Close
Indicado ao Oscar de melhor filme internacional
Léo (Eden Dambrine) e Remi (Gustav De Waele) têm 13 anos e são amigos inseparáveis desde pequenos. A relação dos meninos é muito próxima, e eles se definem como irmãos. A mãe de Remi, Sophie (Émilie Dequenne) até considera Leo como seu filho.
Quando eles entram em uma nova escola, o comportamento dos dois chama a atenção dos colegas, que chegam a perguntar se eles “estão juntos”. Léo diz que não, e Remi não fala nada, mas o primeiro fica muito incomodado sequer com a possibilidade de que outras pessoas pensem que ele e Remi têm algum tipo de relacionamento romântico.
Léo se afasta de Remi e Remi fica cada vez mais triste, até que a situação toma caminhos terríveis.
A relação dos meninos
Close é centrado em dois pré-adolescentes, Léo e Remi. Os dois meninos são muito próximos, passam boa parte do tempo juntos, dormem na mesma cama, se tocam e se abraçam com frequência, dividem segredos e vivem na casa um do outro. A princípio, de fato parece que os dois têm uma relação romântica, ainda que muito inocente, ou que ele se gostam, mas ainda não assumiram ou aceitaram isso, no entanto, não existe nenhuma relação para além da amizade entre Léo e Remi. Os dois realmente se comportam como irmãos.
É interessante como esse relacionamento é representado no filme, já que a plateia tem essa tendência a ver uma possibilidade de romance entre os meninos, porque não estamos acostumados a ver esse tipo de relação entre dois homens, muito menos entre dois meninos prestes a entrar na adolescência. A audiência vê a relação dos meninos como os novos colegas de escola veem, mas nem Léo, nem Remi e nem os pais dos meninos têm essa visão.
O problema que o diretor, Lukas Dhont, quer retratar não está presente só dentro do longa, mas também aqui fora.
Machismo e masculinidade tóxica
Ainda que a história de Close pareça simples e dê a sensação de que ela vai pender para uma história de primeiro amor, o filme não é nada disso. Close tem como intenção falar de questões um pouco mais profundas, como o machismo, a masculinidade tóxica e em menor medida, a homofobia.
O longa acompanha dois amigos que são muito próximos, tão próximos que parece que eles são um casal, mas a questão é que só achamos que eles parecem um casal porque não estamos acostumados com uma relação tão sensível e tão bonita entre dois garotos e os personagens do filme também não estão. A partir do momento que os novos colegas de escola de Léo e Remi começam a pensar que os dois são um casal, Léo fica visivelmente incomodado.
Ele se afasta do amigo pouco a pouco, primeiro em público, evitando toques e conversas mais íntimas e depois, em particular, mudando a relação dos dois completamente. Com medo de ser visto como gay ou feminino, Léo começa a fazer aula de hóquei no gelo, um esporte violento e que é considerado “masculino”. Remi, que é mais tímido, parece não se incomodar com o que pensam dele e de Léo, mas fica muito triste com o gelo que leva do melhor amigo.
Close fala sobre masculinidade tóxica e machismo, porque dois meninos que são apenas amigos chamam a atenção de maneira negativa só porque eles têm uma relação delicada e muito bonita, uma relação que se fosse entre duas meninas não seria considerada tão estranha, afinal, acredita-se que meninos não devem mostrar sentimento e nem afeição. O filme também fala sobre homofobia, já que o que causa a mudança de comportamento de Léo e tudo que se dá depois no longa é o medo do menino de ser considerado gay.
Mas Close é, na realidade, um filme sobre preconceitos e sobre a destruição que esses preconceitos podem causar.
Aspectos técnicos de Close
O roteiro é, em alguns aspectos, bem simples, o que acompanhamos aqui é praticamente o dia a dia desses dois meninos e, claro, a relação bonita e delicada deles, mas o mais importante do longa está nas entrelinhas. Nada é dito de maneira explícita, mas o telespectador compreende tudo o que está sendo mostrado.
Close é cheio de paisagens lindas que combinam com a amizade inocente e sem segundas intenções de Léo e Remi. O filme, na verdade, mostra como o preconceito destrói essa amizade, é como se os outros corrompessem um sentimento que, até aquele momento, era puro. As consequências são devastadoras. Também existe um cuidado com o figurino, pois Léo, que é mais confiante e que faz amizades com mais facilidade, usa sempre roupas claras, enquanto Remi, que é tímido, mais fechado e é um personagem que nunca conseguimos acessar totalmente – Léo parece ser o único que conhece Remi completamente -, está sempre com roupas em tons escuros. Os meninos são opostos e, por isso, suas reações são bem diferentes.
Outro ponto alto do longa é o elenco, todos os atores se saem muito bem, especialmente na transição dos momentos leves para os momentos mais pesados, mas os dois protagonistas Eden Dambrine e Gustav De Waele são incríveis e nem parecem pré-adolescentes em cena, as atuações são muito competentes, é impossível não se emocionar.
Close é um filme bonito, mas também triste, que fala sobre amizade e crescimento, mas também sobre ações e sentimentos que corroem até as relações mais ricas e puras de todas. O filme chega aos cinemas no dia 2 de março.