Em Ritmo de Fuga, um musical de ação

Em Ritmo de Fuga inaugura o que eu chamo de “musical de ação”, entregando frenesi, absurda criatividade e uma direção inspirada e repleta de personalidade.

Ansel Elgort
Ansel Elgort

Ainda que eu ache Edgar Wright superestimado (seu único bom filme até então foi o ótimo Scott Pilgrim), mais editor do que diretor, aqui ele se supera ao conceber um longa singular, que usa da premissa batida do motorista de fuga de assalto, para compor ao mesmo tempo um musical autêntico, onde a exata sonoplastia, a trilha sonora escolhida a dedo e a edição minuciosa andam lado a lado e não funcionam de maneira independente, sendo juntas o grande trunfo.

Com personalidade e muito estilo, Em Ritmo de Fuga conta com um elenco inspirado, de atuações propositalmente exageradas para enaltecer alguns estereótipos do gênero, permitindo que a narrativa flua sem trancos, deixando assim que o diretor faça cada corte de cena em harmonia plena com a trilha e a sonoplastia, utilizando às vezes o cenário para complementar algum refrão. Uma baita sacada, convenhamos.

Ansel Elgort tem carisma de sobra e sua química com Lily James existe no além-tela, usando carros e pistas como palco para um espetáculo de encher os olhos, com cores vibrantes, que nunca ultrapassa os limites das inúmeras sequências de ação e não se permite ao absurdo das manobras (ao contrário da franquia de Velozes e Furiosos), e justamente por isso que os vários momentos conflituosos causam tanta agonia — porque o diretor mantém seus personagens com um pé na verossimilhança.

Utilizando um crescente de tensão e sufoco, que nunca para de piorar a medida que a trama avança, Wright espalha figuras marcantes ao longo da sessão, permeando a atmosfera com instabilidade e viradas de jogo, deixando o espectador tão perdido quanto seu protagonista, sem uma exata figura de vilão e com desafios impostos de última hora, que colaboram para que o filme jamais perca seu ritmo, nem fique desinteressante.

Em um dos seus últimos papeis antes de afundar a carreira por pecados de set, Kevin Spacey repete o papel de Micky Rosa em Quebrando a Banca — ainda que aqui siga mais contido. Jon Hamm e Jamie Foxx sabem brilhar e se divertir na mesma medida, com dois perigosos ladrões de estilos distintos, enquanto Eiza González enfeita a tela com uma sexualidade estonteante e absurdista pra lá de bem-vinda.

Em Ritmo de Fuga não só é o filme mais bem resolvido de Edgar Wright, como também é excelente em sua proposta mista, elevando Baby (e suas ótimas sacadas com as fitas personalizadas) ao Olimpo da cultura pop. Demais!

Flea, Jamie Foxx e... Mike Myers!
Flea, Jamie Foxx e… Mike Myers!
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