Border (Fronteira), um romance bizarro e perturbador
Border é um filme sueco, dirigido pelo iraniano Ali Abbasi, baseado no conto homônimo escrito por John Ajvide Lindqvist, o mesmo autor de Deixa Ela Entrar.
Tina é uma policial que trabalha numa alfândega portuária fiscalizando bagagens e passageiros. Ela possui uma espécie de sexto sentido, que faz com que seja capaz de “ler as pessoas”. Isso sempre representou uma vantagem na sua profissão, mas tudo muda quando ela identifica um criminoso em potencial e não consegue achar provas para justificar sua intuição, levando-a a questionar toda sua existência.
Quem é Tina?
A vida de Tina se resume a ir ao trabalho, farejar pessoas suspeitas e voltar para casa. Parece simples, mas não é, pois Tina não é uma pessoa “normal”. Ela até se comporta como tal, na maior parte do tempo, mas sua aparência faz com que pessoas se assustem, a estranhem e acabem até lhe ofendendo. Seu corpo inteiro possui deformidades, ossos largos, dentes protuberantes e pelos em excesso. Para “compensar”, Tina possui esse olfato super poderoso, que fareja não só os problemas, mas também os sentimentos. Assim, ela consegue captar o que as pessoas estão “exalando”, como vergonha, culpa, raiva, e também mentiras. Ou seja, uma mão na roda para a segurança do estabelecimento.
Sua casa é bem afastada, no meio do mato. Por isso conhecemos também a sua relação com a natureza. Seja com as plantas, com os insetos ou com os animais. Não existe Tina sem um passeio pela floresta no fim do dia. Ela mora com um companheiro um tanto aproveitador, mas eles dormem em camas separadas e o diálogo entre os dois é mínimo. O homem é mais preocupado com as competições de seus cães do que em manter um relacionamento saudável com ela.
O pai de Tina se encontra internado em um asilo e diz que o problema de má formação da filha se deu por conta de uma anomalia nos cromossomos. E isso é tudo o que sabemos sobre essa moça tão misteriosa. Até o dia em que surge um rapaz com os mesmos traços físicos de Tina. Seu nome é Vore e ele é farejado por ela. No entanto, a moça não consegue descobrir qual é o tipo de culpa que Vore carrega.
Border (Fronteira)
Enquanto isso, está acontecendo a investigação de um caso de pedofilia também farejado por Tina. Ela fica à frente das buscas, por conta de seu “dom”, mas também consegue tempo para conhecer Vore um pouco mais a fundo. Diferentemente de Tina, Vore tem um comportamento totalmente estranho e não esconde de ninguém. Mas todas as suas peculiaridades (e não são poucas) não impedem que um sentimento surja entre eles.
Em meio a um romance bem diferente, rituais de acasalamento bem animalescos e consequências chocantes, Border pode te deixar preso à cadeira. Eu confesso que adorei cada cena bizarra que acontecia em tela. Uma mais estranha que a outra, fazendo com que a trama tomasse proporções gigantescas.
Curiosidades
A primeira aproximação do diretor Ali Abbasi com as histórias do escritor John Ajvide Lindgvist foi através do longa Deixa Ela Entrar, que ele considera uma verdadeira lufada de ar fresco no cinema sueco. Só após ver o filme leu o livro e, indicado por um amigo, chegou ao conto Border, do mesmo autor.
O filme concorreu ao Oscar de Melhor Maquiagem. Também, se vocês repararem, os atores não tem nada a ver com seus papéis representados. Ainda bem, pois Vore me lembrou um videoclipe de Aphex Twin que me traumatizou por um bom tempo. Tem coragem? Assista aqui.
Sendo assim, Border entra na minha lista de favoritos, pois é um filme que incomoda, mas também entretém e faz pensar. Tocando em assuntos polêmicos como a adequação social, identidade de gênero, pedofilia, sexo e auto estima, espero ter atiçado a curiosidade de vocês, pois Border entra em cartaz dia 11 de abril e vale MUITO a sessão!