O Retorno do Herói, comédia francesa de época com ares modernos

O Retorno do Herói narra a história de Capitão Neuville (Jean Dujardin), que vai para a guerra deixando sua noiva Pauline (Noémie Merlant), com a promessa de que vai escrever para ela diariamente. É óbvio que isso não acontece e assim que o capitão sai da casa de Pauline, ela não recebe mais nenhuma notícia do noivo, chegando a ficar até doente de tristeza. Vendo o estado da irmã, Elisabeth (Mélanie Laurent) resolve escrever cartas se passando por Neuville e depois de um tempo, faz a irmã acreditar que o noivo morreu de maneira heroica na guerra. Então, alguns anos depois, Neuville reaparece, ameaçando desmentir tudo que Elisabeth criou.

O Retorno do Herói remonta a um gênero que era muito comum no cinema francês e que acabou perdendo sua popularidade com o tempo, a comédia de aventura. O diretor Laurent Tirard não é novato no gênero, já que está por trás de produções como Um Amor à Altura (também com Jean Dujardin) e o incrível O Pequeno Nicolau (e sua continuação As Férias do Pequeno Nicolau).

Mesmo que o filme se defina como uma comédia de aventura, o que predomina no longa é, sem dúvida, a comédia, já que embora escutemos diversas histórias sobre as aventuras de Neuville na guerra, não vemos quase nada. Para que isso funcione bem, é claro que o roteiro precisa ter diversas situações engraçadas e isso o filme tem de sobra, ele inclusive foge de situações bobas que transformariam a produção em um pastelão (o que poderia acontecer em um filme americano comercial, por exemplo). Por outro lado, O Retorno do Herói está bem longe daquela ideia que se faz de filmes franceses, que são longos, arrastados e cheios de questões filosóficas. O longa de Tirard poderia ser classificado como um filme comercial francês, que mesmo assim é bem menos comercial que um filme não tão comercial americano.

Mélanie Laurent e Jean Dujardin são os protagonistas do filme

O filme inclusive usa de muitas referências que não são exatamente do cinema francês, como por exemplo, a época escolhida, que nos remete diretamente às obras da inglesa Jane Austen e automaticamente aos filmes baseados nos seus livros, um grande filão do cinema inglês e os filmes americanos de faroeste.

Embora se passe em 1809~1812, o filme traz questões muito modernas, como por exemplo, a ideia de passar uma imagem que não é exatamente verdade, uma vez que Neuville, depois que retorna resolve continuar a farsa que Elisabeth criou e assim viver os lucros de que as histórias podem lhe dar, o que faz uma ligação com a ideia das redes sociais e das personas que criamos nelas; e a própria personagem de Mélanie Laurent, que é uma feminista muito antes desse termo sequer existir. Elisabeth é uma mulher moderna, que não sente nenhuma necessidade de se casar (mais uma vez remetendo à Jane Austen, que embora famosa por suas histórias de amor, nunca se casou), está sozinha por opção e tem intenções de ganhar seu próprio dinheiro e se sustentar. O filme até faz uma piada com a ideia de que as mulheres deveriam ganhar menos que os homens, só por serem mulheres, uma ideia que, infelizmente, ainda está na cabeça de muitas pessoas (e políticos) até hoje.

Mais do que o que está no contexto do filme, Elisabeth é uma personagem feminina extremamente forte, que é capaz de criar todo um novo universo para proteger sua irmã mais nova.

Noémie Merlant e Christophe Montenez chamam a atenção em papeis secundários

O filme não é uma superprodução, mas tem figurinos e cenários extremamente realistas, que como eu disse lá em cima, também remontam ao mundo criado por Austen. Uma coisa que chama atenção por sua vez é que embora a família de Elisabeth e Pauline seja uma família rica, as roupas e os penteados não são opulentos, e Mélanie Laurent usa pouca maquiagem. Essas decisões foram tomadas primeiro por veracidade histórica, segundo porque a ideia não era transformar o longa em um filme de época cheio de roupas que se tornam referências ou tendências e que chamem mais a atenção do espectador, que a história do filme. Mesmo assim, o figurino é bonito, e mantém o ar de simplicidade que os autores desejavam. A trilha sonora do filme é toda instrumental, mas é extremamente divertida, para combinar com a trama e tem toques de faroeste americano, assim como muitas cenas do longa, que nos fazem pensar nos filmes de John Ford, uma referência que o próprio diretor assume.

Claro que nada disso funcionaria, se o elenco não tivesse um ótimo tempo para comédia e não estivesse muito bem sincronizado. Uma das coisas mais interessantes de O Retorno do Herói é que o elenco é todo muito divertido, Jean Dujardin já é famoso por suas atuações em comédias, então, não é exatamente uma surpresa, mas o seu personagem consegue misturar com perfeição o charme e a canastrice de um homem que é capaz de seduzir qualquer um, mesmo que seja com mentiras.

Mélanie Laurent é de fato uma boa surpresa, já que é mais conhecida por seus papeis dramáticos (Não se Preocupe, eu estou bem e Bastardos Inglórios) e românticos (Toda Forma de Amor), mas ela está muito bem no papel de Elisabeth e é de fato, muito divertida. Além do mais, parece existir muita química entre ela e Dujardin, o que faz uma grande diferença.

Dujardin e Laurent em cena do filme

O elenco de apoio também é ótimo, a mãe de Elisabeth e Pauline (Évelyne Buyle) e a empregada da casa (Fabienne Galula), tem poucas falas, mas conseguem ser engraçadas em todas elas. Já o destaque no elenco fica por conta de Christophe Montenez, que interpreta o tímido e inseguro Nicolas e de Noémie Merlant, que está perfeita no papel de Pauline e é certamente a personagem mais divertida do longa.

Longe de ser um filme francês típico, O Retorno do Herói é uma comédia divertida, que merece que você deixe o seu preconceito com filmes europeus de lado e vá assisti-lo.

O Retorno do Herói entra em cartaz no dia 20 de setembro.

O Retorno do Herói

Nome original: Le retour du héros

Elenco: Jean Dujardin, Mélanie Laurent, Noémie Merlant, Christophe Montenez, Evelyne Buyle, Christian Bujeau, Mathilde Roehrich

Gênero: Aventura, Comédia

Produtora: les Films sur Mesure

Distribuição: Mares Filmes e A2 Filmes

Direção: Laurent Tirard

Etiquetas

Deixe um comentário

Botão Voltar ao topo
Fechar