Abigail (2024)
Um novo clássico do gênero slasher?
Um desconjuntado grupo de criminosos recebe a tarefa de sequestrar uma garotinha bailarina de 12 anos e mantê-la como refém por 24h até que sua família rica pague o resgate no valor de 50 milhões de dólares. O que os raptores não contavam, era que a garota, na verdade, não era tão frágil assim. Vítima se transforma em presa e o que seria uma madrugada tranquila vigiando uma inocente menina acaba virando um banho de sangue em uma luta pela sobrevivência.
“Abigail” é o novo filme dirigido pela dupla Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillet. Caso o nome não soe familiar, eles foram responsáveis pelo divertidíssimo “Casamento Sangrento” e por revitalizar a franquia “Pânico” nos cinemas (com os filmes de 2022 e 2023).
Em uma nova parceria com a atriz Melissa Barrera (protagonista dos últimos “Pânico” e recentemente demitida da franquia após apoiar a causa Palestina), os diretores mergulham em seu filme mais sangrento até então – o que é quase inacreditável após a vermelhidão da tela em Casamento Sangrento.
Não é spoiler dizer que a protagonista, Abigail, é uma vampira. Essa é a premissa básica do filme; transformar os predadores em caça. E não sob uma caçadora qualquer, mas uma vampira sanguinária no corpo de uma garotinha bailarina.
Alisha Weir dá um show no papel da vampira, surfando muito bem entre uma garota indefesa e frágil e uma máquina sádica de matar.
Por se tratar de um assunto incrustado tão fortemente no imaginário popular, o filme não perde tempo em explicar os Vampiros, suas mitologias e sua origem. Inclusive, ele até brinca com as várias possibilidades de se matar a criatura e em como se daria a transformação de alguém.
Nos slashers, não é incomum criarmos uma certa aversão por (quase) todos os personagens principais – seja por serem burros, irritantes ou simplesmente pessoas ruins – ansiando por cada nova morte que nos é apresentada.
Nesse longa, entretanto, somos expostos por seis raptores muito carismáticos, o que é até contraditório. Como vamos simpatizar com pessoas que sequestram crianças? Por mais absurdo que possa parecer, já de início é possível criar uma afinidade por Joey (Melissa Barrera) e toda interação do grupo é muito gostosa de acompanhar. Aos poucos descobrimos suas motivações e justamente por ser uma equipe tão heterogênea, de ex-policiais até riquinhos em busca de emoção, que a convivência diverte e faz o longa se distanciar de outros filmes do gênero.
Além de Melissa e de Alisha Weir, um grande destaque vai para Dan Stevens. O líder dos criminosos é um ex-policial cheio de tons de cinza e o ator está completamente entregue no papel. (Aliás, fui pesquisar outros filmes em que ele participou e me surpreendi ao descobrir sua participação no recente Godzilla e Kong: Novo Império.)
O longa marca também o último trabalho de Angus Cloud (Euphoria), que faleceu precocemente em 2023.
O panorama era assombrosamente positivo. Os personagens são bons, os atores são bons, a violência cartunesca e sanguinolenta é boa. Será que eu estava diante de um novo clássico?
Não poderia estar mais enganado. Chegando ao terceiro ato, o filme apresenta uma virada que não faz o menor sentido e, a partir disso, é só ladeira abaixo.
Tudo bem, nem tudo precisa fazer sentido, ainda mais em um filme gore sobre uma menininha vampira estraçalhando seus raptores. Mas é necessário haver uma certa verossimilhança, ainda que dentro das próprias regras apresentadas. A contar de tal virada, o filme apresenta reviravoltas recambolescas, uma após a outra, e vira uma pataquada a ponto de estragar quase tudo de bom que havia acontecido até então.
Abigail tinha tudo para entrar no hall dos grandes filmes slashers. Inclusive, é incrivelmente divertido na maior parte do tempo. Mas em sua reta final, ele passa de um ótimo filme de terror, para um terror de filme.
(Mas continua muito superior a M3GAN)