A Jornada, a escolha entre a carreira e a maternidade

A escolha entre a carreira e a maternidade

A Jornada nos traz a história de Sarah (Eva Green), uma astronauta que sonha em sair da órbita da terra. Quando é selecionada para ir até Marte, ela precisa deixar sua filha de sete anos, Stella (Zélie Boulant-Lemesle), com o pai (Lars Eidinger) e aprender a lidar com um universo majoritariamente masculino, que normalmente não se preocupa com as mesmas questões que Sarah, além de administrar suas próprias emoções em relação a maternidade e a sua carreira.

A Jornada é um filme que fala sobre uma missão que deve ir a Marte e, nesse sentido, poderia muito facilmente ser incluído na categoria de filmes sobre o espaço, como Interestelar e Ad Astra – Rumo às Estrelas, mas aqui existem aspectos muito diferentes. Embora o filme se preocupe em mostrar os procedimentos e os treinamentos aos quais Sarah é submetida para poder cumprir sua missão, a trama se preocupa muito mais em mostrar o ponto de vista de Sarah e Stella sobre essa ida a marte.

Eva Green como Sarah em A Jornada
Eva Green como Sarah

É então que A Jornada se torna um filme sobre viagens espaciais completamente diferente, afinal, é dificílimo ver um filme sobre esse tema que seja narrado do ponto de vista de uma mulher e, muito menos, do ponto de vista de uma criança. A partir disso o longa consegue trazer vários questionamentos que circundam uma mulher que está se preparando para fazer uma grande viagem. E mais do que isso, uma mulher que precisa balancear sua vida entre a sua carreira e a maternidade.

A jornada entre carreira e vida pessoal

Mas muito mais do que um filme que retrata uma viagem ao espaço, A Jornada quer falar sobre a vida de Sarah e sobre as implicações do que é ser uma mulher trabalhando em um ambiente tradicionalmente masculino. Sarah é uma profissional competente, que conseguiu uma vaga para realizar o seu maior sonho, que é sair da órbita da terra. Ela também é uma mulher divorciada, que cuida de sua filha de sete anos quase em tempo integral. Quando aceita a missão, ela também aceita participar de uma série de treinamentos, de uma quarentena e a passar um ano longe de sua filha. É nesse momento que ela precisa da ajuda de seu ex-marido.

Sarah precisa se dividir entre seu trabalho e sua filha
Sarah precisa se dividir entre seu trabalho e sua filha

Thomas, o pai de Stella, é um pai presente, que se predispõe a ficar com a menina enquanto Sarah viaja. No entanto, a mulher ainda se vê dividida entre sua carreira e sua família. A Jornada mostra em tons muito claros as enormes dificuldades que Sarah enfrenta enquanto tenta dar conta dos dois papeis que mais importam para ela, o de profissional e o de mãe.

Sarah sempre tenta se mostrar mais forte e mais competente que seus colegas homens, mas mesmo assim escuta piadas machistas e insinuações de que ela deveria fazer um “treinamento mais leve”. Tudo fica ainda mais escancarado quando ficamos sabendo que seus colegas de missão, também têm filhos, mas que não existe nenhum julgamento em relação as crianças se sentirem abandonadas com a ida dos pais ao espaço e que os dois tem mulheres, esposas, ex-esposas, mães, que estão dispostas a cuidar das crianças para eles, e que isso é visto da maneira mais natural possível, enquanto Sarah é sempre questionada sobre as suas decisões.

Green em cena do filme A Jornada
Green em cena do filme

É duro ser mulher

O filme ainda entra em outros méritos, como o fato de Sarah manter o cabelo comprido e decidir não interromper sua menstruação durante a viagem, quando é “mais prático”, cortar o cabelo e a menstruação, dando a entender que a mulher deve se adaptar de todas as maneiras à sua carreira e ao mundo, enquanto a carreira e o mundo não podem de maneira nenhuma se adaptarem à mulher.

É claro que o filme escolhe mostrar isso de uma maneira quase extrema. A profissão de Sarah exige muito dela, exige que ela passe meses longe de sua filha e que ela arrisque sua vida sempre que faz um treinamento, mas a trama que A Jornada narra pode ser reconhecida por qualquer mulher que tenta conciliar sua carreira e sua vida pessoal, especialmente quando se vive em uma sociedade que acredita que as questões referentes à casa e aos filhos são exclusivamente trabalhos femininos.

Aspectos técnicos de A Jornada

O filme usa a trama do espaço para falar de problemas muito próximos de nós. Diferentemente de filmes que querem se focar na experiência dos astronautas fora de órbita, A Jornada quer falar sobre a relação entre mãe e filha. O longa nos mostra vários treinamentos aos quais Sarah é submetida para ir ao espaço e que nos colocam dentro daquele universo, no entanto, mesmo nos apresentando uma série de procedimentos altamente tecnológicos, o filme não usa de muitos efeitos e essa nem parece ser sua ideia.

Sarah e Stella
Sarah e Stella

Existe uma perspectiva bem interessante do trabalho de uma astronauta levando o espectador a acompanhar tanto o ponto de vista de Sarah, que se esforça para realizar seu sonho ao mesmo tempo que se martiriza por não cuidar de sua filha e fica o tempo todo dividida entre as duas coisas, como boa parte das mulheres, e o de Stella, que tenta compreender o que a mãe quer e precisa fazer, mas ainda sente falta dela e se pergunta por que não pode vê-la.

Como o filme segue a personagem de Sarah quase o tempo todo, a atuação de Eva Green é um ponto importante. A atriz entrega uma boa performance, que nos convence especialmente nos momentos mais tensos. Green nos mostra uma Sarah que é forte e frágil ao mesmo tempo e justamente por isso, é real. É possível se reconhecer nas dúvidas de Sarah, mesmo que o espectador não planeje ir ao espaço tão cedo.

A Jornada acompanha o ponto de vista de Sarah e de Stella
O filme acompanha o ponto de vista de Sarah e de Stella

Mãe e filha

Também é muito relevante que Green e Boulant-Lemesle, a jovem atriz que interpreta Stella, tenham tanta química em cena. A relação das duas parece de mãe e filha e a plateia sai do cinema acreditando no que assistiu e sofrendo junto com as duas.

A Jornada usa de uma questão extrema e que parece fora da nossa realidade para falar de problemas muito próximos de nós, como as dificuldades que a mulher enfrenta no mercado de trabalho, a pressão que existe em cima da profissional que também é mãe, e a dificuldade de balancear uma vida profissional e pessoal, principalmente quando se é mulher.

O filme chega aos cinemas no dia 19 de março.

A Jornada

Nome Original: Proxima
Direção: Alice Winocour
Elenco: Eva Green, Matt Dillon, Aleksey Fateev, Lars Eidinger, Sandra Hüller
Gênero: Drama, Ação
Produtora: Dharamshala, Darius Films, Pathé, France 3 Cinéma, Pandora Film
Distribuidora: Paris Filmes
Ano de Lançamento: 2019
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