Conquistar, Amar e Viver Intensamente
Uma história de amor em meio a epidemia de AIDS
Conquistar, Amar e Viver Intensamente conta a história de Jacques e Arthur em meio a diversas dificuldades.
Jacques (Pierre Deladonchamps) é um escritor e dramaturgo parisiense que convive com a AIDS há um tempo. Ele leva uma vida um tanto quanto hedonista e não pretende sossegar. Até o dia em que ele conhece Arthur (Vincent Lacoste), um jovem estudante de 22 anos que mora em Rennes. Ambos são exatos opostos.
Um filme autoral
Conquistar, Amar e Viver Intensamente é o mais recente filme de Christophé Honoré, também diretor de Canções de Amor (2007), A Bela Junie (2008) e Bem-Amadas (2011). Sua marca está bem clara em todo o longa.
O filme começa já nos dando os créditos, dando um destaque especial aos sobrenomes das pessoas envolvidas na produção, como acontece em Canções de Amor. As cores do filme também nos remetem diretamente ao filme de 2007, já que o que predomina são os tons de azul, mais puxados para o pastel.
Conquistar, Amar e Viver Intensamente também aborda temas bem comuns aos filmes de Honoré. O primeiro, é claro, é a homossexualidade. Se em outros filmes, essa é uma questão que não fica clara desde o começo, em Conquistar, Amar e Viver Intensamente não se tem dúvidas sobre isso e a maioria dos personagens é gay.
Mas…
Como também aparece com frequência nos filmes do diretor, a sexualidade dos personagens não é engessada. Muitas vezes eles nem se definem como gays ou bissexuais. Arthur, por exemplo, mantém relações com garotos e com garotas e ele mesmo fala que gosta dos dois.
Um outro tema que mais uma vez se repete é a existência de personagens bretões. O que pode ser um conceito que não faz qualquer sentido para quem não é francês. Canções de Amor passa boa parte do filme falando sobre isso, o que também se repete aqui, uma vez que Jacques é francês e Arthur, bretão.
Até a cena que mostra Jacques, Arthur e o amigo de Jacques (Denis Podalydès) deitados juntos na cama, nos remete diretamente à cena de Canções de Amor que mostra Ismaël (Louis Garrel), Julie (Ludivine Sagnier) e Alice (Clotilde Hesme) na mesma situação.
Embora o filme não tenha nenhum dos atores que costumam trabalhar com Honoré, a dinâmica de personagens é praticamente a mesma. Pierre Deladonchamps interpreta o papel que poderia ser de Louis Garrel (que era de fato a primeira escolha para o papel) e Vincent Lacoste interpreta o papel que poderia ser de Grégoire Leprince-Ringuet.
Uma história de amor
Esta pode ser considerada uma história de amor, uma vez que acompanhamos o relacionamento de Jacques e Arthur. Assim, o filme começa nos mostrando como é a vida de Jacques, que é o protagonista, e mais tarde, conhecemos Arthur, que é um garoto que ainda está entendendo tudo que sente.
O filme também deixa claro o quanto os dois são diferentes. Não só porque tem idades diferentes, condições diferentes e porque vivem em lugares diferentes, mas porque suas personalidades são bem difusas. Jacques é um homem mais velho e conformado com a vida e com a sua doença. Ele não procura o amor, mas sim, se divertir. Nem que seja com rapazes que não estão interessados em um relacionamento.
Arthur, por outro lado, é um sonhador e é muito mais sensível do que Jacques. Ele se relaciona apenas com pessoas que gosta, sejam elas rapazes, ou moças. Ele procura se apaixonar, diferente de Jacques. Então, os dois se conhecem.
Conquistar, Amar e Viver Intensamente
O filme é muito delicado quando retrata o relacionamento dos dois, o que faz com que o público queira acompanhá-lo. Uma coisa interessante entre os personagens é que Jacques tem coisas a ensinar a Arthur, porque é mais velho e viveu mais. E Arthur tem coisas a ensinar a Jacques, justamente porque é jovem e não carrega tanta bagagem quanto Jacques. Nesse sentido, os dois se completam, o que torna o filme mais interessante.
Não existe assim nenhuma grande reviravolta. O longa passa a maior parte do tempo ocupado em mostrar o dia a dia do casal protagonista e como a relação dos dois se desenvolve. A história do filme vai para frente em função dos diálogos que são bem escritos.
Outro ponto interessante e que não é exatamente relevante é o fato do casal de protagonistas ser composto por dois homens. Embora o diretor acrescente detalhes em relação a isso, Conquistar, Amar e Viver Intensamente poderia retratar um casal heterossexual ou um casal de duas mulheres, uma vez que fala sobre uma história de amor.
AIDS como pano de fundo
Embora o espectador acompanhe um romance, o filme ganha tons mais sombrios e mais sérios quando usa a AIDS como pano de fundo para a sua história, que se passa nos anos 90, quando a AIDS tinha sido recém-descoberta e ainda era vista como uma sentença de morte.
Jacques convive com a AIDS há um tempo e está bem de saúde. Ele não esconde de ninguém a sua doença, nem de Arthur. E nem considera isso vergonhoso, o que é uma maneira bem diferente de tratar do assunto no cinema. Já o ex-namorado de Jacques, também portador do vírus, não está bem. É justamente a situação de seu ex-namorado que faz com que Jacques pense cada vez com mais frequência na possibilidade de sua morte. E também por isso que ele não tem a intenção de se envolver com ninguém.
Quando ele conhece Arthur, embora os dois se gostem, ele o evita ao máximo com a intenção de não se apegar ao rapaz. E também para que Arthur não se apegue a ele, já que ele não sabe quanto tempo ainda viverá. Já para Arthur isso não é importante. Ele tem apenas 22 anos e a ideia da morte nem passa pela sua cabeça. Para ele, todo mundo é imortal. É nesse momento que o filme faz jus ao seu título. Jacques e Arthur se conhecem, se apaixonam e vivem uma história de amor intensa e fugaz, em um período cruel, que afeta diretamente sua relação.
Aspectos técnicos de Conquistar, Amar e Viver Intensamente
Este é um filme simples em relação a sua produção. Não há efeitos e seus cenário se resumem a Paris e Rennes. Paris, inclusive é uma personagem do filme, como é comum nos longas de Honoré. Junto com Jacques e Arthur, passeamos pela cidade, pegamos o metrô e conhecemos seus pontos, sejam turísticos ou não.
As cores que predominam no filme são o azul e o cinza e a fotografia é mais puxada para o escuro, provavelmente para acompanhar um dos temas do filme: a doença de Jacques e o seu questionamento sobre a mortalidade. Outro ponto interessante é o fato de que as roupas não denunciam logo de cara que o filme se passa nos anos 90. Só é possível perceber isso quando notamos os aparelhos eletrônicos que aparecem. Isso deixa o filme um tanto quanto atemporal. Para o espectador mais desatento, vai parecer que o longa se passa nos dias de hoje.
Também comum nos trabalhos do diretor, o filme faz diversas referências a livros e filmes. Seja o pôster de Querelle (1982), de Rainer Werner Fassbinder na casa de Jacques; sejam os livros que Arthur, um leitor voraz, lê com ferocidade. A referência mais interessante é ao diretor François Truffaut, claramente uma inspiração de Honoré, que em Conquistar, Amar e Viver Intensamente tem o seu túmulo mostrado quando Arthur visita um cemitério em Paris.
O elenco
O elenco do filme também não é grande, e embora seja repleto de rapazes fazendo pontinhas, a trama se desenvolve mesmo entre Pierre Deladonchamps, Vincent Lacoste e Denis Podalydès. Os atores estão bem na pele de seus personagens, mas a atuação de Lacoste, que tem chamado atenção recentemente em papeis bem variados, é a mais interessante. O fato de seu personagem ser simpático e carismático também ajuda muito.
Conquistar, Amar e Viver Intensamente retrata uma história de amor bonita que tem como pano de fundo um período sombrio. O filme já está em cartaz.