Suspíria: A Dança do Medo, remake do filme de 1977

Em Suspíria, Susie Bannion (Dakota Johnson) é uma americana que vai para Berlin para ter aulas em uma famosa escola de dança. Lá, ela começa a ouvir histórias sobre o sumiço de outra garota, Patricia (Chloë Grace Moretz).

Susie se desenvolve muito bem e logo se torna a protagonista do espetáculo de dança que a escola está montando. Além disso, ela fica cada vez mais próxima de Madame Blanc (Tilda Swinton), a professora. Mas logo, Susie e Sara (Mia Goth), outra aluna, começam a notar que tem algo estranho acontecendo na escola.

Suspíria: A Dança do Medo é inspirado em Suspiria, do diretor italiano Dario Argento.

O poder do feminino

O poder feminino é algo que ronda essa trama desde seu filme original, afinal, acompanhamos uma escola de dança que é composta somente por mulheres. Sejam elas professoras ou alunas. No remake, no entanto, Luca Guadagnino (que também dirigiu Me Chame Pelo Seu Nome) parece querer ir mais fundo no assunto.

O filme já começa nos mostrando diversas figuras femininas. Não vemos seus rostos, mas sabemos que se trata de uma reunião só entre mulheres. E entre essas cenas, acompanhamos imagens de objetos e roupas que estão geralmente ligados ao universo feminino. Tudo isso é mostrado de forma bem delicada e as cores usadas são frias, o que passa uma sensação de calmaria.

Isso não prossegue pelo resto do filme, é claro. O longa vai ficando cada vez mais escuro e as cores usadas cada vez mais quentes. As imagens femininas que aparecem depois, aparecem nos sonhos de Susie e são cada vez mais pesadas, explícitas e até sexuais.

Existe também uma tentativa de atribuir uma ideia feminista por trás do filme, o que não é ruim, mas é mal executada. Um filme que tem só mulheres no elenco (inclusive interpretando papeis masculinos), e que tem personagens que se preocupam e falam sobre outra coisa que não os personagens masculinos, já é um filme feminista. Mas Guadagnino tenta deixar isso mais claro.

As personagens falam sobre independência financeira das mulheres e sobre homens que não dão valor à opinião feminina. Mesmo com o filme se passando nos anos 70 e essas ideias não eram tão disseminadas na época.

Perturbador

Suspíria: A Dança do Medo se define como um filme de terror, mas ele não é exatamente assustador. O espectador acompanha muitas cenas aflitivas, repletas de cortes, sangue e até extrações de órgãos, mas nada disso assusta, apenas faz com que a plateia vire o rosto ou cubra os olhos.

A atmosfera do filme tem um suspense que segura o público por um tempo. Isso, acompanhado dos sons estranhos e incômodos e das cenas bizarras que aparecem nos sonhos de Susie, torna Suspíria um filme perturbador, mas não vai deixar as pessoas acordadas à noite.

O tema por trás do filme é interessante e assustador e poderia render muitas reflexões, mas ele parece meio desperdiçado.

Os muitos temas de Suspíria

Talvez o grande problema deste filme seja o fato de tentar abarcar temas demais e assim não conseguir falar direito sobre nenhum.

O filme quer falar sobre feminismo e o poder feminino, mas também quer falar sobre sexualidade e repressão. Assuntos que poderiam conversar entre si, mas que não o fazem. Além disso, o filme também quer falar sobre política. Somos levados para Berlin na época em que a Alemanha estava dividida entre oriental e ocidental. E isso, de alguma maneira, se reflete na trama do filme. Não bastasse isso, Suspíria: A Dança do Medo recapitula a juventude do psiquiatra Dr. Klemperer (também interpretado por Tilda Swinton) na época da Alemanha nazista e também tenta falar sobre isso.

O filme mira muito alto, quando poderia ter se mantido a um tema só e ter desenvolvido isso bem, ao invés de jogar uma enorme quantidade de temas diferentes em uma única trama.

Aspectos técnicos de Suspíria: A Dança do Medo

Por outro lado, Suspíria é um filme esteticamente bonito. Guadagnino sabe quando mudar o clima do filme e faz isso através dos cenários, fotografia e figurinos. Começando com cores claras e que transmitem tranquilidade e terminando com muito vermelho e uma fotografia cheia de sombra, que deixa o espectador aflito e ansioso.

A montagem é outro ponto interessante do filme. Em diversos momentos acompanhamos uma cena de dança, ao mesmo tempo que acompanhamos uma cena extremamente violenta. Os movimentos das duas cenas são parecidos, o que nos passa a impressão de que a dança é violenta e de que violência é uma dança.

O elenco conta com nomes famosos, que muito provavelmente vão atrair um público jovem ao cinema. Chloë Grace Moretz, que é uma boa atriz, mas tem pouquíssimo espaço no filme e Dakota Johnson (a protagonista de 50 Tons de Cinza), cuja atuação não empolga muito. O elenco é completo por Tilda Swinton, que interpreta três papeis bem diferentes um do outro, Mia Goth e Jessica Harper, a protagonista do Suspíria original.

O remake de um clássico

Diferentemente do filme de 1977, Suspíria: A Dança do Medo parece querer explicar cada aspecto do filme, o que não ajuda. Essa vontade de esclarecer tudo para o público impede que cada um formule sua própria conclusão e deixa o filme mais longo.

O filme tem 2 horas e 26 minutos, o que o prejudica ainda mais. O longa prende a atenção da plateia durante um tempo, mas logo surge aquela sensação de que o filme perdeu várias chances de acabar. Cada vez que uma dessas cenas passa, surge outra com mais explicações em seguida.

O resultado é que Suspíria: A Dança do Medo tem um tema interessantíssimo e uma estética muito bem feita, mas desperdiça tudo isso em um filme longo e mal conduzido. O filme entra em cartaz no dia 28 de março.