Serial Kelly

Policial à brasileira

Kelly (Gaby Amarantos) é uma cantora de forró eletrônico que faz apresentações itinerantes pelo sertão do Brasil, mas também não perdoa as pessoas que atrapalham sua carreira ou que a magoam de alguma forma.

Quando uma série de mortes próximas a ela levam a crer que tem um serial killer na região, a delegada Fabíola (Paula Cohen) começa a desconfiar de Kelly e a cantora precisa fugir, usando seu show como cobertura para os crimes que comete.

Comédia com crimes

O título e a sinopse de Serial Kelly levam o telespectador a pensar que vai se deparar com um filme de suspense ou policial, mas essa não é a proposta do longa, que se define como uma comédia. Ainda assim, Serial Kelly trabalha muito no universo dos filmes policiais.

Gaby Amarantos em cena do filme Serial Kelly
Gaby Amarantos em cena do filme

Serial Kelly segue uma cantora de forró eletrônico que também é uma serial killer, diferentemente, no entanto, de assassinos que matam apenas pelo prazer de matar e que não têm ligações com suas vítimas. Kelly é quase uma espécie de viúva negra – mulheres que matam homens e mulheres com quem se relacionam romântica ou sexualmente, ela mata pessoas que lhe prejudicam ou lhe fazem mal.

A plateia sabe desde o começo que Kelly é a responsável pelas mortes na região, portanto, não existe mistério no filme, o que já o descaracteriza como um filme policial. Para além disso, existe todo um ar de comédia na trama, tudo é exagerado e pincelado com tons até um pouco absurdos, seja na maneira com que a protagonista é caracterizada ou no figurino dela, seja na maneira com que ela conhece seu namorado, Tempero (Igor de Araújo), seja no trailer de Kelly, decorado ao extremo e com um mico de estimação dentro de uma gaiola.

A ideia parece ser fazer uma espécie de pastiche dos filmes policiais, fazendo piada com eles, e os trazendo para o universo brasileiro.

O filme usa elementos do policial para fazer comédia
O filme usa elementos do policial para fazer comédia

Tom feminista

Serial Kelly também tem um tom feminista que funciona até certa medida e que conversa perfeitamente com os dias de hoje. O filme não só apresenta uma serial killer mulher, como também tem uma delegada mulher, o embate clássico do filme policial entre o assassino e o policial então, aqui se dá entre duas mulheres.

Além disso, as vítimas de Kelly são, em sua maioria, homens, e mais do que isso, são homens que não a trataram bem, que a traíram, a passaram para trás e partiram seu coração. A ideia é legal, Kelly é uma espécie de justiceira se vingando de ex-namorados babacas e até violentos e de homens que destratam as mulheres, mas o filme tem algumas falhas.

Tempero, o namorado atual de Kelly, não é nenhum santo e também comete alguns erros terríveis, mas ela parece incapaz de puni-lo da mesma maneira que puniu outros homens que cruzaram seu caminho. Tudo bem que Kelly pode ser completamente apaixonado por Tempero – embora essa relação nem seja tão desenvolvida assim para isso -, mas se a ideia do filme é ressaltar esses aspectos feministas, seria interessante que Tempero também sentisse a ira de Kelly.

Serial Kelly peca na lentidão
Serial Kelly peca na lentidão

Aspectos técnicos de Serial Kelly

Serial Kelly parte de um argumento inusitado e, por isso mesmo, diferente. No entanto, é importante ressaltar que o filme não é um suspense, a ideia é quase tirar sarro dos filmes policiais, colocando detalhes na trama que flertam muito mais com a comédia e até com o bizarro, do que com o sério e tenso do suspense. Não existe tensão ou mistério em Serial Kelly, sabemos desde o começo qual é a resolução do caso.

Mas infelizmente, Serial Kelly também não é muito engraçado, embora ele tenha uma cena ou outra capaz de fazer a plateia rir, o que chama mais a atenção é a bizarrice da combinação de elementos dos dois gêneros, que funcionam em alguns momentos e em outros não.

Outra questão que atrapalha o filme é que ele é lento, pouca coisa acontece, mas o que acontece se dá de maneira muito rápida. Depois que Kelly foge, por exemplo, ela anda pelas estradas conhecendo várias pessoas e em uma cena ela está morando com um grupo de drag queens, e na seguinte, ela já está em uma igreja evangélica, a impressão que se tem é que ela literalmente saiu do bar onde estava com as drag queens e entrou na igreja, mas depois percebemos que um tempo se passou entre as duas situações.

As mulheres são as grandes protagonistas do longa
As mulheres são as grandes protagonistas do longa

O filme é simples em relação aos seus elementos técnicos, mas ele funciona, os cenários são bem-feitos e nos colocam dentro da história, e os figurinos também combinam demais com os personagens. Serial Kelly também tem boas atuações, Gaby Amarantos está bem e Igor de Araújo é ótimo e muito engraçado, os dois também têm muita química e é muito fácil acreditar e até torcer pelo casal.

Serial Kelly é uma espécie de sátira bem brasileira dos filmes policiais, que tem momentos divertidos, mas que peca na lentidão e que apresenta um roteiro não muito desenvolvido e até um pouco confuso. O longa chega aos cinemas no dia 24 de novembro.

Serial Kelly

Nome Original: Serial Kelly
Direção: René Guerra
Elenco: Gaby Amarantos, Paula Cohen, Aline Marta Maia, Pedro Wagner, Divina Nubia
Gênero: Comédia
Produtora: Bananeira Filmes
Distribuidora: Vitrine Filmes
Ano de Lançamento: 2022
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