A Garota Radiante
O holocausto por outros olhos
A adolescente Irene (Rebecca Marder), de dezenove anos, está cada vez mais interessada em teatro e se dedica a uma audição que tem pela frente. Ao mesmo tempo, ela também se apaixona pela primeira vez e começa a viver as delícias do primeiro amor. Mas o ano é 1942, e Irene é uma jovem judia vivendo na França e está prestes a testemunhar a ascensão do partido nazista.
Vivendo como uma adolescente
Fica estabelecido desde o começo de A Garota Radiante que o filme não se passa nos dias de hoje, embora isso não seja dito inicialmente, mas é possível notar a falta de algumas tecnologias e as roupas que os personagens usam, que remetem à década de 1940. A plateia também sabe que está acompanhado uma família de judeus, vivendo na França, mas demora um tempo para que se junte todas as peças do quebra-cabeça.
Isso porque, A Garota Radiante é, em muitos sentidos, um filme de formação que acompanha uma adolescente como outra qualquer, vivendo questões comuns a esse período da vida. Irene tem dezenove anos e está se preparando para um teste no teatro, ela quer estudar em um conservatório e ser atriz, ela se diverte com amigos e paquera os rapazes. Ao longo do filme, ela se apaixona pela primeira vez por Jacques (Cyril Metzger) e é correspondida. O único diferencial de Irene para qualquer outra garota da mesma idade é justamente o fato dela ser excessivamente animada.
O longa é interessante porque trata de um período histórico trágico que é de conhecimento geral, mas que aqui ganha outros tons: sabemos que o nazismo bate a porta desses personagens, no entanto, em vários momentos, o longa soa quase como uma comédia romântica e o holocausto, que está por vir, é uma espécie de pano de fundo para as descobertas de Irene.
A ascensão do nazismo
Não é possível dizer que o grande tema de A Garota Radiante é o nazismo, porque o que de fato é importante aqui é a vida de Irene e o longa escolhe retratar questões que perto do holocausto soam bobas e fúteis. Por outro lado, elas são extremamente relevantes para Irene, que claro, almeja um futuro.
O nazismo, no entanto, se espalha aos poucos pela França e nós vamos tendo pequenas pistas disso, primeiro são as estrelas que a família precisa costurar nas roupas, depois é o pedido aterrorizado do pai (André Marcon) da protagonista de que ela não fique na rua por tanto tempo, e por fim, os oficiais nazistas andando sem pudor pela cidade. Nesse sentido, o filme lembra um pouco Cabaret, que se passa no mesmo período e que também retrata pessoas que parecem, de maneira voluntária ou involuntária, não notarem o que acontece à sua volta e como o perigo se aproxima aos poucos.
Como a personalidade de Irene é efusiva, a plateia fica sem saber se ela realmente não nota o perigo antes que seja tarde demais, ou se ela usa dessa efusão para se afastar da realidade terrível e cruel que ela não quer ver. Nenhuma das duas opções adianta, porque embora Irene não saiba, a plateia sabe muito bem o que vem pela frente e essa é a tragédia de A Garota Radiante.
Aspectos técnicos de A Garota Radiante
O longa trata, ainda que de maneira distante, de um tema que já foi muito retratado no cinema, o diferencial aqui é a maneira com que isso é feito. O holocausto é apenas o pano de fundo da história de Irene, o longa começa e termina antes dele começar, mas o nazismo cerca todos os cantos da vida desses personagens, mesmo que Irene não queira ou não consiga ver.
O tema e a maneira de narrar são interessantes, mas o filme demora um pouco para mostrar a que veio, e durante bastante tempo, a trama de Irene, que consiste em seus sonhos e seus romances juvenis, soa um pouco bobinha, o que deixa o longa um pouco cansativo.
Rebecca Marder, que interpreta Irene, é muito carismática e divertida, sua personagem realmente dá uma luz ao filme, e o resto do elenco também se sai bem.
A Garota Radiante é um filme que explora um acontecimento histórico e terrível de maneira diferente, os relacionamentos de Irene e sua vida, que é a de uma adolescente comum, chegam a ser bonitinhos, o que contrasta com o período abordado e esse é o grande diferencial do longa. É uma pena que ele mostre suas verdadeiras intenções muito perto do final. A Garota Radiante chega aos cinemas no dia 30 de março.