Babilônia

O cinema fala sobre o cinema

Nos anos 1920, durante a era de ouro de Hollywood, Manuel Torres (Diego Calva) é um imigrante mexicano que trabalha como faz tudo para um grande produtor, mas que deseja trabalhar na indústria cinematográfica. Em uma festa, onde ele precisa controlar um elefante, ele conhece Nellie LaRoy (Margot Robbie), uma aspirante a atriz que, naquela mesma noite, consegue a oportunidade de fazer uma pontinha em um filme. Na manhã seguinte, ele leva o famoso ator Jack Conrad (Brad Pitt) para casa, porque ele desmaiou depois de beber muito e os dois se aproximam.

Jack consegue um emprego para Manuel – que passa a assinar como Manny – no filme em que está trabalhando, enquanto Nellie chama a atenção e tira o foco da estrela do filme para o qual foi contratada, Constance Moore (Samara Weaving), rapidamente se tornando a nova queridinha de Hollywood.

Enquanto Manny cresce na indústria, ele acompanha de perto a carreira, cheia de altos e baixos, de Nellie, mas o que nenhum deles imagina é que o cinema por si só está prestes a mudar com a chegada do som nos filmes.

Margot Robbie como Nellie LaRoy
Margot Robbie como Nellie LaRoy

Histórias diversas

Fica claro logo no começo de Babilônia que o filme tem a intenção de falar sobre o cinema e em maior medida, sobre Hollywood, para tal, ele não pode ser focado em um único personagem, uma única trama, ou em uma só época e é isso que o longa de fato faz. É difícil apontar quem exatamente é o protagonista do longa, mas quem mais se aproxima disso é Manuel Torres, um imigrante que sonha em trabalhar no cinema, mas que no momento é uma espécie de faz tudo de um grande produtor; seu trabalho inclui cuidar de qualquer problema que acontece nas festas que o seu chefe dá, desde a entrada de um elefante, até a retirada do local de uma jovem atriz (Phoebe Tonkin) que sofreu uma overdose, sem ninguém notar.

Ao mesmo tempo, Babilônia também segue outros personagens que fazem ou que querem fazer parte da indústria, um deles é Jack Conrad, um famoso ator prestes a cair em decadência, a aspirante a atriz Nellie LaRoy, que vai tomar o caminho oposto de Conrad e se tornar a nova It girl de Hollywood, o trompetista Sidney Palmer (Jovan Adepo), que consegue entrar no cinema com a chegada dos filmes falados, e a dançarina de cabaret Lady Fay Zhu (Li Jun Li), que também escreve legendas para os filmes do cinema mudo.

Além disso, Babilônia é um filme que se passa em vários anos diferentes, começando em 1926, que é quando todos esses personagens se encontram em uma festa, mas chegando até os anos 1950, passando por uma série de períodos do cinema e da indústria.

O filme Babilônia retrata Hollywood durante várias décadas
O filme retrata Hollywood durante várias décadas

O cinema falado

Embora o filme comece nos anos 1920, quando o cinema ainda era mudo, Babilônia, na realidade, retrata a transição do cinema mudo para o cinema falado, como acontece, por exemplo, em Cantando na Chuva, filme que é uma referência para Babilônia.

Os personagens que conhecemos na festa da primeira cena são essencialmente atores do cinema mudo, Jack Conrad é o ator mais badalado da época, mas claro que não tem o mesmo desempenho quando tenta fazer cinema falado, Nellie é extremamente expressiva e sensual, e se sai bem no cinema mudo, mas sua voz é esganiçada e ela não tem tanta sorte no cinema falado.

Manny, por outro lado, consegue se adaptar melhor ao período, ele começa a subir na carreira nessa época, e tem a ideia de colocar uma banda em cena, dando uma chance então para Sidney Palmer. Ainda assim, esses dois personagens, que são respectivamente um homem latino e um homem negro, sobrevivem dentro de uma indústria racista e problemática, que está disposta a usá-los e jogá-los fora quando bem entender.

Nellie e Manny
Nellie e Manny

Um filme metalinguístico

Mas acima de tudo, Babilônia é um filme sobre o cinema e sobre a indústria cinematográfica, no que ela tem de bom e no que ela tem de ruim. Os personagens são trabalhadores da indústria da cinematografia, os cenários são sets de filmagens e as tramas dizem respeito ao cinema.

Claro que aqui existe um recorte de tempo que cobre o período dos anos 1920 aos anos 1950, e por isso não dialoga diretamente com a indústria atual, mas talvez, pouca coisa tenha mudado realmente para além das tecnologias usadas nas produções.

O que vemos em cena é o excesso, representado pelas festas majestosas, que fariam inveja até no Grande Gatsby, cheias de droga, bebidas, música e sexo, mas também o trabalho duro das produções, que refletem a realidade, ainda que de maneira aumentada. Mas para além disso, Babilônia parece uma grande declaração de amor de Damien Chazelle para o cinema, tema que ele já explorou no seu filme anterior, La La Land.

Babilônia tem um tom de declaração de amor ao cinema
Babilônia tem um tom de declaração de amor ao cinema

Aspectos técnicos de Babilônia

Babilônia é um filme com uma grande produção e isso fica claro já nas primeiras cenas, quando a audiência é colocada dentro de uma festa gigantesca, decorada nos mínimos detalhes, cheia de música e dança. A festa é importante porque é ali que somos apresentados aos personagens desse filme, mas também é uma maneira de estabelecer onde se passa a trama de Babilônia e o que veremos pela frente.

Tudo no longa é frenético: seus personagens, sua montagem, a música – que aliás é incrível -, e claro, seu roteiro. A primeira festa, onde tudo acontece ao mesmo tempo, onde acompanhamos uma série de personagens diferentes, e onde somos apresentados a várias coisas que parecem fora de contexto – mas que não são realmente – como um elefante, já deixa claro o tom do filme, Babilônia é um longa onde as coisas acontecem rápido demais, e onde coisas que poderiam ser absurdas começam a fazer sentido.

O filme se sai bem na sua caracterização, os figurinos fazem sentido, assim como as tecnologias a que somos apresentados ao longo da trama. O que, no entanto, não tem muita explicação é o figurino de Margot Robbie, que parece estar completamente deslocado dos anos 1920, época em que sua personagem mais aparece. Tudo bem que Nellie, a personagem de Robbie, é retratada como uma jovem “vulgar” – essa palavra é inclusive usada para descrever a personagem em uma revista – e sensual, mas mais uma vez, estamos falando dos anos 1920, o máximo que Nellie poderia ser era uma Flapper – termo usado para descrever as It girls dos anos 1920, normalmente traduzido como “melindrosa” -, e as roupas de Nellie parecem ter saído dos anos 1970, talvez a ideia seja dar um tom atemporal, mas isso salta aos olhos.

Babilônia é longo, mas prende a atenção
O filme é longo, mas prende a atenção

Babilônia conta com grandes atuações, Diego Calva se sai bem, mas não aparece tanto quanto deveria, Brad Pitt também está bem como Jack Conrad, ainda que o grande destaque seja de Margot Robbie, ótima no papel de Nellie.

Babilônia é um filme luxuoso, cheio de ritmo e que consegue combinar sua montagem frenética com seu roteiro cheio de acontecimentos. É verdade que o longa tem uma barriga, o que parece razoável em um filme de 3h e 9min, mas nem é uma barriga tão incômoda assim, uma vez que a plateia está imersa nessa história. O longa é uma declaração de amor ao cinema, que reconhece, talvez de maneira até exagerada, os problemas da indústria, mas também todas as suas alegrias.

Babilônia

Nome Original: Babylon
Direção: Damien Chazelle
Elenco: Brad Pitt, Margot Robbie, Diego Calva, Jean Smart, Jovan Adepo
Gênero: Histórico, Drama
Produtora: Paramount Pictures
Distribuidora: Paramount Pictures
Ano de Lançamento: 2022
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