A Boneca está de volta em Annabelle 2

Se levarmos em consideração que os filmes-de-terror-pipoca tem como função primária entreter e assustar o público com jumpscares baratas e funcionais, antes de se preocupar com o enredo, então Annabelle 2 – A Criação do Mal cumpre o que promete, ainda que seja aquém da franquia-mãe, Invocação do Mal, enquanto espetáculo, mas mesmo assim está anos-luz do fraquíssimo primeiro filme.

Ainda que infelizmente essa continuação conte com o mesmo roteirista da produção de 2014, a obra ganha bastante com a adesão do excelente e inspirado David F. Sandberg, um cineasta de Youtube, cheio de recursos caseiros, que realizou dezenas de curtas espetaculares e que, graças ao formidável Lights Out, ganhou Hollywood e foi dirigir o longa de mesmo nome, com grande sucesso. Agora também – ainda que estranhamente – assumiu a direção de Shazam da Warner/ DC. Confesso que sou fã do cara e fui ver o filme mais por ele do que pela boneca – a quem ele reduziu a poucas e pontuais cenas, focando seu terror mais na entidade, que a maneira do padrinho James Wan, também pouco aparece.

O forte de Sandberg é a criação de atmosfera sufocante e o bom uso de recursos simples de cenário em favor do terror que te espera logo ali. Mesmo sendo mais ou menos estreante no cinemão, o diretor imprime sua personalidade e estilo nessa continuação, inclusive se auto-homenageando, em sutis easter-eggs que só fãs de suas obras youtubescas serão capazes de sacar (como o fantasma de lençol, a lâmpada girando e caindo, os passos no corredor escuro etc). Ele também trouxe uma carga de Wan, pra manter a escala de universo compartilhado ornando, por isso tudo cinematicamente funciona do começo ao fim.

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Ainda que o roteiro seja manco e muitos momentos levem ao clichê dos clichês, Annabelle 2 – A Criação do Mal consegue superar esses obstáculos graças, novamente, ao diretor, que cobriu os buracos da trama com bons personagens, boa construção de mundo e boas sequências de terror. A começar pelo elenco feminino inspirado, onde pelo menos quatro moças conseguem sustentar e carregar o filme nas costas, intercalando situações tensas, o que não desgasta o andamento da história – fiquem de olho em Talitha Bateman.

A casa, por sinal, foi levantada de maneira onde todo o horror possa ocorrer da melhor forma, favorecendo ângulos insuspeitos e panorâmicas de efeito furtivo, que enaltecem o crescente de pânico, que obras do gênero tanto necessitam. Do quarto de bonecas ao elevadorzinho interno, da escada com cadeira móvel ao cômodo da mulher oculta, do espantalho no estábulo ao quarto da menina morta, tudo funciona quando o assunto é cenário.

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Sandberg também se sai bem nas sequências de terror, como da primeira vez que a boneca é encontrada na saleta lacrada, ou do flashback da mãe dando de cara com o próprio cão, e também da excelente cena embaixo dos lençóis. O diretor exagera e pesa a mão em algumas repetições sim, e abusa e usa de clichês, como mãos que puxam ou garotinhas que correm ao fundo, mas nunca chega a pisar torto pra valer e mesmo esses momentos se fazem valiosos no todo, que culmina num escandaloso clímax que não assusta ninguém, mas cumpre as expectativas e não perdoa nem mesmo o mais puro dos inocentes. O desfecho também é bacana por dois easter-eggs (um deles do mundo real 😮 ), que linka bem esse universo diábolico de Invocação do Mal.

Annabelle 2 – A Criação do Mal é didático e cheio de lugares-comuns, sendo assim ideal para fãs de terror de primeira viagem, mas que muito provavelmente não vai surpreender um consumidor das antigas. Funciona como entretenimento e acima de tudo consagra um bom diretor independente em astro das telonas. Aqui, mais do que Annabelle ou o capeta, é David Sandberg quem brilha e assusta de verdade.

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