Atômica, um gostinho de agente secreto
Para quem também, assim como eu, adora histórias de agentes secretos, Atômica é um prato cheio. Charlize Theron não só é uma grande atriz, como é uma grande atriz de ação e consegue deixar no chinelo muito atorzeco por aí. Suas cenas de luta, cruas e brutais como só o diretor sabe fazer, evidenciam isso, da habilidade da loira em dar socos e pontapés, facadas e tiros, sem ser mulher-macho nem princesa, encontrando o equilíbrio ideal, acima de tudo humanizando sua personagem, uma agente londrina que precisa se infiltrar em Berlim em busca de uma lista, durante os eventos da queda do Muro.
O filme todo segue uma edição caprichada e estilosa, que deixariam Guy Ritchie orgulhoso. Leitch (que concebeu o ótimo De Volta ao Jogo e tá conduzindo Deadpool 2), singular em sua maneira de se expressar seu frenesi, sabe como poucos colocar a câmera no lugar certo e filmar cada sequência de porrada de maneira que o espectador compreenda os movimentos, sem borrões nem tons escuros demais. Tudo é fácil de acompanhar, de uma maneira tão realista e dinâmica, que dá até para sentir o gosto na boca, o soco no estômago.
A trama em si é clichê, mas é o que esperamos de uma história do gênero, situada na época em que se situa, e referenciando imediatamente obras oitentistas. O elenco é muito competente, apesar de um certo exagero por parte de James McAvoy. A intimidade de Theron com a encantadora Sofia Boutella já valeria o ingresso, mas o longa vai além disso, e ainda que a reviravolta não exploda sua cabeça, os planos-sequência certamente vão fazê-lo (principalmente a sequência na escadaria, durante o clímax).
Mesmo assim, Atômica não é um “De Volta ao Jogo de saias”, como alguns apontaram. Enquanto o filmão do Keanu Reeves aposta mais na ação absurdista descerebrada (onde o 1 ainda é bem melhor que o 2, feito por outro diretor), aqui temos esses vertiginosos momentos de ação, se equilibrando com longas e tensas conversas, pegação das boas e raciocínio lógico, num longa mais cerebral, mas essencialmente especial quando se trata de colocar Charlize fazendo o que melhor sabe: bater, beijar, dar aquele olhar e falar algo que muitos machões não teriam colhões sequer de cochichar. Filmaço!