A Cura – Duas horas e meia de muita pretensão
Um ambicioso executivo é enviado para os Alpes Suíços para resgatar o CEO de sua companhia de um Centro de Cura, mas logo descobre que o local não é tão inócuo quanto parece. Isso é o que diz a sinopse, que vende A Cura como um suspense psicológico (que de fato o é, na maior parte da sessão), até se revelar como um inesperado horror gótico (que poderia ter salvado a obra horas antes).
Gore Verbinski sempre foi um diretor dado a exageros e tem como marca registrada as longuíssimas durações de seus filmes. Iniciando otimamente com O Chamado e depois de conquistar o mundo com a divertida e marcante trilogia Piratas do Caribe, o homem se viu numa espiral de erros desde então. Rango é muito bacana, mas mesmo para uma animação não juvenil, ainda se alonga demais. O Cavaleiro Solitário é bem intencionado, mas se perde nas próprias ideias.
Este A Cura não é nem divertido nem assustador, não sabe se investe no mistério ou no absurdo. Portanto, aposta em vários desses elementos para entregar um verdadeiro filme Frankenstein (só para mantermos a piada com o cientista maluco). De cervos correndo na estrada (O Chamado já brincava com animais antes, algo que vimos depois em Corra!), a briga de bar contra punks e motoqueiros (sério?), passando pela lenda local, que a cada instante tem uma versão e nunca se firma para compreensão do espectador. Ou seja, tudo nesse filme é brega e melodramático.
A Cura
Dane DeHaan não está em seu melhor papel e parece tão perdido quanto o protagonista sem sal que interpreta. Mia Goth, por outro lado, faz direitinho a moça estranha que guarda doçura e segredos. Além disso, é um símbolo sexual poderoso para o diretor. À medida que Jason Isaacs faz o que pode com o diretor do Centro de Cura, um vilão rudimentar e nada sutil. Com suas intenções nefastas, talvez evoque os monstros clássicos, como Drácula, onde o público já sabe que ele era maligno, mas não os personagens que o rodeiam.
Dessa maneira, Verbinski brinca com ângulos de câmera (que nunca servem ao enredo) e capricha bastante na fotografia (único ponto realmente forte da produção), mas se deslumbra com um roteiro que dá voltas em si mesmo (co-escrito com Justin Haythe), repetindo informações e despejando detalhes em tela, como se para reafirmar a seu público quais são suas verdadeiras intenções: a de realizar um filme de monstro.
A trama
E realmente a história fica mais interessante quando isso se evidencia (fortalecendo sua direção de arte, a atmosfera da trilha sonora, o sufoco aflitivo pelo qual o protagonista passa em dados momentos), mas no instante seguinte o diretor banaliza a própria obra, em favor de seus fetiches bastante duvidosos, caindo para um soft porn bizarro e incondizente com o que havia se mostrado até então.
A personagem Hannah o tempo todo é descrita como alguém que cresceu com atraso, portanto era uma criança em corpo de adolescente (o que é verbalizado também). Depois que ela menstrua pela primeira vez em uma piscina (com direito a serpentes rodeando seu corpo, em uma breguice pornográfica que remete aos tentáculos japoneses), é levada para a cama pelo próprio pai (um monstro, nos dois sentidos), que toca seus seios e a masturba, depois cheira os dedos. A cena é longa…
A intenção daquele momento já seria asquerosa o suficiente só pelo poder da sugestão, sem precisar rasgar o vestido da moça. Entretanto, Verbiski precisa daquilo, portanto dedica mais minutos em mostrar detalhes que ninguém pediu para ver. É diferente de assistirmos a um dente sendo perfurado ou um rapaz engolindo vermes. Jogos Mortais já havia nos treinado para isso. O diretor claramente quer que sintamos prazer com a cena, afundando assim um filme que já não ia bem das pernas.
A produção até tem seus méritos técnicos e poderia se tornar um clássico cult de monstro moderno, mas o roteiro chuleira e a desculpa que o diretor usa para ver uma menina sendo brutalizada, apenas indica que nada aqui tem cura.