A Moça do Calendário

“A MOÇA DO CALENDÁRIO”, de Helena Ignez, traz as contradições do país, a luta de classes, as questões de gênero e o sonho como agente libertador no centro da trama. O filme é baseado em um roteiro escrito por seu marido, Rogério Sganzerla, antes de sua morte, em 2004.

A Moça do Calendário narra a história de Inácio (André Guerreiro Lopes) que trabalha em uma oficina de carros e como dublê de dançarino, e sonha com a moça (Djin Sganzerla) que estampa o calendário na parede da oficina. O filme mistura realidade com sonhos o tempo todo.

A princípio, A Moça do Calendário parece ter uma história cronológica, mas isso logo se perde, enquanto acompanhamos os delírios do protagonista, então, a chave para apreciar o filme é não se prender à forma clássica e comum de cinema.

O longa usa diversas referências de várias escolas de cinema diferentes, muita coisa se parece com os filmes do Cinema Novo e consequentemente com a Nouvelle Vague francesa. Algumas da cenas dos sonhos de Inácio parecem diálogos de filmes pornôs, o que tem um certo sentido, já que mostra sonhos eróticos do protagonista. O filme também tem cenas em preto e branco e coloridas.

Djin Sganzerla em cena do filme

Justamente por ter esse monte de referências, muitas das quais nem é possível entender ou reconhecer, o filme parece não saber muito bem o que é, e ser só um produto que joga o maior número possível de estilos cinematográficos na cara do espectador. O motivo da diretora alternar cenas em preto e branco e cenas coloridas, por exemplo, não fica claro em momento algum, e portanto é difícil saber qual a mensagem que queria ser passada.

A Moça do Calendário também fala sobre política, várias causas são trazidas à tona, como o direito das mulheres, a reforma agrária, o comunismo, entre outras. Os assuntos não são inseridos de maneira natural, nos diálogos dos personagens, e sim falados com os atores olhando direto para a câmara, o que faz o filme parecer quase uma propaganda política, inclusive os ângulos e planos usados para essas cenas são muito parecidos com os usados nas campanhas eleitorais.

Como o caso das referências, as questões políticas que o filme quer trazer são colocadas sem maiores questionamentos e sem qualquer aprofundamento, como se só tocar no assunto fosse o suficiente para discuti-lo ou para passar a mensagem que a diretora tinha em mente.

Em alguns momentos, principalmente os que falam de política, A Moça do Calendário lembra os filmes pós 68 de Jean-Luc Godard, onde os personagens recitam ideais como gritos de guerra.

O elenco, que é composto de atores pouco conhecidos do grande público, não é natural e entrega diálogos como se estivesse lendo um texto e o filme soa quase como um teatro filmado.

A Moça do Calendário aborda muitas ideias, mas não se aprofunda em nenhuma, deixando o espectador um tanto quanto confuso. Para Helena Ignez, a diretora, “se trata de um “filme utópico”, que busca a “descolonização do pensamento”.

O filme estreia nos cinemas brasileiros no dia 27 de setembro com distribuição da Pandora Filmes.

A Moça do Calendário

Nome original: A Moça do Calendário

Elenco: André Guerreiro Lopes, Djin Sganzerla, Claudinei Brandão, Eduardo Chagas, Helena Ignez, Mario Bortolotto, Naruna Costa

Gênero: Drama

Produtora: Mercúrio Produções

Distribuição: Pandora Filmes

Direção: Helena Ignez

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