A Luz no Fim do Mundo, o mundo sem mulheres
Em A Luz no Fim do Mundo nos vemos em uma realidade pós-apocalíptica, onde todas as mulheres morreram, vítimas de uma doença misteriosa. Um homem (Casey Affleck) precisa proteger sua filha (Anna Pniowsky), que parece ser uma das poucas mulheres restantes no mundo.
Em nenhum momento ficamos sabendo em que ano a história se passa, mas fica claro que estamos em um futuro (talvez não tão) distante. Para qualquer pessoa que já tenha assistido a um filme pós-apocalíptico, fica claro logo no princípio que esse é mais um filme do gênero.
Isso porque boa parte dos aspectos típicos dos filmes desse estilo estão presentes em A Luz no Fim do Mundo: lugares desertos, pessoas sujas e parecendo malcuidadas e instalações bem precárias.
A Luz no Fim do Mundo
No entanto, este filme apresenta uma premissa relativamente criativa. No longa, as mulheres de repente ficam doentes e aos poucos morrem, e os homens são os únicos sobreviventes.
Somos apresentados a esses fatos através de pequenos flashbacks onde vemos a esposa (Elisabeth Moss) do protagonista primeiro cuidando da filha e, então, notando que também está infectada pela doença. O contexto é extremamente importante para um filme como esse, uma vez que o espectador é colocado em um mundo completamente novo e desconhecido, do qual ele não sabe nada e o roteiro faz isso de maneira bem competente.
O mundo sem mulheres
O que fica para o público é a ideia de que o mundo, agora, prossegue sem qualquer mulher. Nenhuma além da filha do protagonista. Embora se escute em determinado momento que existem lugares que estão protegendo mulheres sobreviventes. Isso nos faz pensar que existem outros casos de mulheres que sobreviveram à doença, mas só somos apresentados a filha do protagonista.
Como o protagonista diz, os homens são egoístas e, por isso, o mundo deixou de ser justo. Também é em função disso que ele veste a filha de maneira masculina e corta seus cabelos bem curtos, para que ela pareça um menino e dessa maneira, esteja segura.
A metáfora então, é óbvia
O filme quer falar sobre a igualdade entre os sexos, uma vez que o pai diz que a filha só vai poder contar a outras pessoas que é uma menina quando “o mundo for justo novamente”. No entanto, o mundo como é hoje ainda é machista e patriarcal e, embora o mundo apresentado no filme seja tudo isso em maior grau e ainda por cima selvagem e regado pelo instinto de sobrevivência, o que o pai diz não é completamente verdade.
Por outro lado, é interessante a maneira com que Affleck, que além de estrelar, também escreveu e dirigiu o filme, fala sobre a desigualdade. O medo que o pai tem de que descubram que sua filha é uma menina e a maneira com que ele a protege, fazem um reflexo direto com a violência e o machismo que qualquer mulher é exposta simplesmente ao sair de casa.
Por outro lado, também é curioso que Affleck tenha escolhido falar sobre esse tema e fazer um filme que fale, de uma certa forma, sobre feminismo e igualdade de gêneros, já que ele é acusado de assédio sexual por duas mulheres, fato que foi alardeado de maneira bem enfática em 2017, quando ele ganhou o Oscar de melhor ator por Manchester à Beira Mar. Quando se sabe dessa questão, A Luz no Fim do Mundo, que tem uma mensagem interessante e relevante, acaba soando um tanto quanto oportunista, como se surfasse na onda do feminismo atual, mas não acreditasse em boa parte do que fala.
Aspectos técnicos de A Luz no Fim do Mundo
A trama consegue colocar o espectador dentro do seu universo de maneira bem-feita, o que é extremamente necessário para um filme que tem o seu próprio mundo e suas próprias regras. Os detalhes se estabelecem através de flashbacks, onde ficamos sabendo como a doença começou, e através de falas e discursos do pai, que lembra como mundo era antes de tudo acontecer.
O discurso que o filme parece querer passar também é interessante e combina com os dias atuais, mas as intenções por trás da criação do autor certamente são questionáveis. Se ignorarmos isso, no entanto, é possível tirar pontos interessantes. O longa também apresenta boas atuações, que dão conta do recado. A pequena Anna Pniowsky é ótima e que consegue cativar a audiência desde a sua primeira cena.
A Luz no Fim do Mundo tem uma fotografia escura e fria, assim como os seus cenários que são em sua maioria, lugares escuros e abandonados e muita neve, o que certamente combina com o tema que Affleck quer retratar, mas que vão, ao longo do filme, afastando o espectador, que não consegue se envolver completamente na trama dos dois personagens. Isso somado ao tempo de filme (1h59min) acaba o tornando um pouco cansativo e monótono.
O longa tem seus pontos interessantes, e transmite uma mensagem importante, mas pode cansar os espectadores que não entrarem completamente na história. O filme entra em cartaz no dia 17 de outubro.