A Última Noite
Um filme de natal para os dias de hoje
Nell (Keira Knightley), Simon (Matthew Goode) e seus filhos Art (Roman Griffin Davis), Hardy (Hardy Griffin Davis) e Thomas (Gilby Griffin Davis) estão se preparando para receber um grupo de amigos, seus cônjuges e filhos para a noite de natal.
Conforme os convidados vão chegando, as tensões vão aumentando, e uma ameaça ainda maior os espreita do lado de fora.
A reunião
A trama de A Última Noite tem, aparentemente, como assunto principal uma reunião de amigos na noite de natal. O casal Nell e Simon recebe seus amigos de escola, e entre eles estão Sandra (Annabelle Wallis) e Tony (Rufus Jones) e a filha deles, Kitty (Davida McKenzie); Bella (Lucy Punch) e sua esposa; Alex (Kirby Howell-Baptiste); e James (Sope Dirisu) e sua namorada bem mais jovem, Sophie (Lily-Rose Depp).
Claro que a reunião traz um monte de feridas do passado à tona e ainda acirra problemas atuais de todos eles. Sandra e Tony, por exemplo, não têm o casamento mais idílico de todos, ela, inclusive, mostra muito mais interesse em James do que em Tony, e sente um ciúme exagerado de Sophie. Alex, então, está completamente deslocada entre os amigos de Bella e, por isso, passa o dia bebendo.
Já Sophie, que é a mais nova entre os adultos, não concorda com boa parte das opiniões dos amigos de James e passa a maior parte do tempo conversando com Art. Até as crianças têm problemas entre elas, já que Art, Hardy e Thomas não suportam Kitty.
Durante boa parte do filme, as questões, tensões e brigas que surgem e podem surgir com o tempo parecem ser a grande questão a ser explorada, como se esses amigos tivessem se reunido e estivessem automaticamente dispostos a debater tudo que ficou para trás, mas o filme muda de tom depois de um tempo.
Terror social
A Última Noite, no entanto, trabalha muito no subgênero do terror social, embora esse terror seja bem leve e possa até passar despercebido. Enquanto esse grupo de amigos se reúne para comemorar o natal e inevitavelmente traz à tona várias questões do passado, uma força um pouco mais sinistra os ameaça e essa é, na realidade, a grande questão do longa.
A princípio, por parecer um filme de natal comum, ainda que com um humor um pouco ácido e que trata de temas um pouco mais complexos do que só as festas de fim ano, não é possível compreender totalmente que caminho o longa vai tomar, mas ele vai aos poucos se revelando.
O terror presente em A Última Noite é um terror que reflete aspectos da sociedade, mas que os eleva a patamares, muitas vezes, sobrenaturais e completamente fora do controle. Assim, o longa não é apenas um filme de suspense, perturbador, mas sim um filme de suspense que trata de problemas da sociedade como terror e que, automaticamente, fala com os dias de hoje, já que o roteiro realmente reflete questões sociais atuais.
De uma maneira um pouco inesperada, uma vez que o filme foi filmado em janeiro de 2020, A Última Noite também fala com a pandemia de Covid-19 que afetou o mundo todo e que, como acontece com os personagens do filme, deixou grande parte das pessoas apavoradas e sem saberem o que poderia acontecer no dia seguinte.
Aspectos técnicos de A Última Noite
A produção usa muito da ideia de “filme de natal”, um produto comum nos Estados Unidos, para logo depois desvirtua-la completamente. Quando o longa começa, por exemplo, acompanhamos Nell, Simon e os meninos se preparando para um natal que parece perfeito, em uma casa grande, bonita e minuciosamente decorada, enquanto seus amigos se encaminham para a casa da família, conversando e ouvindo músicas animadas de natal.
O espectador só começa a notar o clima, que não é exatamente de confraternização, por mais que os participantes tentem fazer parecer que é, depois de um tempo e mesmo quando a situação na casa fica tensa, ainda é possível interpretar tudo como um natal comum, onde pessoas bebem demais e brigam, o que é relativamente corriqueiro. Por outro lado, existe um plot twist bem interessante e que vai se revelando aos poucos, o roteiro joga pequenas pistas aqui e ali, esperando que a audiência entenda o que vem pela frente.
Existe um trabalho bem-feito para que os personagens consigam discutir a grande questão do filme, sem que ela fique explícita o tempo todo. Quando a audiência finalmente nota o que realmente está acontecendo, A Última Noite deixa de ser um filme de natal melancólico, e se torna um filme aterrorizante, com humor ácido.
O elenco é muito importante nessa equação, porque boa parte do filme se segura nas atuações e no clima de tensão e claustrofobia que a situação e os diálogos são capazes de trazer. Todos os atores se saem bem, mas existem alguns destaques, como Lucy Punch, que está muito divertida, Lily-Rose Depp, que tem uma atuação mais dramática, mas se difere dos amigos mais velhos de seu namorado e Roman Griffin Davis, que interpreta uma criança que questiona quase tudo do que os adultos falam.
A Última Noite é um filme de natal que começa como qualquer outro dentro desse subgênero, mas, aos poucos, se revela mais sinistro e que ainda fala com os dias atuais. O filme chega aos cinemas no dia 23 de dezembro.