Bonequinha de Luxo, de Truman Capote
O livro que criou um ícone
Na Nova York dos anos 1940, um escritor recém-chegado à cidade fica amigo de Holly Golightly, sua vizinha, e mergulha na vida dela. Holly veio do interior e vive do dinheiro dos homens ricos que ela conhece e que, eventualmente, se apaixonam por ela.
A criação de Bonequinha de Luxo
Bonequinha de Luxo é obviamente o romance mais famoso de Truman Capote e ele mesmo disse que Holly Golightly era a sua criação favorita. O romance acompanha um jovem escritor que chega a Nova York e fica amigo de Holly, uma mulher divertida e até meio maluquinha, que vive sustentada por homens mais velhos e ricos, que se apaixonam por ela. Capote não a descrevia como uma prostituta ou garota de programa, mas sim como “uma gueixa americana”.
A história do escritor, que também é o narrador do livro e que não tem o nome revelado – Holly o chama de Fred porque diz que ele parece o irmão dela, que se chama Fred -, é muito parecida com a do próprio Capote, que era nascido em Nova Orleans e se mudou para Nova York. Em função disso, uma série de mulheres que foram amigas dele diziam ser a inspiração por trás de Holly Golightly.
Entre as mulheres citadas como a inspiração para a personagem estão Gloria Vanderbilt, Oona O’Neill, Carol Grace, Maeve Brennan, Doris Lilly, Dorian Leigh, Suzy Parker, Marguerite Littman e até Marilyn Monroe, que Capote queria no papel de Holly no filme de 1961. O mais provável, no entanto, é que Capote, como vários escritores, tenham se inspirado em várias pessoas e em várias situações.
O autor disse, mais tarde, que muito da personalidade de Holly foi inspirada na personalidade de Sally Bowles, personagem do livro Adeus a Berlim, de Christopher Isherwood, e que depois foi adaptado para o musical Cabaret e para o filme de mesmo nome. A história de Holly também é muito parecida com a da mãe do autor, Nina Capote: as duas nasceram no interior e se mudaram para Nova York, mudaram de nome nesse processo e eram sustentadas por homens ricos ou poderosos, o que lhes permitiu alguma ascendência social.
Retrato realista
É inegável que o filme inspirado em Bonequinha de Luxo ganhou mais notoriedade que o livro, mas a obra original tenta dar uma visão um pouco mais realista da vida de Holly e, automaticamente, da vida em geral.
O longa flerta com a comédia e o romance, mas o livro não tem nada disso, embora tenha um humor ácido e algumas vezes mostre Holly de uma maneira tão absurda, que de fato se torna divertida. No livro, não existe qualquer relacionamento amoroso entre o narrador e Holly, eles são amigos e ele apenas observa a vida dela.
O livro também se passa nos anos 1940, mas o filme se passa nos anos 1960, talvez para aproximar o longa da época em que ele foi gravado. Além disso, o filme corta alguns personagens e cenas. A maior mudança, na realidade, é a aparência de Holly, que no livro é descrita como sendo loira. Capote queria Marilyn Monroe no papel de protagonista, mas em função do seu contrato com outro estúdio, a moça não pôde participar. Audrey Hepburn, que deu vida a Holly e que se imortalizou no papel, queria interpretar uma personagem diferente, que não estivesse dentro do arquétipo de boa moça ou de princesa, papéis para os quais ela normalmente era escalada, e achava que o papel de uma acompanhante era uma boa opção.
Adaptações
Nem é preciso falar sobre a principal adaptação de Bonequinha de Luxo, já que ela é muito famosa e elevou Holly Golightly e a atriz que a interpretou ao status de ícones, aliás, é quase impossível desassociar a imagem de Holly de Hepburn. O filme de 1961, de fato, muda vários aspectos do livro de Capote e romantiza um pouco a trama da protagonista, mas ele é um filme importante inclusive dentro do cenário da moda. Bonequinha de Luxo foi responsável por popularizar o termo “pretinho básico”, isso porque no longa, Holly repete uma série de vestidos pretos, o que é incomum para figurinos de filme, mas altera seus acessórios, deixando claro que um vestido preto pode ser usado em ocasiões diferentes e de maneiras diferentes.
Mas Bonequinha de Luxo também ganhou uma versão musical, em 1966, que foi muito criticada e só teve quatro apresentações. Uma série chamada Holly Golightly começou a ser desenvolvida em 1969, mas também não foi para frente.
A versão para teatro teve mais sucesso e Bonequinha de Luxo já teve duas montagens, uma em 2009, em Londres, estrelada por Anna Friel e Joseph Cross, e outra em 2013, na Broadway, estrelada por Emilia Clarke e Cory Michael Smith.
Bonequinha de Luxo tem, sem dúvida, uma trama muito famosa, mas a obra original tem mais elementos e um tom irônico que retrata um pouco melhor a dureza da vida de sua protagonista, sem tanto glamour como o cinema fez.