O Estrangulador de Boston
Inspirado em um caso real
Uma série de assassinatos atinge Boston: mulheres idosas são assassinadas em suas casas, e encontradas enforcadas com um laço feito de meia de seda no pescoço. A polícia parece perdida, sem muitas pistas, até que Loretta McLaughlin (Keira Knightley), uma jornalista que quer escrever sobre crimes, conecta as mortes e começa a investigar o caso com a ajuda de sua colega Jean Cole (Carrie Coon).
As duas mulheres passam a chamar o serial killer de O Estrangulador de Boston, mas enquanto tentam detê-lo através de suas reportagens, elas também precisam lidar com o machismo na redação e fora dela.
O filme O Estrangulador de Boston é inspirado em um caso real.
O caso
O longa já começa colocando a plateia dentro de uma cena de crime, que vai se repetir ao longo da projeão: o assassinato brutal de uma mulher idosa. O espectador não tem acesso a tudo que acontece no local, mas ficamos sabendo detalhes depois, conforme a investigação da protagonista se desenvolve.
Os assassinatos são o foco principal do filme, que é narrado praticamente todo do ponto de vista de Loretta McLaughlin, uma jornalista relegada à “sessão feminina” do jornal onde trabalha, mas que deseja escrever sobre crimes. Curiosamente, Loretta é a primeira pessoa a ligar os três primeiros crimes e notar que eles têm muitas semelhanças.
O Estrangulador de Boston é, então, um filme de suspense investigativo, bem parecido com filmes como Zodíaco, onde uma jornalista mergulha fundo em um caso terrível, incialmente para escrever sobre ele, mas mais tarde se torna tão obcecada que seu desejo é desvendá-lo.
O interessante aqui é que o longa retrata um acontecimento real, os crimes do Estrangulador de Boston realmente aconteceram e Loretta McLaughlin de fato foi a primeira pessoa a conectar os crimes e a nomear o serial killer. Os assassinatos não só são brutais e muito sinistros, beirando, inclusive, ao fetichismo, como também a história é instigante devido ao papel de duas jornalistas mulheres em uma época onde o mundo era ainda mais patriarcal.
Um filme sobre machismo
No entanto, O Estrangulador de Boston é essencialmente um filme sobre machismo e isso está presente em quase todos os momentos. As protagonistas são duas mulheres que trabalham em um ambiente tradicionalmente masculino, o chefe (Chris Cooper) e todos os colegas são homens. Jean já tem acesso às matérias que ela quer há um tempo, mas Loretta trabalha na sessão do jornal que é voltada para o público feminino e deseja trabalhar na parte policial, composta única e exclusivamente por homens.
Ao longo do filme as duas mulheres são expostas ao machismo em maior ou menor grau, seja no fato de colocarem retratos delas nas suas reportagens para vender mais jornal, seja ouvir que “aquilo não é trabalho de mulher”, seja ser completamente ignorada pela polícia, outra instituição tradicionalmente masculina, que não leva Loretta a sério e que aqui é retratada como incompetente. Loretta, que é casada e mãe de três filhos, precisa ainda lidar com a cunhada (Therese Plaehn), que acredita que mulheres devem cuidar unicamente de seus maridos e filhos.
Além disso, os crimes do Estrangulador de Boston, cujas vítimas são mulheres, são claramente crimes de ódio contra mulheres. O roteiro se fecha de uma forma tão completa, uma vez que fala sobre crimes violentos e brutais contra a população feminina, investigado por mulheres que não são levadas a sério inicialmente, que ele até parece ficção, e talvez alguma mudança tenha sido feita para que a questão do machismo ficasse ainda mais marcada, mas é muito interessante que boa parte das informações presentes aqui sejam verdadeiras.
Aspectos técnicos de O Estrangulador de Boston
O Estrangulador de Boston é um filme muito bem pensado, que tem a sorte de ter fatos reais para sustentá-lo, ainda que alguma mudança no caso real tenha sido feita para que a trama caiba melhor no roteiro. O longa segue Loretta McLaughlin e nos conta a investigação do caso a partir do ponto de vista dela, e isso acontece porque Loretta foi a primeira pessoa a levantar a possibilidade de um serial killer.
O filme se passa nos anos 1960, por isso, parece natural retratar o machismo presente em todas as instâncias e instituições, mas o sexismo é destacado e fica claro aos olhos. A trama fala sobre uma série de assassinatos, mas o seu tema principal é o machismo, que tanto mata mulheres de maneira cruel, como também impede que elas trabalhem com o que querem e realizem seus sonhos e seus desejos.
O filme usa e abusa da estética noir e isso funciona demais, a fotografia é escura e a cidade parece sempre sombria e sinistra, Loretta parece sempre estar em perigo, mesmo quando ela só caminha de volta para casa. Os figurinos, que remontam muito mais aos anos 1940 e 1950 do que à década de 1960, ajudam a aumentar essa impressão. O filme também tem ótimas atuações, o destaque é de Keira Knightley, mas Carrie Coon, Alessandro Nivola e David Dastmalchian também estão ótimos em cena.
O Estrangulador de Boston é um filme de suspense sobre um caso real, e vai atrair o público que se interessa por true crime, mas ele não almeja só denunciar os crimes retratados e sim toda uma estrutura machista que mata, abusa e oprime mulheres. O filme estreia dia 17 de março, exclusivamente no Star+.