Tá Rindo de Quê? – Humor e Ditadura
Tá rindo de quê? – Humor e ditadura traça um panorama da produção humorística nacional realizada principalmente no período de 1964 a 1985, quando toda atividade artística estava submetida à censura da ditadura militar.
O documentário aborda desde a precursora revista “Pif-paf”, criada por Millôr Fernandes, passando pelo “Pasquim“, que se consagraram com a irreverência crítica com que trataram a política, e vai até o grupo teatral cômico e anárquico “Asdrúbal Trouxe o Trombone”.
Programas de TV como o primeiro seriado brasileiro de sucesso Família Trapo, e os humorísticos de Chico Anysio, Jô Soares e Trapalhões também se destacam.
Tá Rindo de Quê?
No período da ditadura militar, mesmo com toda a brutalidade, truculência e obscurantismo inerentes aos regimes de exceção, muita gente fez rir. O humor serviu como arma de resistência, mas também como válvula de escape, criou formas de driblar patrulhas e censuras, revolucionou linguagens, criou, debochou, divertiu, foi perseguido, proibido, encarcerado e, ainda bem, riu por último.
O filme traz diversas imagens de arquivo e depoimentos atuais dos muitos comediantes, autores, jornalistas e cartunistas da época. A maioria deles ainda na ativa, nos provando que é impossível impedir o humor de nascer e se espalhar.
Apesar do tema ditadura ser bem pesado, o documentário Tá Rindo de Quê é assistido de forma leve. Somos capazes de nos divertir com as memórias de um passado absurdo e obscuro que insiste em bater em nossas portas novamente.
Quem se curva aos opressores, mostra a bunda aos oprimidos
Um dos diretores, Claudio Manoel, famoso pelo programa Casseta e Planeta confessa que a intenção era de fazer rir, sempre. Então, aqui a produção traz o recorte de um período da história brasileira pelo lado mais incomum, ou seja, o humor. As charges auxiliam em cada assunto retratado e para isso contamos com as artes de Henfil, Ziraldo, Jaguar, Millôr Fernandes, entre outros.
Assim, mesmo abordando um tema tão pesado, o filme é visto com olhos nostálgicos. Acompanhamos imagens antigas de Chico Anysio no Programa Chico City, Jô Soares e a Família Trapo, Balança Mas Não Cai, Praça da Alegria, entre outros. Então mesmo quem não viveu aquela época consegue criar um vínculo emocional com a história desse humor. Tanto pelos remakes quanto pela memória da televisão brasileira.
Humor de resistência
As artes acabavam se utilizando da censura como um verdadeiro motor para que o humor não parasse nunca. Este período de repressão e controle barrava tanto o humor político quanto o comportamental. Para a direita conservadora, os artistas eram o perigo, eram subversivos. Mas eles afirmam: a arte que corrompe é a mais saudável.
Então todo aquele humor, que veio do rádio, foi para a televisão, estava presente no teatro e nas revistas, era feito para castigar a moral. Eram verdadeiras sátiras aos costumes. E sempre com a repressão em cima. Satirizando o comportamento da sociedade principalmente na televisão e o humor político principalmente nas bancas.
Faça humor, não faça guerra
Daniel Filho fala sobre as dificuldades de se escrever novelas quando não se podia nem falar sobre adultério. Ele diz que se sentia como um aluno tendo que levar seus textos para a coordenação checar antes de aprovar. Afinal, tudo que se escrevia, tinha que passar impreterivelmente pela Polícia Federal.
Patrycia Travassos, Regina Casé, Fafy Siqueira e Alcione Mazzeo ainda falam sobre o espaço que a mulher tinha nos programas humorísticos da televisão. A moça ou era burra e gostosa, ou era feia e engraçada. Tá aí um aspecto que ainda tem adeptos, mas que já derrubou muitas barreiras.
Em breve, os mesmos diretores e produtores lançarão o documentário Rindo à toa, que mostrará o período seguinte através dos olhos do humor totalmente liberado. Não há mais censura, pode tudo. E neste ponto podemos estabelecer um contato com um outro documentário onde se debate o limite do humor, O Riso dos Outros, disponível aqui. Tá Rindo de Quê? estreia dia 28 de fevereiro nos cinemas.