Beau Tem Medo
O novo filme de Ari Aster
Beau (Joaquin Phoenix) é um homem extremamente neurótico e que tem medo de tudo. Ele vive sozinho em uma grande cidade violenta, mas mantém contato com sua mãe, Mona (Patti LuPone), com quem ele tem uma relação bem próxima.
Quando Beau recebe a notícia de que Mona morreu de maneira violenta, ele precisa ir ao enterro, mas o seu caminho se torna cada vez mais complicado, e a jornada dele vai atrasando. Beau então, precisa enfrentar todos os seus medos.
A vida de Beau
Como não poderia deixar de ser, o protagonista de Beau Tem Medo, é Beau, um homem que vive consumido por seus medos e sua ansiedade. Ele se consulta com um terapeuta (Stephen McKinley Henderson) e descreve uma relação um pouco obsessiva com sua mãe, Mona.
Beau vive em uma cidade grande, extremamente violenta, onde a rua da sua casa está sempre cheia de pessoas que ele acredita que são perigosas. Seu apartamento está caindo aos pedaços, seus vizinhos são péssimos e Beau se entope de remédios pesados, receitados pelo terapeuta.
O que comanda a vida de Beau é o medo: ele tem medo do que acontece do lado de fora da sua casa, ele tem medo do que acontece nos corredores do seu prédio, ele tem medo de se relacionar com outras pessoas e ele tem um medo, ainda que não totalmente perceptível, da própria mãe. O filme tem sua primeira reviravolta quando Beau precisa enfrentar um medo comum a quase todo mundo: a perda da mãe.
A jornada do luto
Um dia, quando ele liga para a mãe, Beau descobre que ela está morta, depois de um lustre cair na sua cabeça. Então ele começa a fazer planos para o enterro da mãe e primeiro ele precisa chegar em sua cidade natal, mas depois de uma crise de ansiedade, Beau é atropelado por Grace (Amy Ryan), e acaba na casa dela sendo tratado pelo marido dela, Roger (Nathan Lane), e maltratado pela filha do casal, Toni (Kylie Rogers).
Depois disso, Beau esbarra em uma série de outros desafios e problemas que atrapalham sua chegada ao enterro de Mona. Um dos pontos interessantes de Beau Tem Medo é o fato de que ele soa, inicialmente, como um filme realista, que retrata esse homem extremamente neurótico, lidando com a morte de sua mãe. Até o atropelamento seguido de uma espécie de cárcere privado a qual Beau é submetido por Grace e Roger, o longa ainda se encaixa dentro da realidade.
O que acontece depois, no entanto, já parece partir para um plano um pouco mais onírico. Quando Beau consegue fugir da casa de seus captores, ele se vê em uma floresta onde encontra uma espécie de vila e a história segue daí, não só com ele analisando o que vê pela frente, como também refletindo sobre sua vida e sua relação com a mãe e lembrando de momentos da sua vida.
Mas a trama vai se tornando cada vez mais absurda, dando abertura para que se interprete o filme de maneiras diferentes: claro que é possível supor que tudo se passa em um plano totalmente realista e que Beau Tem Medo é um filme que flerta com o fantástico, mas também é possível entender que o filme recorre aos sonhos e alucinações – que podem ser derivadas dos remédios que Beau toma – para falar do luto e da jornada pela qual o protagonista passa para aceitar a morte da mãe e aceitar que ele precisa seguir com a sua vida. Outra interpretação que pode ser feita é que Beau precisa passar por essa jornada onde ele enfrenta todos os seus medos para que ele possa finalmente superá-los.
Aspectos técnicos de Beau Tem Medo
É óbvio que esta é uma produção grande, e isso está presente no seu elenco numeroso e com nomes de peso, mas também nas cenas cheias de efeitos que complementam o filme e a ideia do diretor. Beau Tem Medo é um longa que trata sobre vários temas, como a relação problemática entre o protagonista e sua mãe, o medo constante que Beau sente e que, de certa maneira, reflete o medo atual de todas as pessoas que vivem em grandes metrópoles, ou mesmo o luto de Beau, que encara de frente a morte terrível da mãe.
Mas justamente por isso, o filme perde um pouco do seu potencial. A ideia é sim, muito interessante e lembra um pouco Hereditário, o primeiro longa-metragem de Ari Aster, que também fala sobre o luto, mas este aqui parece querer ir mais a fundo no tema e usa do onírico e do fantástico para isso, mas se perde no caminho. Beau Tem Medo é um filme quase hermético, ainda que comece dentro do registro da realidade, ele vai, aos poucos, tomando outros rumos e é claro que existem várias interpretações por trás das cenas, mas os elementos são jogados no filme aos borbotões, e às vezes é até difícil compreender o que vemos na tela de cinema.
Além disso, o filme tem a pretensão de falar de muitos temas e mesmo com as quase 3 horas de duração, não é possível se aprofundar em todos eles. O resultado é que o longa acaba se tornando cansativo com o tempo, dando a impressão de que faltou um trabalho de edição um pouco mais rigoroso.
Por outro lado, Beau Tem Medo tem um clima instigante que mistura o drama, o terror e a comédia, e que se segura durante bastante tempo. Ele também conta com boas atuações, como as de Nathan Lane, Amy Ryan, Kylie Rogers, Patti LuPone – que infelizmente aparece em cena tarde demais – e claro, Joaquin Phoenix, completamente entregue ao papel.
Existem elementos de terror na produção, mas é muito mais interior do que exterior, por isso, o longa é bem diferente dos dois filmes anteriores do diretor e ele não é uma obra para todo mundo, justamente por seu conteúdo e por sua duração. Beau Tem Medo é uma grande produção que parte de boas ideias e de temas de fato assustadores, mas a falta de edição prejudica o filme que parece não saber exatamente para onde vai ou o que exatamente quer contar. O filme chega aos cinemas no dia 20 de abril.