Bloodshot – Vin Diesel pra que te quero
A HQ Bloodshot, publicada pela editora Valiant, surgiu em 1992. Era uma época diferente dos quadrinhos, na qual tudo vendia razoavelmente bem, e não era preciso muita criatividade para emplacar um herói musculoso. Mesmo assim, a revista foi bem avaliada – o suficiente para a adaptação cinematográfica parecer ter demorado a surgir.
O filme, que estreia hoje nos cinemas brasileiros, também é aquele típico longa de ação, talvez com uma ou duas reviravoltas a mais, porém entrega exatamente aquilo que promete.
Bloodshot – O de sempre no papel de roteiro
O roteiro é até competente ao que se propõe. É uma pena que o twist mais legal da história tenha sido entregue no trailer – e só por isso vai ser comentado aqui também: o herói é um soldado que foi assassinado, trazido de volta à vida por uma gigante empresa multinacional onde trabalham aproximadamente seis funcionários e tem suas memórias manipuladas para servir de arma para sabe-se lá quem.
É claro que é mais legal assistir ao filme sem saber disso, mas o argumento é interessante o suficiente para conectar as cenas de ação, que claramente são o principal atrativo ao público alvo do filme. Os diálogos são tão canastrões que até parecem propositais. O filme também é outro que segue a tendência de Deadpool e faz meta-piada consigo mesmo; uma ferramenta que os roteiristas estão abusando para justificar a própria incompetência em fugir dos clichês. Fica a impressão que faltaram umas duas revisões de roteiro.
Guy Pearce no papel de Guy Pearce
Oras, mas quem melhor entenderia de manipulação de memórias do que Guy Pearce? O protagonista de Amnésia é o dono da empresa de nanotecnologia (a desculpa atualizada para os poderes do herói). Mesmo cheio de clichês, desde colocar os escritórios no último andar de um prédio até contratar um indiano pra ser o menino da TI, não se pode dizer que o RH não seja inclusivo, como fica demonstrado pelas contratações excepcionais de um aleijado e um cegueta para serem “guarda-costas”.
Mas o filme nem perde muito tempo em personagens secundários ou até mesmo terciários, já que o público que vai ver um filme com Vin Diesel no pôster tá lá mesmo pra ver o Vin Diesel.
Vin Diesel no papel de Vin Diesel
Vin Diesel é uma das figuras mais emblemáticas do cinema atualmente. Não só por ter sido um dos precursores da safra de carecas marombados em filme de ação que tomou conta das produções Hollywoodianas da última década, mas por ser realmente emblemático, quase uma caricatura de si mesmo.
Em Bloodshot, Vin Diesel está muito Vin Diesel, atuando com a carga emocional de uma poltrona reclinável. Ele aproveita o fato de ser um dos poucos atores de Hollywood a ter o próprio uniforme e aparece inclusive vestido de Vin Diesel, com sua típica regata branca e óculos aviador, roupas que provavelmente vieram do armário pessoal de sua mansão.
Pra quem gosta do ator e já re-assistiu todos os Velozes e Furiosos este ano, este filme é um bom aquecimento enquanto aguardamos F9. É também a coisa mais “Vin Diesel” produzida desde aquele quadro do falecido programa Pânico no qual levaram dois sósias do Vin Diesel para entrevistar o Vin Diesel e colocaram um para entrevistar o outro.
Boneco 3D no papel de cena de ação
Só é uma pena que as cenas de ação deixem um pouco a desejar. Em sua maioria são confusas, com cortes muito rápidos. A melhor sequência de luta abusa tanto do uso de bonecos 3D no lugar dos atores que dá quase pra achar que estamos vendo um cutscene de videogame. E olha que uma versão 3D do Vin Diesel nem parece tão difícil de renderizar.
No final, me soa até difícil avaliar o filme. Definitivamente não é um filme bom, mas está longe de ser um desastre. Entre suas vantagens está a de saber exatamente o que é e não tentar se vender como uma grande história de ação: como blockbuster é fraquíssimo, mas como filme B é ótimo.
Dá pra se meter na metade do caminho e ficar por aí mesmo.