A Jovem Rainha

“A Jovem Rainha” é um drama biográfico sobre rainha Cristina da Suécia, nascida em 1681 e cuja história é muito peculiar. Criada desde pequena como um menino, ela se torna rainha aos seis anos, após a morte de seu pai. Avessa aos desejos de sua corte protestante conservadora, Cristina demonstra muito mais interesse nas artes, ciências e filosofias do que na guerra. Seu sonho é acabar com o conflito religioso com os católicos existente há décadas e poder criar um reino onde os artistas e intelectuais seriam mais valorizados que os soldados e políticos. Como se isso não bastasse, Cristina começa a perceber seu crescente interesse por mulheres, especialmente pela belíssima condessa Ebba Sparre, uma de suas damas de companhia, enquanto o seu mentor e Chanceler do reino Axel Oxenstierna a pressiona para se casar com seu filho, Johan.

Grande parte da força de um filme que busca retratar a vida de uma figura histórica reside na potência de suas atuações, especialmente na do ator principal. “A Jovem Rainha” deixa muito a desejar nesse aspecto. Isso se deve, em boa parte, à tola decisão de usar o inglês como língua principal do filme, talvez no intuito de agradar as plateias norte-americanas, historicamente hostis com filmes “legendados”. O tiro saiu pela culatra, já que a atuação endurecida e pouco natural de Malin Buska como a rainha do título se torna ainda pior quando ela abre a boca e solta suas falas de forma rígida e caricata. Em nenhum momento ela passa ao espectador a firmeza de uma rainha, parecendo muito mais uma adolescente emo revoltada contra “o sistema”.

O elenco de apoio não ajuda muito. Sarah Gadon como o interesse amoroso da rainha está no filme apenas para ser bonita e parecer assustada e confusa. Patrick Bauchau, em um dos papéis com maior potencial no longa, entrega um René Descartes que mais parece um guru da autoajuda contemporâneo. A única atuação que chama a atenção positivamente é a do veterano Michael Nyqvist (vilão em franquias tais quais “Missão Impossível” e “John Wick”) como Chanceler, num equilíbrio perfeito de severidade e amorosidade que acaba convencendo.

O roteiro de Michel Marc Bouchard, baseado em uma peça também de sua autoria, escrita originalmente em sueco, deixa muito a desejar com seu formato quadrado e burocrático, além de diálogos comicamente melodramáticos que acabam chamando ainda mais a atenção para a (má) qualidade das performances e da tradução rasteira para o inglês. Burocrática e melodramática também é a direção de Mika Kaurismäki, que faz o filme parecer uma produção feita para TV (e não no sentido HBO da coisa, mas no sentido Lifetime mesmo).

É uma pena que uma figura histórica tão interessante e poderosa tenha sido relegada a um filme medíocre, ainda mais em um momento onde se fazem necessários filmes que tratem de questões de diversidade sexual de forma madura e inspiradora.

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4 Comentários

  1. No primeiro parágrafo já estava pensando em colocar na listinha, mas depois… ladeira abaixo com essas atuações.

  2. No primeiro parágrafo já estava pensando em colocar na listinha, mas depois… ladeira abaixo com essas atuações.

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