Amor, Sublime Amor – Remake de 2021

Spielberg traz um clássico para o século XXI

Na Nova York dos anos 1950, duas gangues rivais vivem disputando território: Os Jets, composta por americanos brancos, e os Sharks, composta por imigrantes porto riquenhos. Até o dia em que Tony (Ansel Elgort), o antigo líder dos Jets, se apaixona por Maria (Rachel Zegler), a irmã de Bernardo (David Alvarez), o líder dos Sharks.

A guerra então, se acirra ainda mais.

Amor, Sublime Amor é inspirado em um musical da Broadway que, por sua vez, é uma modernização da peça Romeu e Julieta, de William Shakespeare.

Rachel Zegler como Maria no remake de Amor, Sublime Amor
Rachel Zegler como Maria no remake de Amor, Sublime Amor

Os Jets e os Sharks

Amor, Sublime Amor é, na realidade, uma versão mais moderna de Romeu e Julieta, que trabalha com temas que dizem respeito aos Estados Unidos da década de 1950, mas que ainda apresenta a estrutura básica da peça. Nessa releitura, a briga das famílias é uma briga de gangues rivais, e tem questões sociais um pouco mais profundas, que ganham ainda mais destaque nesse remake.

Os Jets são jovens americanos e brancos que vivem na periferia de Nova York, liderados por Riff (Mike Faist), já os Sharks são jovens latinos que migraram de Porto Rico para os Estados Unidos e que são liderados por Bernardo. As duas gangues brigam por território e vivem se agredindo mutualmente.

As implicações por trás dessa trama são bem claras. Embora supostamente a briga entre as gangues seja por território na cidade, o que incomoda os Jets é o fato de que os Sharks são latinos e que eles migraram para Nova York, uma cidade que o outro grupo considera propriedade deles. Essa ideia está embutida no filme de 1961, mas tudo é bem mais discreto. Nessa nova versão, os Jets deixam claro que querem que os Sharks saiam da cidade e pedem para que “eles voltem para o país deles”. A polícia, que aqui se faz presente através do tenente Schrank (Corey Stoll) e do sargento Krupke (Brian d’Arcy James), tem a tendência a sempre defender os Jets e partir para cima dos Sharks.

As questões sociais ganham mais destaque nesse remake de Amor, Sublime Amor
As questões sociais ganham mais destaque nesse remake de Amor, Sublime Amor

Amor, Sublime Amor, o remake de 2021, é um filme que conversa com os dias de hoje, uma vez que fala sobre a xenofobia e o racismo, e é interessante que essa nova versão escolha bater nessa tecla com bastante força, afinal, é assim que se moderniza uma história que ainda funciona.

O romance

Mas claro que um dos temas principais é o romance proibido entre Tony e Maria, a briga de gangues – que também é um ótimo comentário social – serve como pano de fundo para os dois protagonistas.

Maria é uma jovem que acabou de chegar em Nova York e mora com seu irmão, Bernardo, e a namorada dele, Anita (Ariana DeBose). Ela é o arquétipo perfeito da mocinha: inocente, jovem, determinada e apaixonada, embora essa versão lhe dê um pouco mais de independência. Ela é diretamente afetada pela briga de gangues, já que seu irmão é o líder dos Sharks.

Tony acabou de sair da prisão, ele costumava ser o líder dos Jets, mas foi preso por espancar um jovem latino, deixando o seu posto para Riff. Tony, que agora conta a ajuda de Valentina (Rita Moreno, a Anita do longa original), não quer mais saber de gangues, mas acaba arrastado para isso quando descobre que Maria é irmã de Bernardo.

O filme acompanha duas gangues rivais
O filme acompanha duas gangues rivais

O amor entre Maria e Tony acontece de maneira instantânea, assim que eles se cruzam no baile, mas existe uma preocupação maior em desenvolver o “namoro” dos dois, então, os acompanhamos conversando e até indo em um encontro, com a intenção de deixar claro que aquele não é apenas um amor adolescente. Musicais são, por si só, filmes onde as coisas se dão rapidamente, uma vez que os personagens exprimem seus sentimentos e algumas de suas ações, através de músicas e coreografias e Amor, Sublime Amor se sai bem nesse aspecto.

O musical no século XXI

Amor, Sublime Amor é um musical de 1957 que trata de temas que ainda refletem nos dias de hoje, mas que naturalmente precisaram ser remodelados para a década de 2020. O preconceito aos imigrantes, que é o cerne do musical, conversa muito com o século XXI que ainda vê esse tipo de comportamento, mas no remake, o tom racista e xenófobo dos Jets está ainda mais destacado, e a reação da polícia ao que eles fazem também mostra o quanto eles estão dispostos a deixar passar o que essa gangue faz.

Para além disso, o filme tem mais algumas modernizações, como uma participação maior das personagens femininas e até alguns acenos à comunidade LGBTQIA+. O filme tem, por exemplo, um personagem transgênero, Anybodys (Iris Menas), que nasceu mulher, mas que se identifica como homem e que tenta fazer parte dos Jets, mas é constantemente rechaçado.

Ansel Elgort como Tony
Ansel Elgort como Tony

Maria, que é a mocinha do filme, não segue a cartilha da mocinha clássica que vive pelo seu amado, ela pensa em crescer e fazer uma faculdade, e se recusa a obedecer às ordens de Bernardo, seu irmão. Anita – que nessa versão além de latina é negra -, que já era uma personagem atrevida no filme de 1961, aqui ganha ainda mais contornos e sua influência sobre Bernardo só não é suficiente para fazê-lo desistir dos Sharks. No filme original, quem ajuda Tony (Richard Beymer) é Doc (Ned Glass), o dono de uma farmácia que é respeitado tanto pelos Jets, quanto pelos Sharks, já nessa nova versão, esse papel cabe a Valentina, uma mulher porto riquenha, que é viúva de Doc e que em função disso, ganhou respeito no bairro.

Para além disso, existe uma cumplicidade natural entre as personagens femininas que se estende, inclusive, para as meninas que fazem parte dos Jets.

Aspectos técnicos de Amor, Sublime Amor, o remake

O novo filme se mantém fiel tanto à peça, quanto ao filme de 1961, embora faça algumas modernizações na trama, que caem bem para os dias de hoje e que, assim, conseguem falar com um público maior e mais jovem.

Tony e Maria em Amor Sublime Amor remake
Tony e Maria

O remake já sai na frente do seu original porque escalou atores com ascendência latina para interpretarem os Sharks. O filme também é um pouco mais dinâmico, com cortes rápidos e cores bem vibrantes, que ainda fazem uma distinção entre os Jets, que usam sempre tons de azul e os Sharks, que usam roupas com tons vermelhos. O resultado é incrível, todas as cenas são muito bonitas e é impossível tirar os olhos da tela.

Amor, Sublime Amor dá tons mais sérios ao comportamento racista dos Jets, mas faz o possível para afastar Tony, o mocinho, de seus companheiros. Ele de fato fez parte da gangue, mas se arrependeu e agora é gentil com todos, tanto com os Sharks, quanto com Anybodys, que é constantemente rechaçado pelos outros Jets. A ideia é mostrar que Tony, mesmo sendo um Jet, é uma pessoa boa o suficiente para ser acompanhada pelo público e que ele merece o amor de Maria, que nunca se envolveu com a briga.

Outro ponto que ajuda muito o longa são as atuações, embora Elgort apresente uma interpretação meio sem sal, que não ajuda nem atrapalha, David Alvarez e Mike Faist se saem muito bem. Já Rachel Zegler – que tem uma voz incrível – e Ariana DeBose são os grandes destaques do filme, é impossível não gostar de Anita, que é, sem dúvida, a melhor personagem do filme e que aqui ganha muito com o talento de DeBose, que rouba todas as cenas em que aparece.

Anita e Bernardo
Anita e Bernardo
As músicas

As músicas que fazem parte da trilha sonora são as mesmas que fazem parte do musical, e entre elas estão Jet Song, Something’s Coming, Maria, Gee, Officer Krupke, One Hand, One Heart, Toonight, I Feel Pretty – com a letra ligeiramente alterada – e A Boy Like That/I Have a Love. Como acontece com o filme original, a melhor música dessa versão ainda é America, que não só tem um ótimo ritmo, com também uma letra genial, que explica a condição dos imigrantes vivendo nos Estados Unidos.

O musical é bem tradicional e boa parte das músicas transmite os sentimentos e os pensamentos de seus personagens e também empurram a história para frente.

Ariana DeBose em cena do filme Amor Sublime Amor remake
Ariana DeBose em cena do filme

Amor, Sublime Amor também tem ótimos números musicais, coloridos, divertidos e animados, mesmo que tratem de questões pesadas. Muitas vezes, a história do filme se dá através das coreografias, o que também é interessante. A música usa muito dos sons da cidade, como o trânsito, os passos das pessoas na rua e barulhos de construções.

Amor, Sublime Amor é, sem dúvida, uma trama bem escrita, que ainda fala com os dias de hoje. O remake tem o cuidado de deixar isso claro, aproximando a história da geração atual, ao mesmo tempo que respeita os aspectos importantes do clássico. O filme chega aos cinemas no dia 9 de dezembro.

Amor, Sublime Amor

Nome Original: West Side Story
Direção: Steven Spielberg
Elenco: Ansel Elgort, Rachel Zegler, Ariana DeBose, Rita Moreno, Brian d'Arcy James
Gênero: Romance, Musical, Drama
Produtora: 20th Century Fox
Distribuidora: Twentieth Century Fox
Ano de Lançamento: 2021
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