Diana: O Musical
Faz comédia com a vida trágica da princesa
O musical acompanha toda a trajetória da princesa Diana (Jeanna de Waal), desde antes de seu casamento com Charles (Roe Hartrampf), até sua morte em 1997.
Diana: O Musical é originalmente um musical pensado para o teatro, que estreou em março de 2019 na Califórnia. Depois disso, o musical pretendia se mudar para a Broadway em março de 2020, mas sua estreia acabou sendo adiada uma série de vezes devido à pandemia de Covid-19.
Então, antes que sequer estreasse no palco, ele foi filmado, seguindo todos os protocolos sanitários e sem plateia, com a intenção de exibi-lo diretamente na Netflix.
A ideia é bem próxima daquela por trás de Hamilton, que também é um musical da Broadway e que recentemente foi filmado e exibido na Disney+. A única diferença aqui é que Diana: O Musical nem chegou a estrear na Broadway, enquanto Hamilton está em cartaz desde 2015.
A história de Diana
O filme tem como intenção retratar a vida da princesa Diana, mas faz um recorte que começa antes do casamento com Charles, quando ela ainda é uma jovem que faz parte da aristocracia britânica. A peça então, mostra como Charles notou Diana e passou a cortejá-la.
A vida da princesa Diana é pública e boa parte das pessoas do mundo sabe muitos detalhes, inclusive questões pessoais e polêmicas e o musical usa e abusa disso. Uma vez que ele não precisa contar a história com completa fidelidade, já que o público já sabe quase tudo sobre ela, a produção resolve ressaltar as polêmicas e indiscrições que acompanham a história de Diana e Charles.
Camilla Parker Bowles (Erin Davie) e seu caso com Charles são uma constante no musical e aqui Diana inclusive enfrenta a amante do marido em uma cena que até é divertida. O filme deixa de fora polêmicas como a gravação onde Charles dizia que gostaria de ser o absorvente interno de Camilla, mas fala abertamente sobre um suposto caso de Diana com James Hewitt (Gareth Keegan), aqui apresentado com uma conotação extremamente sexual, capaz de deixar a plateia ligeiramente envergonhada.
Mas ao mesmo tempo que o filme se preocupa em mostrar os aspectos mais rocambolescos da vida de Diana, ele também se esquece de falar quem a princesa de fato era e qual foi sua história real.
Paródia
Isso acontece porque Diana: O Musical não tem exatamente a intenção de fazer uma homenagem realista a Diana e sim, uma espécie de paródia da sua vida. A ideia é ressaltar o que poderia ser divertido, surreal e absurdo na vida dela e, por isso, o musical se empenha em mostrar vários momentos um tanto quanto vexatórios de maneira engraçada.
Quando Diana, por exemplo, confronta Camilla em uma festa e as duas começam uma discussão acalorada, em forma de música, por Charles, e as pessoas que assistem à cena passam a apostar em quem ganharia a briga, a personagem em cena se afasta completamente da princesa Diana, graciosa e elegante, que conhecemos e que é comumente retratada. Ao contrário disso, podemos dar umas risadas de uma suposta briga entre duas senhoras da nobreza britânica.
É o mesmo que se dá no momento em que Diana conhece James Hewitt, seu suposto amante, e os dois travam um diálogo que parece saído de um romance de banca e que, logo depois, descobrimos que realmente é um diálogo nesse estilo, já que quem narra essa parte do musical é Barbara Cartland (Judy Kaye), madrasta de Diana, que também era uma famosa escritora de romances de banca.
Algumas das cenas são de fato engraçadas – outra são só vexatórias -, mas em diversos momentos o musical soa um pouco de mal gosto, afinal, estamos falando de uma pessoa que existiu, que foi vítima de um acidente trágico há pouco mais de trinta anos e que ainda tem parentes vivos que podem, inclusive, entrar em contato com o material.
Aspectos técnicos de Diana: O Musical
A produção une o útil ao agradável: o sucesso de Hamilton, que também filmou o espetáculo no teatro e disponibilizou para o mundo todo e a chegada da pandemia de Covid- 19, que fechou teatros e cinema. A ideia é interessante porque dá a quem não tem chance de assistir ao musical no teatro, a oportunidade de assisti-lo em casa, o que automaticamente tira a peça do circuito Broadway/West End, mas Diana: O Musical talvez não seja a melhor escolha para esse tipo de venda, já que não é um musical comum ou clássico da Broadway.
A ideia por trás do musical nem parece ser contar a história verdadeira de Diana, o que talvez nem seja necessário mesmo, já que a vida da princesa é de conhecimento geral. O musical se foca mais nas polêmicas e nos aspectos da vida de Diana que poderiam virar cenas engraçadas. A produção não tira sarro só de Diana, como também de outros personagens como Charles, Camilla e até da rainha Elizabeth (Judy Kaye), o que funciona até certa medida, mas causa um pouco de mal-estar quando nos lembrarmos que estamos falando de pessoas reais.
Como a intenção parece ser a de parodiar, as atuações seguem nessa mesma linha, tudo é bem exagerado, até Diana, que era uma mulher discreta, aqui é barulhenta e encrenqueira. Também não existe muita troca de figurino, mesmo porque é uma peça, onde as trocas de roupa são menores mesmo. Isso não atrapalha o resultado geral da trama, uma vez que no teatro, especialmente no teatro musical, já existe uma grande suspensão da realidade.
As músicas
Como acontece com frequência com musicais da Broadway, as músicas aqui foram compostas especialmente para o musical por Joe DiPietro e David Bryan, o tecladista do Bon Jovi. Entre as músicas que fazem parte da trilha sonora estão Underestimated, The Worst Job In England, Whatever Love Means Anyway, As I Love You, Here Comes James Hewitt e Pretty, Pretty Girl.
Seguindo mais ou menos a mesma lógica do musical, que é uma grande paródia, as músicas também são engraçadinhas e muito mais focadas nos momentos divertidos da vida de Diana, como por exemplo a música The Worst Job In England, onde a rainha fala que se Diana se casesse com Charles, ela teria o pior trabalho da Inglaterra.
Os números musicais são típicos de musicais da Broadway, com bastante coreografia e bem-feitos, mas Diana: O Musical tem um problema gravíssimo: ele não tem uma música marcante que deixe a plateia cantarolando depois que o filme termina, todas são esquecíveis, por mais divertidas que sejam.
Diana: O Musical não é um musical tradicional, e talvez não agrade boa parte do público, ele tem pouca informação útil sobre a princesa, mas pode ser um entretimento divertido e despretensioso. O filme está disponível na Netflix.