Boneca Russa – 2ª temporada
Depois de três anos da estreia dessa fenomenal e curiosa série sobre looping temporal, agora a grande e inventiva Natasha Lyonne retorna com uma nova proposta, talvez para sair da mesmice e não repetir o discurso, ou então usando o meio como desculpa para explorar outras questões existencialistas e metafísicas que lhe acometem, já que claramente essa é uma produção com viés forte de autoconhecimento e redenção para a atriz, que escreve a obra e também dirige alguns episódios.
Usando viagens ao passado (como se a consciência dela fosse para a do corpo da mãe, da avó etc), a Nadia de Lyonne continua sendo o principal motivo para o público continuar nessa loucura, que é uma loucura bem-vinda sim, mas sua protagonista já ingressou marcante na cultura pop, com sua voz rouca cheia de palavrões e trejeitos singulares, que o tempo todo me fazem considerá-la uma versão norte-americana da Dercy Gonçalves.
São seus traumas do passado, os lances mal resolvidos com a mãe e outros pontos, que ela passa a compreender a pegar um metrô que a leva para os anos 1980 (e depois para outros períodos e lugares), quase numa espécie de constelação familiar, onde ela resgata o passado para compreender seu lugar no mundo. E também entender, de uma vez por todas, que não tem como mudar o que já foi, mas fazer o que der com o que tem agora.
Boneca Russa – 2ª temporada
E é a maneira como isso é mostrado e executado em tela que consagra o charme de Boneca Russa – 2ª temporada. É claro que ao abrir mão do looping temporal, que a princípio era o tema da série, soa estranho, com uma continuação de fato desnecessária. O segmento envolvendo tesouros e nazistas é arrastado e não agrega nada, assim como os passos do Alan de Charlie Barnett, que se no ano anterior agregava pouco, mas dava sentido à parceria, aqui tem pouco a fazer, a não ser encher linguiça. Por outro lado, precisamos aplaudir a ambientação e figurino, muito acima da média para uma produção que não tem viés histórico e, ao fazer uso dele no miolo, acaba entregando mais do que muita série desse gênero.
As respostas não importam por aqui e nem o público é instigado a procurar por elas, vide o desfecho da primeira temporada, que deixava claro que o que vale é a aceitação da condição e a melhoria a partir daquilo. Sendo um purgatório ou o mundo afetado pelo tempo na perspectiva de Nadia (as cenas com o bebê estão entre os melhores momentos), Boneca Russa consegue mais uma vez ter algo dizer sobre a vida. E se você sobreviveu da primeira vez, vale passar pela experiência de novo.
https://www.youtube.com/watch?v=poWAIW1jmlc&ab_channel=NetflixBrasil