Família Submersa, um filme introspectivo
Família Submersa é o filme que marca a estreia de Maria Alché (protagonista de A Menina Santa, de Lucrecia Martel) na direção de longas-metragens. O longa é estrelado pela reconhecida atriz argentina Mercedes Morán.
Na história, Marcela (Mercedes Morán) perde sua irmã Rina, ficando completamente abalada. Entretanto, sua rotina tem que continuar. Ela ajuda seus filhos, faz as tarefas de casa e tem a missão de esvaziar o apartamento da irmã. Marcela acaba se apoiando em Nacho (Esteban Bigliardi), um jovem amigo de seus filhos, que lhe oferece ajuda para seguir a vida. Conforme o tempo passa, o passado e o presente de Marcela se entrelaçam e ela começa a questionar sua própria natureza.
É verão em uma Buenos Aires vazia e abafada. O mundo de Marcela se estremece quando sua irmã morre e tudo se torna distante e pouco familiar. Enquanto vive o luto, ela tem que se desfazer dos pertences e do apartamento de sua irmã. Disposto a ajudar, Nacho entra em cena. Sua presença dá lugar a viagens e aventuras compartilhadas. Durante esses dias confusos, as pessoas e as conversas de outra época se interligam, trazendo alguns questionamentos a Marcela, à medida que a iminência da vida quotidiana entra em ação.
Sensação de cansaço e solidão
Família Submersa é um filme um tanto quanto difícil. De desenvolvimento arrastado, é uma daquelas histórias que parecem que não chegam a lugar nenhum. Uma família comum, que tem problemas comuns. A máquina de lavar roupa enguiça, a filha termina o namoro, o filho precisa estudar química e por aí vai. A perspectiva de todos os problemas, no entanto, é de Marcela. A mãe, esta mulher que se sente cansada e solitária, mesmo com tanta gente ao redor.
Enquanto ela tem que resolver todas as questões em casa, vive um luto que lhe traz apego até aos bens materiais. Ela parece não querer se livrar das coisas que pertenciam à sua irmã. Seja uma travessa encontrada no congelador com um brownie estragado, seja a coleção de plantas. Marcela vai preenchendo o vazio que a irmã deixou com os objetos que consegue enfurnar dentro de sua casa.
Num apartamento apertado, de fotografia escura, a sensação é de claustrofobia, como se não houvesse para onde ir. Quando está com Nacho, no entanto, Marcela se sente mais livre. Eles fazem vários passeios ao ar livre, conversam com pessoas, fumam na varanda e dançam. No apartamento da irmã, onde as memórias se misturam ao presente, há sempre mais luz.
Família Submersa
A diretora Maria Alché explica o porquê de fazer o filme: “Quis contar o que acontece com uma mulher nesse epicentro do luto pela morte de sua irmã, vivendo muitos sentimentos e sensações simultâneos. Algumas das coisas que a atravessam são triviais, outras são metafísicas. Queria transmitir isso deixando uma sensação aberta para que cada espectador fizesse sua própria leitura“.
Mercedes e María já tinham trabalhado juntas em A Menina Santa como mãe e filha, quando ela apenas dava seus primeiros passos como atriz. “Adorei poder acompanhar a Maria nesse seu primeiro longa-metragem, vê-la florescer como diretora em um trabalho muito interessante e introspectivo” comenta Mercedes que neste ano também lançou o longa Um Amor Inesperado, com Ricardo Darín.
Família Submersa é um filme sensorial e introspectivo que traz o luto e as reações de uma mulher à morte de sua irmã. Através de diálogos banais e uma mistura de presente e memórias, o filme não deixa claro qual a sua mensagem final, mas pode agradar aos amantes da sétima arte. O filme entra em cartaz dia 04 de abril.