Carnival Row – 1ª temporada, fantasia urbana vitoriana

Série envolve mistério e rica mitologia com qualidade literária

Imagine uma Londres no final do século 19, mas habitada por fadas, faunos e outras criaturas do folclore europeu. Estes precisam conviver com humanos, em uma história que trata de segregação racial, xenofobia e burguesia, sem militância. Além disso, atrela os elementos de maneira orgânica, enquanto desenvolve um enredo bastante criativo, com muito sexo, violência crua e politicagem nada gratuitas, tudo embalado por uma belíssima direção de arte, figurino e fotografia. Isso é Carnival Row.

O protagonista Rycroft Philostrate é um sargento que já lutou na guerra entre O Pacto (uma espécie de colonizadores cristãos) e o mundo dos Fae (que abarca fadas, faunos etc), num segmento que era aliado às criaturas fantásticas, que logo depois foram massacradas pelos humanos. Os sobreviventes imigraram para Burgo, a principal capital deste reino, que reservou um bairro para esses seres, a tal Carnival Row do título. Ali, no tempo presente da narrativa, uma série de assassinatos vem ocorrendo. E sim, tem relações não somente com um Jack, como também com um tipo de monstro golem, com aparência lovecraftiana.

No outro lado, vemos os horrores da guerra e então da adaptação em um novo mundo, pelo ponto de vista da fada Vignette Stonemoss, que ainda se envolve com o submundo das fae para encontrar um propósito em sua jornada. Mas nada que a justifique como co-protagonista, pois tem pouco a fazer na trama além de servir como gatilho para outras figuras.

Carnival Row

Carnival Row

Mais interessante é a relação entre a dama Imogen Spurnrose e seu novo e improvável vizinho, o riquíssimo Agreus… um fauno. Em um típico romance de costumes, o rico texto apresenta uma versão autêntica de A Bela e a Fera, a medida que uma complexa tramoia política se desenvolve no meio da família do chanceler, com o fanatismo profético em que a esposa acredita e as obrigações que o filho precisa realizar se quiser ascender, mas nem tudo é o que parece.

Ainda temos um homem que sabe muito sobre o mundo e atualmente trabalha num teatro de rua com seus ajudantes kobolds; uma seita de faunos que pretende cometer uma revolução na capital; o prostíbulo das fadas; a burguesia humana etc. Tudo no roteiro é desenvolvido de maneira cadenciada e, mesmo com a revelação óbvia do desfecho, não deixa pontas soltas. Isso evidencia o trabalho minucioso de narrativa e de tratamento de personagens.

Elenco

René Echevarria (autor de The 4400, Medium, Dark Angel e alguns Star Trek) e Travis Beacham (co-criador de Pacific Rim, ao lado de Del Toro) criaram essa série de 8 episódios com uma hora cada para a Amazon, trazendo um rico elenco no pacote, com Orlando Bloom e Cara Delevingne nos papéis principais (dois atores desprovidos de talento, que aqui encontram o auge de suas carreiras).

Carnival Row

Assim, estão acompanhados do sempre impressionante Jared Harris (você o viu recentemente em Chernobyl), David Gyasi, Indira Varma, Simon McBurney, Tamzin Merchant, entre outros, que contribuem para os núcleos diversos pertencentes a uma narrativa fragmentada (ainda que coligada), mostrando essa realidade de fantasia urbana vitoriana, que muito bem poderia ter saído de uma saga de livros do gênero, mas é legitimamente pensada para o audiovisual (ainda que eu aposte que ela poderia também crescer em outras mídias, tranquilamente).

Com rica mitologia e construção de mundo, com personagens realmente interessantes e subtramas que funcionam do começo ao fim, Carnival Row deixa na temporada de estreia uma ótima primeira impressão.

Carnival Row - 1ª temporada

Nome Original: Carnival Row
Elenco: Orlando Bloom, Cara Delevingne, Simon McBurney
Gênero: Crime, Drama, Fantasia
Produtora: Amazon Studios
Disponível: Amazon Prime Video

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