BrainDead, uma sátira da política americana
BrainDead traz a história de Laurel Healy (Mary Elizabeth Winstead), uma documentarista que precisa de dinheiro para terminar seu último filme. Seu pai (Zach Grenier) propõe que ela trabalhe no escritório de seu irmão, Luke (Danny Pino), um senador democrata, em troca do dinheiro, e Laurel aceita.
Quando começa a trabalhar, Laurel percebe que algumas pessoas vem agindo de maneira cada vez mais radical, não importa em que espectro político se enquadrem. Até que ela descobre uma grande conspiração, onde aliens em formato de insetos invadem a cabeça das pessoas e afetam seu cérebro.
BrainDead – Política e ficção científica
A sinopse de BrainDead soa absurda para dizer o mínimo, já que mistura política americana com alienígenas, mas de alguma maneira a trama funciona, já que trabalha muito mais no gênero da sátira, começando com uma trama realista.
Laurel provem de uma família que esteve envolvida com política, mas que não tenho nenhum interesse em seguir esse caminho. Ela estudou cinema e está interessada em produzir documentários sobre músicas típicas, o que basicamente quer dizer que ela é a artista da família. Para o seu pai Dean, que foi político, e para o seu irmão, Luke, que é um senador democrata, as aspirações de Laurel parecem bobas e sem qualquer sentido.
Laurel acaba trabalhando no gabinete do irmão com a condição de que seu pai lhe dê o dinheiro que ela precisa para terminar seu último documentário. Mas quando chega lá, ela descobre uma conspiração muito maluca, mas que vai fazendo muito sentido dentro da trama conforme vamos assistindo a série.
É a partir daí que a série consegue falar com todos os públicos e não só com os americanos, afinal, existem várias séries que falam sobre política americana e que fazem muito mais sentido para quem é americano – ou para quem estudou e compreende a política americana – mas a partir do momento em que BrainDead encaixa aliens na sua trama, ela deixa de ser tanto sobre política e começa a falar muito mais sobre a radicalização política.
Democratas e republicanos
A política americana não é clara para boa parte dos brasileiros, isso porque é muito diferente da nossa. Nos Estados Unidos existem basicamente dois partidos: o Democrata e o Republicano. O partido democrata é mais progressista e apoia, entre outras coisas, o casamento homossexual, a migração, a legalização das drogas e o controle de armas. O republicano é conservador e é contrário a boa parte dessas coisas. Para fazer uma comparação bem pobre, uma vez que é impossível comparar a política brasileira e a americana, aqui no Brasil, os democratas seriam um partido de centro esquerda, enquanto os republicanos seriam um partido de direita.
Uma vez que só existem basicamente dois partidos, que parecem quase totalmente opostos e que a população americana parece se dividir basicamente entre republicanos e democratas, a política americana parece muito mais acirrada do que a política brasileira e BrainDead usa disso.
Ou democratas vs. republicanos
Laurel vem de uma família de democratas e também se identifica nesse espectro político, ela é inclusive, muito mais progressista do que seu irmão, que em alguns momentos, quase soa como um dos personagens republicanos da série. Isso porque Laurel é retratada como uma artista que se encaixa em todos os estereótipos de artistas no audiovisual. Quando ela começa a trabalhar no gabinete de Luke, ela conhece políticos democratas que parecem ter ideias atrasadas perto das suas.
Ela também conhece o principal adversário de seu irmão, o senador republicano Red Wheatus (Tony Shalhoub), que tem ideias absurdas e que é retratado como ligeiramente estúpido; e seu assistente Gareth Ritter (Aaron Tveit). Existem cisões entre Laurel e Luke e Red e Gareth desde o princípio, mas as coisas começam a ficar mais acirradas com o tempo.
Logo Laurel descobre que existem aliens entrando na cabeça das pessoas e tirando pedaços dos cérebros delas, o que faz com que elas fiquem cada vez mais radicais, não importa que elas sejam democratas ou republicanas. Então, Red, que antes já tinha ideias extremamente retrógradas, aparece um dia no trabalho com ideias que beiram ao fascismo descarado. Já Ella Pollack (Jan Maxwell), uma senadora democrata, surge com ideias ainda mais progressistas, o que naturalmente causa ainda mais ruptura entre os dois partidos.
Laurel e Gareth
O auge dessa radicalização se dá quando Laurel percebe que está se apaixonando por Gareth mesmo que eles tenham ideias completamente diferentes. Tudo bem, embora Laurel seja uma democrata bem próxima do radicalismo, Gareth é um republicano mais moderado, que não é retratado como os outros personagens do partido. Ele, por exemplo, parece se preocupar com os programas do governo para as crianças autistas, mas a série se preocupa em justificar que a preocupação tem fundos egoístas, uma vez que a irmã de Gareth é autista.
Não é surpresa para ninguém quando Gareth também demonstra estar interessado em Laurel. Os dois parecem funcionar bem, mesmo que discordem em muitos aspectos e a série tem boas piadas em relação a isso. Em determinado momento, por exemplo, ela diz que não quer ter filhos e ele diz que quer ter “a quantidade normal: seis”.
A relação de Laurel e Gareth é uma ótima forma de exemplificar o radicalismo que parece ter varrido o mundo todo nos últimos anos, mesmo que Gareth nem seja um personagem tão radical assim, já que as cenas em que os dois estão juntos parecem, em muitos momentos, uma grande discussão entre duas pessoas opostas, como as que vemos o tempo todo em redes sociais.
BrainDead também questiona se esse radicalismo é saudável, já que Laurel e Gareth parecem genuinamente gostar um do outro, mas vivem presos nessa briga de ideais e ideias.
A realidade
BrainDead parte de um universo real e extremamente realista para apresentar uma trama fantasiosa, mas fica claro que a ideia é falar sobre o mundo real. Na série, aliens entram na cabeça das pessoas as deixando muito mais radicais, mas é fácil relacionar isso com a eleição americana de 2016, que foi extremamente dividida.
Esta parece ser uma tentativa entender o que aconteceu naquele ano, afinal, é muito mais fácil acreditar em uma explicação fantasiosa e surreal para uma divisão mundial tão grande quanto a que o mundo vem assistindo, do que tentar explicar tudo isso através de argumentos racionais.
Nesse aspecto, embora a série tenha questões tipicamente americanas e que fazem muito mais sentido para o povo americano, também faz muito sentido para o público brasileiro, que em 2018 também viveu uma eleição presidencial extremamente dividida e acirrada e com toques de radicalismo altíssimos. A trama de BrainDead poderia facilmente se enquadrar na política brasileira, que já parece surreal e fantasiosa por si só.
Aspectos técnicos de BrainDead
BrainDead usa de uma técnica clássica das obras fantasiosas. Ela apresenta um cenário que é completamente realista com toques de fantasia ou sobrenatural. A série se passa no congresso americano e como ela começa de maneira extremamente próxima da realidade, o público acredita nos elementos fantásticos que são inseridos com o tempo.
Também existe uma ótima sacada ao tentar explicar o que mudou na cabeça das pessoas de um tempo para cá e o que fez com que boa parte do mundo se tornasse extremamente radical, não importa em que espectro político a pessoa se encaixe. A série faz piada com democratas e republicanos, mas fica mais do que claro que ela parte de um ponto de vista democrata, primeiro porque a protagonista é uma democrata e segundo porque a maioria dos personagens que são republicanos soam completamente absurdos desde o começo, mesmo antes de terem seu cérebro modificado. O único personagem republicano que é poupado desse retrato é Gareth.
Você entende de política?
A grande questão é que a série é obviamente voltada para o público americano e faz muito mais sentido para eles. É preciso entender um pouco da política do país para acompanhar a série mas, mesmo assim, algumas piadas e questões se perdem no meio do caminho. No entanto, quando se passa por cima dessa questão, BrainDead é uma série que fala sobre política de maneira divertida e que pode fazer sentido para qualquer pessoa que tenha presenciado momentos de radicalismo extremo.
O que ajuda o telespectador nesse quesito é que entramos na trama a partir dos olhos de Laurel. Ela não gosta de política e parece entender conceitos muito básicos do assunto. Assim, vamos aprendendo junto com ela.
Outro grande mérito da série é que ela é irônica, trabalha no gênero da sátira, e faz piada de tudo. BrainDead faz críticas duras ao governo americano, aos republicanos, aos democratas e ao radicalismo, mas elas não soam ofensivas, porque são irônicas. E embora fale diretamente sobre política, não tem cara de série política. Todos os episódios, por exemplo, começam com uma música que conta tudo que aconteceu no episódio interior, mais uma vez de maneira irônica. Isso não teria sentido em uma série sobre política americana mais tradicional.
O elenco
O elenco é bem escalado também. Mary Elizabeth Winstead se sai muito bem e interpreta uma personagem por quem você torce, mesmo em seus momentos menos lisonjeiros. Já Tony Shalhoub entrega uma atuação que é ao mesmo tempo, cômica e assustadora. Seu personagem já parece louco mesmo antes de perder um pedaço do seu cérebro e, de alguma maneira, ele é extremamente real.
Aaron Tveit interpreta um mocinho meio contrário, que embora tenha ideias completamente diferentes da protagonista, é charmoso e vai conquistando a audiência aos poucos. A química entre Winstead e Tveit também ajuda muito. Fica claro que os dois são muito diferentes, mas é impossível não torcer pelo casal.
BrainDead usa de elementos fantasiosos para explicar situações do mundo real e faz isso através do humor e da sátira, o que é sua grande força.
qual o verdadeiro partido da atriz?