Ruptura – 1ª temporada

Suspense corporativo de primeira, Ruptura acerta justamente ao mirar no coração de seus personagens, dúbios, complexos e intrinsicamente humanos.

Essa criação de Dan Erickson é dominada por sua estranheza, o que nos remete automaticamente aos episódios mais inspirados de um Além da Imaginação ou, em especial, Black Mirror. O nosso querido Ben Stiller e Aoife McArdle imprimem personalidade, obsessão e bizarrice na medida em suas direções, entregando uma produção com uma identidade muito própria, com uma trilha marcante (um grande trabalho de Theodore Shapiro), que é ao mesmo tempo forte pela pegada sensorial, e opressora, como todo aquele ambiente que todos nós, em algum momento da vida, já passamos por experiência de trabalho.

Ruptura (Severance)

Quando o texto levanta questões sobre “quem somos?” e coloca em tela uma mesma pessoa dividida em duas (mas não como Neo ou Wade Watts já fizeram no passado, já que por aqui uma não tem consciência do que ocorre com a outra em seu respectivo ambiente, seja ele o real, seja ele o profissional), uma chave vira dentro da mente quando o elevador desce.

Esse é o cerne da obra, ampliado pela questão da identidade, e de que mesmo em situações absurdas e adversas, de um lado mantemos nossa essência (como Mark S.), enquanto do outro, traímos quem somos (a maneira de Helly). Todo o drama desenvolvido fora da Ruptura também é delicioso de se acompanhar, o que de certa maneira também oferece fôlego para seu público, respirar um pouco fora do ambiente corporativo, opressor e nonsense.

Claro que essa série não seria metade do que é sem o grande elenco que possui. A começar por Adam Scott, no melhor papel de sua carreira, que coube como uma luva no corpo do protagonista que toma essa polêmica decisão apenas para superar o luto; um dilema tão humano e crível. A grande Patricia Arquette retorna triunfal, em um papel ainda complexo de se compreender, afinal, de que lado ela está? O mesmo poderia se perguntar, mas ao contrário, para a persona interpretada pela carismática Britt Lower. Os mestres John Turturro e Christopher Walken, além de Tramell Tillman, Zach Cherry e Dichen Lachman, incorporam figuras típicas do ambiente de trabalho, que será muito reconhecível por nós.

Já que Ruptura fisga o espectador não só pela estranheza, mas pela familiaridade. Eis o ponto.