Bala Perdida – Veloz, furioso e modesto
Com o adiamento de “Velozes e Furiosos 9” para 2021, a princípio este longa francês Bala Perdida pode servir como um substituto espiritual. Mas as comparações e brincadeiras param por aí (nos carros tunados) e ganham corpo com uma narrativa que abre mão do protagonista marrento, para um figurão ingênuo e azarado, mas que sabe-se lá se virar quando necessário.
A história é simples e envolve um ladrão de joalheria que “faz mágica” (segundo um dos personagens) ao atravessar um Clio por paredes de concreto. Fica pouco tempo preso e logo é feito um acordo. Assim, ele passa a colaborar com a polícia no combate ao narcotráfico. Nesse meio tempo, descobrimos que existe um traidor entre os mocinhos e o envolvimento de um deles com uma garota do grupo. Tudo isso em menos de vinte minutos.
Bala Perdida
Estreando na direção, o roteirista e diretor Guillaume Pierret é bastante econômico em sua execução, operando todo o filme com eficiência do começo ao fim. Sem perder tempo pegando o público pelas mãos, ele espera que o espectador compreenda alguns momentos apenas com o que coloca em tela (e que de fato não tem nada demais, portanto é compreensível para qualquer um mesmo), jogando ao menos duas reviravoltas na trama, sendo uma delas logo no começo (e que não chega a ser surpresa, afinal Nicolas Duvauchelle tem muito cara de vilão).
Alban Lenoir faz o protagonista Lino, que é praticamente um Jason Statham francês, mas sem o lado marrento, fazendo um tipo comum, tanto nos diálogos quanto gestos, muito mais convincente. Aliás, todo o enredo segue essa toada, com saídas narrativas mais “mundanas”. Assim, quando um personagem tenta algum ato heróico, ele geralmente é pego.
O que esperar
E não que Pierret intencionasse revolucionar o gênero de ação – até mesmo porque ele segue toda a cartilha do gênero, principalmente nas bem executadas sequências na autoestrada –, mas sendo um realizador fora dos padrõezinhos de Hollywood e mirando o streaming, o diretor consegue fazer as coisas de uma maneira que soem críveis, coesas e ainda assim ofereçam um alto valor de entretenimento – como a sensacional sequência de luta e empurra-empurra dentro da delegacia.
As mortes são brutais sim, mas não gratuitas e trazem um efeito moral. Filme sem trilha sonora evidente, conta com um elenco bem entrosado, que ainda tem os nomes dos ilustres desconhecidos, mas bom atores, Ramzy Bedia, Stéfi Celma, Pascale Arbillot e Rod Paradot. Deixando um gancho para continuação, o longa se perde aqui e ali na ilha de edição em momentos-chave, mas nada que afete muito a compreensão.
Trocando os supermotores por proteções de choque, Bala Perdida é uma ótima pedida para quem busca uma história de ação bem contada.