DARK – 2ª temporada, suspense e qualidade
A continuação de Dark abraça a ficção científica com força, mantendo o suspense e a qualidade dessa que é uma das melhores séries de ontem, de hoje e de amanhã.
Um ano e meio atrás, a produção alemã da Netflix apresentava o que parecia ser um suspense policial suntuoso de desaparecimento, mostrando a que veio do meio para o final, envolvendo uma maneira inventiva e bem realizada de falar sobre viagem no tempo e suas repercussões. Para a segunda temporada, os criadores Baran bo Odar e Jantje Friese preservaram os elementos responsáveis pelo sucesso do primeiro ano. Ou seja, as relações familiares, a humanidade de seus personagens e o suspense nunca inteiramente esclarecido. Com novos componentes (a expansão da mitologia, outras consequências a respeito da viagem temporal, um novo vilão), e sem perder o equilíbrio. Assim, faz bom uso de seus oito episódios para um emaranhado de subtramas que se enlaçam com o fio principal.
Ou seja, à medida que o enredo progride, agora com um senso de urgência sufocante (uma contagem para o apocalipse, relacionado a usina nuclear), os quatro principais núcleos familiares vão sendo ainda mais desenvolvidos (agora quebrados, após os eventos da temporada anterior). Enquanto isso, a narrativa não-linear conta várias histórias. Saltando um ano em relação ao que foi mostrado antes, então em 1922, em 1955, em 1988, em 2021 e 2054, na verdade está contando apenas uma.
Dark – 2ª temporada
Dessa maneira, o roteiro engenhoso consegue sustentar os mistérios apresentados sem perder a identidade. Alguns esclarecidos durante a temporada, outros ganhando novos contornos. A direção, aliada à direção de arte, fotografia e figurino, trabalha muito bem cada período de tempo. Dá uma identidade para cada época (da distopia pálida futurista, até o aconchegante passado do pós-Primeira Guerra). É claro que para o espectador é interessante revisitar o primeiro ano, através de algum canal no Youtube ou texto de blog que resuma todos os personagens e ocorrências, para que não se perca nesse emaranhado genial que é Dark. Afinal, a série não se preocupa em explicar o que veio antes, seguindo em frente.
A figura misteriosa de Adam, para quem já passou por Mikkel/ Michael na primeira temporada, acaba sendo levemente previsível. Por isso, quando a revelação chega, não surpreende, mas o que vale são os motivos dele existir e ser quem é e porque faz o que faz. Com propósitos que, se não são obscuros, ao menos são intrincados o suficiente para fundamentar uma terceira e última temporada. Chega no ano que vem.
Os personagens
O “vilão” Noah e a “heroína” Claudia são ricamente trabalhados, com backgrounds complexos que exploram melhor cada figura e justificam suas ações. Mostram que nem tudo é o que parece e, que no final das contas, todos são humanos. Portanto não existe um bem nem um mal, apenas lados opostos de uma mesma moeda.
Jonas continua sendo o centro de tudo e responsável (antes ou depois) pelos grandes acontecimentos, com uma figura “profética”. Mas ele não rouba espaço dos demais personagens, incluindo aí sua versão do futuro, seus amigos (e sua paixão, Martha, que tem uma representação fundamental para o todo), Charlotte e Egon (dos anos 50 e dos anos 80). Enquanto isso, muitos outros vão descobrindo sobre a viagem no tempo, a caverna ou a máquina do físico H.G. Tannhaus, da qual existem várias versões, com várias pessoas fora do seu tempo. Por outro lado, Angela e Helge diminuem as aparições. Dão espaço ao detetive Clausen, que não está incluído gratuitamente neste grande e inspirado elenco.
A série, de longe uma das maiores produções contemporâneas, continua usando nomes e termos bíblicos para criar paralelos com a ciência (buracos de minhoca, matéria escura, Bóson de Higgs etc), enquanto segue desenvolvendo sua rica FC com teorias cada vez mais difundidas fora do meio científico, até mesmo chegar na expansão do diálogo, com o conceito de… multiverso. E isso sem nunca abandonar o seu principal trunfo: os personagens, a relação entre eles, crível e humana, com os pequenos segredos e as grandes paixões sendo responsáveis pelo destino do mundo. Afinal, Deus é o tempo e ele não é misericordioso.