Conan: A Lenda e a Invencível Red Sonja
Essa HQ ficou por conta da renomada roteirista Gail Simone, em parceria com Jim Zub, que elaboram através da “raiz de sangue” uma premissa que se desenvolve ao longo de 4 edições, reunidas aqui pela Mythos HQs, em mais um crossover entre Dark Horse Comics e Dynamite, com os dois ícones da Hera Hiboriana concebidos por Robert E. Howard.
Na primeira parte, que traz o estiloso e dinâmico traço de Dan Panosian (embalado na certeira arte-final de Rick Ketcham, com a primorosa colorização do grande Dave Stewart), tanto Conan quanto Sonja são contratados por um mesmo mandante a roubar tal elemento provindo da natureza, enquanto se veem metidos com o Reino de Koth. Na segunda parte, eles se reencontram seis anos depois, com a mercenária tendo recém-escapado de uma arena mortal com uma irmã de armas, enquanto Conan agora é um pirata, envolvido com a famosa figura de Bêlit, a Rainha da Costa Negra e o primeiro embate do quarteto com a real entidade por trás de tudo, o clássico Thoth-Amon. A terceira e quarta parte se recheiam com mais ação, passando anos no futuro com um cimério mais lutoso e uma Sonja um pouco mais dócil, que mostrará tanto um provável envolvimento de ambos, quanto um inevitável embate em nome da sobrevivência de seus reinos, a medida que o flerte lovecraftiano é retomado de maneira curiosa, que amarra todas as pontas, ainda que forneça um desfecho pro vilão que soa mais como liberdade poética e que dificilmente se encaixaria dentro da cronologia.
As duas partes finais são desenhadas por Randy Green, que apesar de deixar os cenários mais suntuosos e caprichar nos monstros, é incapaz de fazer de Conan o colosso de bronze que ele merece, esboçando um reles homem abatido, algo bastante incoerente com a cria de Howard. Mas é no roteiro de Gail e Zub que algumas inconstâncias são identificadas, como um jovem e fanfarrão cimério, cheio de frases espertinhas e gentil até demais — talvez para dar contraste com uma fria e séria Sonja. Mesmo assim, é difícil de engolir. Por isso, sua versão do Conan pirata se aproxima mais do ícone e funciona melhor, assim como as figurações futuras dos dois guerreiros, mais cansados e que refletem bastante a persona melancólica de seu criador — principalmente Conan, que lamenta seu legado de mortandade (algo aliás bem justificado no desfecho que faz boa amarra com os atos da primeira parte). No fecho, seguem-se os diálogos ótimos e a narração em off extremamente refinados e certeiros do servo do Rei, recurso clássico nas narrativas hiborianas, bem-vindas de volta aqui.
A edição é caprichosa, ainda que eu ache completamente desnecessário o uso de uma capa dura para uma minissérie comum — mesmo que bem divertida — como essa. Continuo sendo da opinião que capas duras servem melhor às graphic novels. Aqui, uma capa cartonada teria calhado melhor. De qualquer maneira, dois destaques merecem ser ressaltados: o uso do mapa da Era Hiboriana ao melhor estilo atlas, produzido e fornecido pelo leitor Vagner Silva, que mesmo que não seja necessário pra compreensão do enredo, enriquece a publicação; e mais 4 das Aventuras de Bob Cano-Duplo, realizadas por Jim e Ruth Keegan, adaptando as cartas que o mestre Howard trocou com colegas ao longo de sua curta vida, com um cotidiano simples, mas rico pelos detalhes — a última tira, em especial, é maravilhosa da maneira mais bizarra possível.
Mais uma vez quadrinistas encontram maneiras de juntar Conan e Sonja em um arco de histórias pra lá de interessante.
Conan: A Lenda
Conan: A Lenda e a Invencível Red Sonja é uma minissérie decente, que respeita o canône dos personagens e fornece uma aventura de espada e feiticeira e horror para todos os fãs do cimério, e até para aqueles que querem descobri-lo através de histórias mais "leves".