o filme faz muitas referências e tem na trilha sonora bandas como Judas Priest, Megadeth e Metallica.
O longa se passa em um país frio, com muita neve, que já não tem uma paisagem muito convidativa, a fotografia é escura e os cenários são sufocantes, o que aumenta a sensação de quem tem algo errado naquela situação, o que remonta ao sentimento de Hera. O elenco também está bem e muito sincronizado. Naturalmente Thora Bjorg Helga, que tem bastante tempo de tela, chama mais a atenção.
Mudando o Destino é um filme que usa do heavy metal como metáfora para uma série de sentimentos e sensações, e enquanto faz isso, nos transmite várias mensagens sem precisar falar sobre elas com todas as letras, mas que ainda se faz entendível. O filme chegou ao Belas Artes À La Carte no dia 02 de dezembro.