Avatar: A Lenda de Korra | Livro 4 – Equilíbrio
Com um tom melancólico e maduro, a última temporada de Korra, Equilíbrio, encerra a história de um jeito preciso, mas sem o brilho anterior.
Três anos após os eventos do Livro 3, uma das grandes sacadas é vermos como os personagens ficaram enquanto mais velhos. Sendo a única mudança significativa a de Korra, enquanto que por outro lado, Asami continua a mesma.
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Com a queda da Rainha da Terra pelas mãos de Zaheer, o governo ficou desmantelado. Virou terra de foras da lei. Dessa forma, fazendo com que Kuvira assumisse o comando com punhos de ferro, expandindo em tecnologia e poder de fogo. O que aponta para uma sombra preocupante para os demais reinos do globo. Ainda mais quando ela depõe o candidato ao trono, revelando sua ousadia e seu plano de crescimento.
Como os demais vilões da saga, a dobradora de terra intenciona fazer o bem, mas por meios escusos. Até que certo surto a leva a sair da linha e causar grandes consequências. Se no Livro 1 tínhamos Amon querendo igualar todas as pessoas comuns com os ‘especiais’ dobradores através de sua técnica singular; no Livro 2 Unalaq pretende reconectar a humanidade com os espíritos de um jeito completamente louco; e no Livro 3 temos anarquistas que pretendem devolver o poder ao povo; aqui no Livro 4 encontramos uma vilã que acha que sabe o que é melhor pro seu povo, por isso decide governá-lo.
Mas mesmo sendo uma hábil estrategista, o poder a corrompe quando ela eleva os níveis de seu armamento. Assim destruindo boa parte dos recursos naturais-espirituais em prol de uma arma suprema. Honestamente a coisa mais devastadora em todos os arcos de Avatar.
O que esperar de Equilíbrio
Em paralelo, temos ótimos episódios com uma depressiva Korra recomeçando, primeiro fisicamente, depois espiritualmente. O que mostra uma ousadia bem-vinda nas decisões de roteiro. As cenas dela com as visões da Korra em Modo Avatar, que muito me lembraram a Samara de O Chamado, são excelentes por todos os significados que apresentam (medo, necessidade de superação, auto-bloqueio). Colocar três crianças em busca dela, também fornece um bom resgate das antigas aventuras de Aang e cia. Assim como a participação mais do que especial de Toph.
Os momentos entre as duas, no melhor estilo mestre e aluno, e dado o cenário pantanoso, remetem imediatamente ao que já foi visto com Yoda e Luke em Dagobah. Ao enfraquecer sua protagonista de modo crível (através do trauma da última batalha, somada a fracassos pontuais anteriores), que já tinha chegado em seu ponto máximo, Michael Dante DiMartino e Bryan Konietzko humanizam-na de um jeito coerente e funcional.
Por isso que uma dobradora boa, mas não incomum, como Kuvira, é capaz de derrotar Korra em uma luta simples. Infelizmente, os criadores deixam sua principal personagem de escanteio do meio até o final. Relegam ela a uma mera força adicional em conjunto com todos os demais esforços.
O que acontece com os outros personagens
E ainda que Bolin e Varrick (e até Zhu Li, quem diria) façam bonito com ótimas sequências no elenco, todos os demais ficam de escanteio sem exceções. Mako e o novo candidato a imperador, protagonizam os momentos mais bocejantes, ainda que a eles seja guardada certa importância no desfecho. Asami tem um arco de resolução com o pai, mas não vai muito além disso. Os Beifong ganham um tanto de holofote, com as condições especiais que alguns de seus membros apresentam.
Tenzin e família aparecem menos ainda, e Jinora e Kai (que guardavam grande potencial depois do Livro 3) são quase que esquecidos num enredo que opta unicamente pelos assuntos políticos, pouco a pouco abandonando a essência poética e espiritual da obra — que se justifica em certa medida, considerando que o poderio bélico do inimigo assoma sobre tudo e esse contraste narrativo é importante pra entendermos o perigo real da situação, onde pouco será poupado.
Coisas que desanimam…
O episódio 8 é uma lástima, completamente descartável. Numa escolha desesperada e errada, a produção optou por relembrar o passado da série em situações cômicas que jamais funcionam (entre elas a piadinha envolvendo os outros vilões, patética e de grande vergonha alheia). É uma pena enorme que não tenham aproveitado tal episódio para trabalhar melhor qualquer um dos outros personagens que mereciam mais espaço.
E ainda que o grande mecha se apresente como uma força brutal de devastação (e que inutiliza o exército acampado na frente da República), faltou certa engenhosidade dos criadores aqui. Eles poderiam, desde o princípio, ter soltado pistas da construção do colosso (e tiveram dezenas de cenas pra isso, envolvendo Bolin, Varrick, Zhu Li e Baatar Jr.), que simplesmente aparece no campo de batalha. Mas ninguém nunca tinha o visto, nem percebido nada. Mas como algo daquele tamanho não poderia ser visto antes? Simplesmente impossível de engolir.
Ou seja…
Fora isso, entristece que Korra não tenha tido um momento sequer com Aang. Ainda que sua conexão tenha se perdido no Livro 2, sua reconexão aqui poderia favorecer pelo menos um último deslumbre. Mas em vez de poder interno, optaram por dar a ela a sensatez. Sim, bem-vinda e que enaltece a maturidade da protagonista, que tem um único grande momento no clímax contra a arma destruidora, que arrasa com a Cidade República em uma cena retirada diretamente de Akira.
E mesmo que as baixas tenham sido de personagens secundários ou de inimigos restaurados (Mako poderia ter se sacrificado dentro do mecha, teria sido mais significativo pra sua jornada, mas ok), o senso de urgência e perigo se tornam reais em tela — mesmo que a todo o tempo todos os personagens escapem do raio fatal. Todo o tempo. Se não vai matá-los, porque atirar sobre eles então?
Mesmo com alguns desses desapontamentos, o Livro 4 entrega grandes momentos no início
Equilíbrio mantém a qualidade técnica vista na temporada anterior e fornece um final feliz, ainda que aberto, para seus personagens. O enlace de Korra e Asami, que jamais existiu antes, vinha pelo menos sendo plantado desde o começo desse arco. Utilizando a distância, a saudade e a intimidade (através das cartas) para fundamentar uma paixão platônica.
Assim justifica-se o “passeio de férias” de ambas no Mundo Espiritual. O que mostra que a protagonista precisava de um tempo depois de tudo o que passou. Mas não sozinha e angustiada como antes. Mas sim em lua de mel com um novo amor e aventuras (que continuaram nos quadrinhos da série).
Melancólica do começo ao fim e ousada em muitos sentidos. Suas sequências tensas deixam os nervos a flor da pele. Mas a quarta temporada jamais consegue alcançar a perfeição do Livro 3. Ademais, entrega um desfecho honesto, ainda que aberto, para uma das maiores sagas contemporâneas.
Korra fez juz a Aang e ao nome da série Avatar.