Kong – A Ilha da Caveira
É de cores vibrantes, ritmo ágil e uma trilha sonora calcada no rock de The Stooges, David Bowie, Creedence Clearwater Revival e Black Sabbath que se faz o retorno de King Kong às telonas. Doze anos após sua última aparição nos cinemas, quando foi ‘registrado’ no tom épico e pomposo de Peter Jackson, o guardião da Ilha da Caveira, agora alçado à patente de deus pelos seus habitantes, está mais pop e divertido do que nunca.
A história, sobre um grupo de exploradores que se aventura nas profundezas de uma ilha desconhecida no Pacífico, já foi contada e recontada inúmeras vezes. Felizmente, em ‘Kong – A Ilha da Caveira’, a trama, sob a direção de Jordan Vogt-Roberts, ganha novos ares e uma roupagem despretensiosa. Aqui, elementos clássicos da mitologia de Kong, como a obsessão do macaco pela mocinha loira indefesa e o cenário final em Nova Iorque, ficam de fora (e não fazem falta).
O que não falta, contudo, são os personagens arquétipos. Situado nos anos 70, estão em cena o militar atormentado pelas barbáries da Guerra do Vietnã, o pesquisador com suas intenções secretas, a jornalista em busca da verdade, o louco que sabe de tudo e o mercenário que só quer sair vivo e rico ao fim da jornada. Todos competentemente interpretados por Samuel L. Jackson, John Goodman, Brie Larson, John C. Reilly e Tom Hiddleston, respectivamente.
Ainda que a época seja propícia, Jordan Vogt-Roberts não cai na tentação de discutir questões sociopolíticas. O conflito que marcou uma geração aparece apenas como pano de fundo em ‘Kong’. O diretor, entretanto, aproveita para dar uma ‘piscadela’ para o público mostrando que nem tudo é tão simples assim. Como na cena em que um bobble head do presidente Richard Nixon balança a cabeça desgovernadamente de alegria e, em segundo plano, um cenário de destruição, fogo e morte toma conta da tela.
No filme, brilha quem tem de brilhar. O longa é totalmente de Kong e da Ilha da Caveira, seus dois personagens principais. Sem vergonha de abraçar o ridículo, a fantasia sobre um macaco gigante comandada por Vogt-Roberts não perde tempo fazendo mistérios quanto ao monstrengo, como bem fez Gareth Edwards com seu ‘Godzilla’, em 2014, ao construir o clima de paranoia ante o eminente apagão global.
Muito menos solene que sua encarnação anterior, mas muito mais seguro de si e bem resolvido, Kong dá logo as caras em menos de dez minutos de projeção. Nem por isso, o macacão, como seu olhar penetrante e ameaçador, deixa de ser impactante ao surgir em meio ao ecossistema surreal da ilha.
Seu visual humanoide e imponente, preza pelo mítico e deixa um pouco de lado o realismo animalesco do gorila gigante interpretado à perfeição por Andy Serkis no longa de 2005. Coberto de musgo, andando sobre as duas patas traseiras, o protagonista, que mais remete a um neandertal, está mais evoluído e, qual guerreiro experiente, transforma o ambiente ao seu redor em armamento e engana o oponente com táticas evasivas.
Mais racional e inteligente que a maioria dos personagens humanos do filme, Kong também demonstra novas facetas, como na cena do lago, em que ele, sofrendo, lava as suas feridas após uma intensa batalha; para, logo depois, jantar uma lula gigante viva, em uma possível referência à clássica cena de Oh Dae-Su com os polvos no sushi-bar, em ‘Oldboy’ (2003).
Aparentemente um grande nerd, o diretor segue colando suas referências de forma orgânica, costurando-as com a ajuda da trilha sonora setentista e da fotografia solar. Indo desde filmes de monstros gigantes japoneses (o inimigo de Kong é o exemplo perfeito disso) a videogames (no helicóptero que desce sobre a floresta tropical com os alto-falantes tocando ‘Ziggy Stardust’ só faltou o Snake de ‘Metal Gear Solid’ a bordo), não faltam referências ao universo da cultura pop.
Já mais para o fim, o longa desliza e perde um pouco do ritmo ao seguir religiosamente a fórmula que o fez tão empolgante em seu primeiro ato. A junção da fotografia deslumbrante mais a trilha sonora excelente e as cenas de ação ‘animais’, são repetidas à exaustão e cansam o espectador, que, nesses momentos, tem de se contentar com os alívios cômicos dos personagens humanos relegados ao papel de coadjuvantes.
Um delírio visual superficial, porém honesto em sua proposta, ‘Kong’ é também a expansão para o universo cinematográfico de monstros da Legendary. Contraponto perfeito ao soturno ‘Godzilla’, que deu início a este MonsterVerse, ‘A Ilha da Caveira’ conta com uma cena pós-crédito que aponta para um inevitável encontro, e possível combate, em um futuro breve, entre as duas gigantes feras lendárias. É hora de fazer suas apostas e escolher um lado.
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