CAM, um filme intenso original Netflix
CAM é certamente uma grata surpresa que chegou para virar a Netflix de ponta-cabeça com uma narrativa intensa e singular.
Uma artista de sexo na webcam tem sua identidade online hackeada por uma sósia sinistra neste thriller techno-gótico de Daniel Goldhaber, que estreia em seu primeiro longa, com muita personalidade. Em uma hora e meia de duração, somos então apresentados ao mundo do soft porn via streaming ao vivo. Enquanto revela o background bastante mundano da protagonista, e outro nem tanto, até o ponto de virada que envolve um tipo de hackeamento improvável, que toma rumos esquisitíssimos, mas no melhor dos sentidos para o espectador desavisado.
CAM
Madeline Brewer está ótima e a vontade no papel, orbitada por um elenco competente e natural em suas figurações. Se por um lado trás um perfil divertido e sensual, também pede uma entrega mais complexa de um mundo perverso, de abusadores digitais. Ainda mais quando sua contraparte digital realiza feitos que ela própria tinha se regrado a jamais fazer. O que acaba afetando, inevitavelmente, seu mundo real e leva a moça em uma busca perturbadora por respostas e resoluções.
Inclusive, toda sua prática no começo, quando descobre que um avatar sósia assumiu sua “Lola”, de mostrar para amigas de profissão, para a polícia e até contatar o suporte do site para qual trabalha, mostram a preocupação com crivelidade no roteiro redondinho de Isa Mazzei. Mesmo que o clímax traga certo absurdismo, naquele ponto da trama qualquer ponto é aceitável.
Fazendo bom uso do pouco orçamento, com uma fotografia que sabe trabalhar os dois mundos (o rosa fofo e sensual do digital, e o cru e pálido do real), o diretor executa uma sufocante trama intimista que trata principalmente de invasão de privacidade e da maneira como cada um se enxerga. O jogo de espelhos em algumas partes do filme fundamenta bem essa metáfora.
CAM não fornece uma resposta concreta, deixando para o espectador concluir como quiser, algo que talvez não precise exatamente de uma resolução em um suspense de primeira. Afinal, na vida como ela é, as respostas nunca vêm como e quando queremos.