Aves de Rapina – Arlequina e a fantabulosa alguma coisa
Quando a continuação de “Esquadrão Suicida” foi anunciada eu não entendi direito o porquê ela deveria existir. Também não dei a mínima quando saíram os trailers, pôsteres, sinopses e qualquer coisa sobre o filme “Aves de Rapina – Arlequina e sua Emancipação Fantabulosa“. Confesso apenas que achei o título de uma criatividade audaciosa quando finalmente o vi completo (algumas semanas atrás somente). E que a única coisa além disso que me fez levantar as sobrancelhas com um certo interesse é a presença de Mary Elizabeth Winstead no elenco, mas isso é devido a uma paixão platônica e pueril.
“Esquadrão Suicida” tinha sido a minha pior experiência assistindo a um filme de herói desde que os dentes de Jamie Foxx se juntaram devido a uma descarga elétrica em “The Amazing Spider-man 2“. Porque a DC estaria insistindo em dar continuidade a uma produção tão ruim e traumática? Os executivos da Warner nos odeiam?
Assim, eu tinha comentado que a única coisa que seria capaz de me levar a um cinema para assistir essa nova tentativa cinematográfica da DC seria se eu fosse obrigado, o que aconteceu por conta de supostamente me considerarem um crítico neste humilde website – mesmo que meus textos sejam mais pessoais do que deviam, mesmo que o fato de servirem cerveja na cabine de imprensa influencie minha nota, que eu use palavras de baixo calão e piadas ofensivas ou tenha chamado os millennials (parte do nosso público principal) de burros umas críticas atrás. Sério, como é possível que ainda deixem eu publicar aqui? Olha eu divagando aqui de novo, quando devia estar falando do filme.
Aves de Rapina – A crítica
A boa notícia é que “Aves de Rapina – Margot Robbie e seu título fantabulongo” não repete os mesmos erros de seu péssimo predecessor. A má notícia é que o filme comete erros novos.
Pra começar o filme é bem mais cômico. O primeiro deveria ter aquele clima escuro e sombrio que deu certo com o Christopher Nolan e que, portanto, a Warner tentou replicar em absolutamente todo filme de herói desde então. Quando o trailer foi divulgado, porém, cheio de cor e piadinhas, ele agradou tanto que a empresa teve que fazer algumas refilmagens e adaptações para deixar ele mais leve. Esse filme tem um visual mais colorido desde o seu começo (uma animação surpreendentemente legal). Há uma veia cômica mais saltada – apesar de dificilmente as piadas engatarem e o resultado ser simplesmente boboca.
A narração de Arlequina ajuda a tornar tudo mais leve; e a forma como o filme é contado, deliciosamente bagunçado e fora de ordem, como se fosse editado por um calouro de cinema muito fã de Quentin Tarantino ajudam a deixar a história mais divertida e até menos violenta. O filme não se leva a sério e esse é o maior elogio que pode ser feito a ele. Várias gags constantemente remetem a Deadpool, quebrando a quarta parede ou criando meta-piadas que seriam bem mais divertidas se já não fossem uma marca tão forte na voz do Ryan Reynolds. Dá pra ficar surpreso da Arlequina não mandar um “that’s just lazy writing” no meio do filme.
O roteiro
Por falar em “lazy writing”, o roteiro também é bem fraco. Há um Macguffin óbvio, chato e inútil em torno do qual o filme inteiro gira. O vilão é péssimo, sem o mínimo de profundidade. Uma pena, já que o forte da DC nos quadrinhos são os vilões. Os diálogos também são tenebrosos, parecem ter sido escritos por Chris Terrio, porém com um intervalo de um mês entre cada linha – e sem revisão.
O filme começa dando alguma justificativa para o título e com uma proposta de fazer a audiência esquecer que “Esquadrão Suicida” existiu. Há até uma representação visual óbvia no prólogo cujo único objetivo é (literalmente) explodir tudo o que foi construído no primeiro filme, restando só a personagem da Arlequina, que foi a melhor coisa que se salvou dele – ou pelo menos é isso que fica evidente pelas centenas de cosplays inspirados nela.
De resto, a primeira película só é lembrada por piadocas (algumas até zoando o fracasso que ela foi) e definitivamente assistir “Esquadrão Suicida” não é pré-requisito para curtir este filme. Inclusive é imensamente recomendável evitar “Esquadrão Suicida”; sério, se existissem locadoras ainda, deveria ter um aviso na capa das fitas alertando pros danos mentais que podem ser causados.
O filme
Por fim, a direção chega a ser até competente. A maioria das cenas de ação são bem legais apesar de serem constantemente sem sentido e só existirem por existir. A forma como cada personagem vai sendo introduzido também é um grande acerto, principalmente se comparado ao antecessor, que simplesmente vai apresentando cada personagem como se fosse um mestre de RPG preguiçoso lendo as fichas de quem vai participar da aventura.
Essa mudança gera pelo menos alguns arcos de personagens mais interessantes e completos. Só fica mesmo a impressão que o roteiro precisava de uma última revisão de algum roteirista realmente competente. Joss Whedon talvez conseguisse salvar esse filme. Eu nem o culpo pelo horror que foi Liga da Justiça (pensando melhor, talvez uma briga interrompida porque as mães dos protagonistas têm o mesmo nome tenha sido minha pior experiência assistindo um filme de herói).
Provavelmente uma meia hora a mais de Mary Elizabeth Winstead também salvasse o filme, mas isso é meu coração falando, eu alertei lá no começo que minhas críticas são extremamente pessoais, você foi avisado.
Ou seja…
Mas o fato de que escrever esta crítica me lembrou dos piores momentos dos filmes de herói das últimas décadas são um forte indicativo de que eu realmente não gostei do filme. A verdade é que eu realmente já não esperava muita coisa dele; e manter minhas expectativa baixas foi extremamente positivo, afinal eu realmente acreditava que daria uma nota bem menor do que essa.
Foi bom ter guardado todas minhas esperanças para a vindoura versão do James Gunn (a ser chamada “The Suicide Squad”, que estreia ano que vem e também vai contar com a Margot Robbie como Arlequina), que só me mantém realmente entusiasmado por ser uma versão do James Gunn de alguma coisa.
Já em relação a “Aves de Rapina – Arlequina/emancipação/superlativo”, pode-se concluir que quem for ao cinema esperando que o filme vai ser uma merda dificilmente vai sair decepcionado. Pode até ser que goste. Estreia hoje!