Alta Fidelidade, de Nick Hornby

Rob é um sujeito perdido. Aos 35 anos, o rompimento com a namorada o leva a repensar todas as esferas da vida: relacionamento amoroso, profissão, amizades. Sua loja de discos está à beira da falência, seus únicos amigos são dois fanáticos por música que fogem de qualquer conversa adulta e, quanto ao amor, bem, Rob está no fundo do poço. Para encarar as dificuldades, ele vai se deixar guiar pelas músicas que deram sentido à sua vida e descobrir que a estagnação não o tornou um homem sem ambições. Seu interesse pela cultura pop é real, sua loja ainda é o trabalho dos sonhos e Laura talvez seja a única ex-namorada pela qual vale a pena lutar.
Um romance sobre música e relacionamento, sobre as muitas caras que o sucesso pode ter e sobre o que é, afinal, viver nos anos 1990. Com rajadas de humor sardônico e escrita leve, a juventude marinada em cultura pop ganhou aqui seu espaço na literatura. Ou, como escreveu Zadie Smith, “Hornby levou o romance inglês de volta a suas raízes perdidas. Nos ajudou a lembrar que nem todos os livros precisam falar dos 500 anos de história pós-colonial, […] podem falar da alma de um homem, sua casa e como ele vive nela, das ruas por onde anda e das pessoas que ama”. Este é um retrato do homem contemporâneo sem ruídos, um retrato em alta fidelidade.
Fonte: https://www.saraiva.com.br/alta-fidelidade-4955574.html?pac_id=136793&gclid=CjwKCAjwns_bBRBCEiwA7AVGHhu0p5rcY5katlyj8MhynX7P2vsCTEqnMYCD-ON72Nwv4hZNGKF9pBoCaSMQAvD_BwE

Em Alta Fidelidade, acompanhamos Rob Flemming, um homem que tem em torno de 30 anos, é dono de uma loja de discos e acabou de terminar com sua namorada, Laura. Motivado pelo término, Rob faz uma lista dos seus 5 piores términos e a partir daí começa a procurar cada uma dessas namoradas, para entender o que aconteceu.

Alta Fidelidade é o segundo livro do Inglês Nick Hornby, e é também o seu livro mais famoso. Hornby escreve livros que não tem muita pretensão, ele não quer ser um escritor imortal, ele quer apenas divertir seu público e Alta Fidelidade faz isso com bastante eficácia.

O mais interessante disso é que o próprio Rob, durante o livro, se define como um cara que leu os grandes clássicos, mas que gosta mesmo de livros que orbitam a cultura pop. Aliás, Alta Fidelidade é basicamente uma ode à cultura pop, Rob e os amigos passam boa parte de seu tempo fazendo “Top 5” de tudo que eles conseguem imaginar, de música a cinema, e o livro é repleto de referências. Nada melhor do que um livro que sempre vai rondar na cultura pop para falar justamente sobre um personagem que não quer ser culto da maneira tradicional, uma prova bem clara disso é que Rob largou a faculdade de arquitetura, que na teoria, lhe daria um emprego estável com um bom salário, para ter uma loja de discos, um emprego onde ele não tem exatamente nenhuma garantia.

John Cusack como Rob

O livro se passa em Londres e durante a leitura ele parece bastante londrino, mas a verdade é que a história poderia se passar em qualquer lugar, uma vez que embora use elementos da cidade e de costumes típicos da Inglaterra, o livro fala sobre relacionamentos.

E é justamente por isso, que o leitor vai conhecer cada uma das 5 ex-namoradas que Rob colocou na sua lista. Passamos pelo primeiro beijo de Rob, a namorada do colegial, a da faculdade, a amiga com quem ele acabou saindo algumas vezes, até chegar em Laura, a última namorada. Enquanto ele apresenta as moças, ele também nos conta fatos da sua própria vida e como ele chegou aonde está.

Mas, é importante ter em mente que Rob está bem longe de ser um herói romântico, ou um príncipe encantado. Ele tem diversos problemas e também uma certa tendência a acreditar que a culpa de seus relacionamentos não darem certo é exclusivamente das mulheres com quem ele se relaciona e que além disso, elas também são culpadas pelas coisas que deram errado na vida dele, como quando ele descobre que sua namorada da faculdade, Charlie arrumou outro namorado, entra em depressão e logo depois, larga a faculdade. Rob na verdade não é exatamente um homem adulto, embora ele esteja na casa dos 30 anos, ele se comporta como um adolescente, que acredita que um dia vai encontrar alguém que será exatamente como ele sonhou. Ele é egoísta e tem medo de compromisso.

Laura e Rob

Um personagem que tem essas características fala diretamente com várias gerações, especialmente as nascidas nos anos 80 e 90, mas uma das grandes sacadas do livro é que Rob começa a amadurecer durante a leitura. Muito mais do que um livro sobre relacionamentos que não deram certo, Alta Fidelidade fala sobre se tornar adulto e perceber que ninguém nunca vai ser exatamente do jeito que a gente quer (nem a gente mesmo) e que para que um relacionamento dê certo, é preciso aceitar a pessoa como ela, com seus defeitos e qualidades. Rob também aprende que o motivo de sua vida estar do jeito que está são suas ações e não os seus relacionamentos que não deram certo.

O livro gira muito em torno de Rob, mas temos vislumbres das ex-namoradas, que além de muito divertidos, nos mostram personalidades bem diferentes e mais do que isso, vemos mulheres que são infinitivamente mais maduras que Rob. A prova maior disso é claro, Laura, que embora ame Rob, vê que ele está parado no mesmo lugar.

Jack Black em cena do filme

Claro que um livro que se passa basicamente em uma loja de discos, só podia ter ótimas referências musicais. Alta Fidelidade podia literalmente ter uma trilha sonora, entre as músicas que Rob cita no livro estão Call Me, de Aretha Franklin, How Can You Mend a Broken Heart, de Al Green, I Just Don’t Know What To Do With Myself, de Dusty Springfield, Baby, I Love Your Way, de Peter Frampton, I Just Called To Say I Love You, de Stevie Wonder, Hollyday, da Madonna e muitas outras. É legal notar que o livro não faz menções apenas a um gênero específico e nem parece fazer muitos julgamentos musicais. Rob é um admirador de música e não só de um estilo. O livro também cita outros livros e filmes, ou seja, ele é quase um manual de cultura pop.

Uma das coisas mais legais de Alta Fidelidade é que é muito fácil se identificar com Rob, ele é um homem comum, não faz parte daquela parcela de personagens que tem habilidades fora do normal ou são escolhidos, e ele está aprendendo a ser adulto, enquanto busca um relacionamento, que é o que a maioria das pessoas está fazendo. Além disso, o livro é divertido e a leitura é muito rápida, é como se você estivesse lendo um filme.

Alta Fidelidade virou filme em 2000 e, diferentemente do livro, o filme se passa nos Estados Unidos e por isso, o nome do protagonista virou Rob Gordon. Ele é interpretado por John Cusack, naquele que é provavelmente o papel mais famoso de sua carreira. Não é de se surpreender já que ele nem parece estar atuando durante o filme, parece que a personalidade do ator é extremamente parecida com a do personagem.

John Cusack e Joan Cusack em cena do filme

O filme ainda tem no elenco Jack Black, como um dos funcionários de Rob, Iben Hjejle como Laura, Lisa Bonet, Catherine Zeta-Jones, como Charlie, a namorada da faculdade, Tim Robbins, Joan Cusack, Lili Taylor e uma participação especial de Bruce Springsteen e claro que a trilha sonora também é incrível.
Entre as músicas que tocam no filme estão Who Loves The Sun, do Velvet Underground, Most Of The Time, de Bob Dylan, I Belive (When I Fall In Love With You), de Stevie Wonder e Everybody is Gonna Be Happy, do The Kinks.

Talvez hoje em dia, Alta Fidelidade não seja mais tão conhecido, mas ele influenciou diversas obras posteriores, como o filme 500 Dias Com Ela, que tem um protagonista ligeiramente parecido, que quer entender porque seu último relacionamento não deu certo; ou o nacional Todas as Razões para Esquecer, que fala sobre um rapaz que após um termino, resolve procurar outras namoradas; e até os livros de John Green, que também rondam em torno de homens falando sobre seus relacionamentos.

Alta Fidelidade soa como uma comédia, mas fala de temas mais profundos e de brinde, nos dá ótimas referências.

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