As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell
Uma versão realista da lenda
As Crônicas de Artur, de Bernard Cornwell são compostas por três livros, que contam a história do lendário Rei Artur. Os livros que fazem parte da trilogia são O Rei do Inverno (1995), O Inimigo de Deus (1996) e Excalibur (1997).
Nos livros, acompanhamos Derfel Cadarn, um saxão adotado por Merlin, que mais tarde se torna um dos guerreiros de Artur. Então, ele que nos narra toda a história dessa figura tão conhecida.
As Lendas Arturianas
Ninguém sabe dizer ao certo se Artur existiu ou não. Mas existem correntes históricas que acreditam que Artur de fato existiu e que ele teria lutado na Batalha do Monte Badon. Porque ele é citado em alguns textos antigos. Mas a verdade é que não existe nenhuma comprovação confiável de que Artur existiu. Por isso, outras correntes acreditam que ele surgiu como uma figura folclórica e acabou tomando uma dimensão muito maior do que o esperado.
Independentemente da comprovação de sua existência ou não, o Rei Artur é a figura, histórica ou mitológica, que mais teve sua existência debatida. E sendo assim, é natural que sua história tenha sobrevivido até os dias de hoje. E ainda renda livros e filmes!
Como toda lenda, as Arturianas também ganharam diversas versões. Elas se alteram muito de uma para a outra e por isso, é impossível dizer qual é a versão verdadeira. Pois não existem versões verdadeiras de lendas.
A versão mais conhecida é aquela bem clássica. Com justas, a espada na pedra, donzelas indefesas, feiticeiras malvadas e Merlin ensinando Artur sobre conceitos básicos da vida. Pois esta ficou muito famosa em função da animação da Disney, A Espada Era a Lei (1963) e pelo livro de Marion Zimmer Bradley, As Brumas de Avalon (1993). Mas Cornwell nos apresenta uma versão um tanto quanto diferente da lenda.
A versão de Cornwell para As Crônicas de Artur
Bernard Cornwell é um escritor de ficção histórica. Portanto, embora as suas obras trabalhem com elementos e personagens fictícios, elas geralmente se passam em momentos e ambientes que de fato existiram e aconteceram.
É exatamente isso que ele faz em As Crônicas de Artur. Se a existência de Artur é debatida à exaustão, é praticamente certeza que Derfel Cadarn não existiu. Embora ele tenha sido parcialmente inspirado em guerreiros que existiram de verdade. Mas Cornwell coloca a história dos três livros do ponto de vista desse personagem.
Isso deixa o livro ainda mais curioso. Uma vez que o personagem principal é Derfel, mas o leitor passa mais tempo ouvindo falar de Artur do que de Derfel. Embora tenhamos vislumbres da vida pessoal de Derfel também.
Algumas alterações
A versão de Cornwell se passa na Grã-Bretanha após o domínio do Império Romano. Uma época em que a região sofria invasões tanto anglo-saxãs, quanto irlandesas. Mas a maior mudança é que nessa versão, Artur não é um rei e sim um general.
Essa pequena alteração já muda muito aquele panorama clássico que aparece na nossa cabeça toda vez que ouvimos falar de Rei Artur. Sai a ideia de um homem barbudo, sentado em um trono, esperando que outras pessoas resolvam os problemas do país para ele. Entra a ideia de um homem que comanda um exercito e que entra na luta corporal quando necessário.
Mesmo que nas versões mais clássicas, Artur seja sempre lembrado como um grande rei, justo e extremamente competente, na versão de Cornwell ele é lembrado como um grande guerreiro. O próprio Derfel idolatra Artur quase como a um Deus.
Cornwell não se limitou só a essa mudança. Outros personagens clássicos das lendas Arturianas foram repaginados. Como Lancelot, o primeiro cavaleiro da corte, que na maioria das versões é descrito como extremamente bonito e corajoso, que se apaixonou pela rainha Guinevere. Nessa versão, é descrito como um homem covarde e injusto, que nem merece um segundo olhar da rainha. E Merlin, um dos personagens mais famosos da literatura mundial, conhecido por sua sabedoria e gentileza, é descrito por Cornwell como um senhor interesseiro e rude, que mente e maneja as pessoas pelos interesses da Bretanha.
Paganismo X Cristianismo
Algo que aparece nas histórias mais conhecidas de Artur e que se mantém em As Crônicas de Artur é a briga entre o Paganismo e o Cristianismo.
Essa ideia aparece com bastante força em As Brumas de Avalon, que conta a história de Artur pelo ponto de vista das mulheres da sua vida. E essa guerra fica muito clara quando analisamos a personagem de Morgana, irmã de Artur, feiticeira e sacerdotisa de Avalon e Guinevere, esposa de Artur, cristã devota. Em As Crônicas de Artur essa dicotomia não fica tão evidente, mas aparece.
O Paganismo era, na época, uma religião relativamente popular. Ela acabou sendo encoberta e enterrada pelo Cristianismo, que no começo, era bem mais intolerante do que hoje. Tanto que muitos dos feriados cristãos que conhecemos hoje derivam de festas pagãs.
O livro de Cornwell fala sobre essa guerra religiosa, que de fato aconteceu. Merlin, que é um druida, luta para que os Deuses de sua religião não sejam esquecidos e que eles se sobreponham aos Deuses cristãos.
As Crônicas de Artur dão ao leitor uma versão pouco conhecida das lendas Arturianas, mas que por ironia, é a mais realista. Independentemente disso, a escrita de Cornwell é ótima e cheia de informações. Os livros são uma ótima pedida para os fãs das histórias do Rei Artur. E também para quem quer conhecer um pouco mais sobre essa figura tão famosa.